Almeida Revista e Corrigida

A Bíblia Almeida Revista e Corrigida (ARC) é uma versão da Bíblia em português. Consiste em diversas impressões com algumas poucas variações textuais. Pertence à família de versões da Bíblia Almeida.

A linhagem da Almeida Revista e Corrigida são as edições das sociedades bíblicas britânicas e americana. Em 1840, o capelão anglicano inglês Edward Whiteley coordenou a Almeida edição Revista e Emendada, publicada na cidade do Porto, sendo uma ligeira revisão da edição de 1693. Em 1847, esse texto passaria por outra revisão, designada Revista e Reformada, coordenada por Thomas Boy da Sociedade Bíblica Trinitariana. Em 1875, surge a edição Revista e Correcta, que corrigiu a ortografia e outros erros, revisão liderada pelo português João Nunes Chaves. Em 1894 apareceu a Edição Revista, publicada em Londres.

Em 1898 surgiu a versão Revista e Corrigida, feita em Lisboa. Combina as revisões de 1875 e 1894. Teve participação de revisores brasileiros, mas pouco se sabe sobre essa revisão, quais foram os textos bases e os critérios, como bem nota Herculano Alves. Considerando o ambiente britânico, é possível que tenha tido influências da Revised Version (RV), revisão inglesa da King James Version publicada em 1881 (Novo Testamento) e 1885 (Velho Testamento).

Seria publicada pela primeira vez no Brasil em 1944 pela Imprensa Bíblica Brasileira da Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira (JUERP). A primeira impressão teve tiragem de cerca de 22.000 exemplares. Passou por revisões ortográficas em 1966, 1995 e 2009.

Hoje há três variantes brasileiras. Uma é publicada pela Sociedade Bíblica do Brasil e outra pela editora Geográfica, esta última com copyright da Imprensa Bíblica Brasileira. Outra edição é feita pela Casa Publicadora Paulista. Essas edições são virtualmente idênticas, com notável exceção em 1 João 1 e 1 Coríntios 13. Há ainda a edição da Sociedade Bíblica de Portugal.

A Almeida Revista e Corrigida serviu de base para as versões Almeida Revista e Atualizada (1959), Almeida Revisada de acordo com os Melhores Textos em Hebraico e Grego (1968, 1986), a Almeida Edição Contemporânea (1990), Almeida Corrigida e Fiel (1994), Almeida 21 e Nova Almeida Atualizada. Essas novas versões ganharam seus públicos, mas a Almeida Revista e Corrigida ainda mantém sua audiência, sendo a versão distribuída pela Congregação Cristã no Brasil.

Bibliologia

A Bibliologia é a subdisciplina teológica sistemática que ocupa sobre a natureza e papel da Bíblia como o texto fundamental para a crença e prática cristã. Abrange dimensões multifacetadas dentro do discurso teológico.

Os principais tópicos da bibliologia são os seguintes;

Autoridade: com várias matizes em diversos sistemas teológicos cristãos, a Bíblia é considerada a autoridade suprema, orientando a doutrina e os ensinamentos morais entre os cristãos. Sua origem divina substanciaria seu poder vinculativo na comunidade de fé.

Canonização: discorre sobre o processo de que estabeleceu os livros aceitos do Antigo e do Novo Testamento para fins de culto, doutrina e disciplina.

Clareza: discute a medida a qual os ensinamentos essenciais da Bíblia são claros e acessíveis, permitindo que os crentes compreendam as verdades fundamentais essenciais para a salvação. Em termos específicos, a perspecuidade bíblica discute se é por si só ela seria compreensível sem requisitos especiais ou se seria dependente de pressupostos, iluminação do Espírito Santo, domínio dos contextos históricos, culturais e teológicos, dentre outros fatores.

Infalibilidade: o tópico da infalibilidade discorre acerca do caráter das Escrituras de comunicar sem falha o propósito de salvação divina. É um corolário do tópico da confiabilidade.

Inspiração: A inspiração divina à Bíblia discute os modos com os quais os autores humanos foram guiados pelo Espírito Santo para transmitir a mensagem divina.

Suficiência: no geral, no cristianismo a Bíblia é considerada suficiente para fornecer orientação para todos os assuntos de fé e prática, excluindo doutrinas estranhas. Contudo, diversas tradições teológicas atribuem papéis normativos para a instrução da fé na forma de magistério, tradição, razão, experiência, sem contar fatores da revelação, cultura e culto em moldar a recepção da Bíblia.

Confiabilidade: o tópico da confiabilidade da Bíblia discorre como seus ensinamentos capazes de transmitir a salvação de forma veraz e fidedigna.

Novo Testamento Grego de Lachmann

O Novum Testamentum Graece et Latine de Karl Lachmann (1793-1851) foi uma edição crítica do Novo Testamento,que marcou uma ruptura metodológica com as edições em voga.

Publicada em duas edições, a primeira em 1831 e a segunda em 1842-1850, a obra desse filólogo alemão foi uma tentativa de reconstruir o texto grego do Novo Testamento utilizando manuscritos mais antigos e técnicas rigorosas de análise filológica, especialmente o método genealógico. Esse método, inédito até então, buscava determinar as relações entre os manuscritos e estabelecer o texto mais próximo ao original.

Primeira Edição (1831)

Em 1831, Lachmann lançou sua primeira edição crítica do Novo Testamento grego. A edição de Lachmann foi criticada por se basear em um número limitado de manuscritos, uma vez que os recursos disponíveis à época não permitiam o acesso a uma grande variedade de fontes textuais. Apesar das críticas, essa primeira edição lançou as bases para a abordagem filológica que seria consolidada em sua edição subsequente.

A Segunda Edição (1842-1850) e a Vulgata Latina

A segunda edição do Novum Testamentum Graece et Latine, publicada em dois volumes entre 1842 e 1850, ampliou a base de manuscritos latinos e gregos utilizados, incluindo, além do Codex Alexandrinus, o Codex Vaticanus e o Codex Ephraemi Rescriptus. Essa edição também apresentou o Novo Testamento grego lado a lado com a Vulgata Latina. Ao fazer essa comparação, Lachmann destacava as limitações da Vulgata e sugeria uma reconstrução mais precisa do texto grego original. Tal abordagem implicitamente desafiava a autoridade da Vulgata.

Método Genealógico e o rompimento com o Textus Receptus

Lachmann empregou o método genealógico. Anteriormente, aplicou este método na manuscritologia germânica e dos clássicos gregos e romanos. O método procurava entender as “linhagens” dos manuscritos, criando um stemma ou árvore genealógica para mapear as relações entre as diversas cópias e identificar o texto mais próximo do original. Diante disso, Lachmann abandonou o textus receptus do Novo Testamento, que se baseava em manuscritos tardios, e priorizou as versões mais antigas, datadas do século IV e anteriores, confiando que essas preservavam uma transmissão textual mais fiel. Essa abordagem fundamentou-se em evidências limitadas, mas foi um avanço significativo em relação à prática editorial puramente subjetiva da época.

Através de seu trabalho, Lachmann procurou identificar e eliminar as interpolações e emendas inseridas ao longo dos séculos, respeitando o conteúdo original ao invés de favorecer conjecturas estilísticas. Para ele, uma edição crítica deveria distinguir as leituras originadas na tradição manuscrita das conjecturas de editores ou críticos anteriores. Essa prática meticulosa e conservadora, que preferia a “leitura do arquétipo” ao invés de intervenções conjecturais, refletia uma tentativa de manter o texto o mais próximo possível do original.

Impacto e limitações

O Novum Testamentum Graece et Latine de Lachmann exerceu um impacto duradouro na crítica textual do Novo Testamento, influenciando gerações subsequentes de estudiosos:

  1. Início das Edições Críticas Modernas: Lachmann iniciou uma nova fase na crítica textual, orientando-se por uma ampla análise manuscrita e influenciando edições críticas posteriores, como as de Tischendorf, Westcott e Hort, e Nestle-Aland, que permanecem influentes até hoje.
  2. Desenvolvimento do Método Genealógico: Sua aplicação do método genealógico, apesar de rudimentar para os padrões modernos, lançou as bases para o desenvolvimento de técnicas avançadas na reconstrução de textos antigos.
  3. Contribuição para a Filologia Reconstrutiva: O rigor de Lachmann em distinguir as leituras manuscritas originais de conjecturas contribuiu para uma abordagem mais objetiva na reconstrução de textos antigos, sendo considerado um pioneiro na filologia reconstrutiva.

Apesar de seu valor inovador, a edição de Lachmann apresentava limitações que foram, ao longo dos anos, supridas pela crítica textual moderna:

  • Seleção Limitada de Manuscritos: A dependência de um número restrito de manuscritos resultou em uma reconstrução textual que, embora precisa, não se beneficiava da amplitude de evidências disponíveis nos séculos seguintes.
  • Foco em Manuscritos Antigos: Lachmann priorizou textos do século IV, o que, embora metodologicamente coerente, limitou a inclusão de variantes preservadas em manuscritos posteriores que também poderiam refletir tradições autênticas.

Versões italianas

As versões italianas da Bíblia têm uma história longa e variada.

No início do século XIII, Giacomo da Viraggio, arcebispo de Gênova, teria feito uma das primeiras traduções da Bíblia para o italiano. Essas e outras primeiras traduções eram geralmente traduções livres de livros individuais, muitas vezes contendo notas e quase sempre anônimas. Dessa época apareceu a versão dominicano Domenico Cavalca do livro de Atos. Todas elas foram baseadas na Vulgata.

A primeira Bíblia italiana impressa foi a de Nicolo di Malermi, um monge beneditino veneziano. Foi publicada em Veneza em 1º de agosto de 1471, chamada de Bibbia d’Agosto, baseada na Vulgata. No mesmo ano, outra Bíblia vernacular foi lançada, com base nos textos do século XIII da tradição toscana. Esta edição foi apelidada de Bibbia Jensoniana ou Bibbia d’Ottobre.

Em 1530, Bruccioli publicou sua tradução do Novo Testamento. Mais tarde, em 1532, veio a edição de toda a Bíblia. Mas em 1555 sua tradução foi colocada no Índice de Livros Proibidos pelo papa Paulo IV. Foi julgado por heresia, condenado e forçado a se retratar, apesar de nunca ter oficialmente deixando o catolicismo. Sua versão serviu de base para a versão Diodati. Embora reivindique ter traduzido a partir dos originais, parece que utilizou as versões latinas de Sante Pagnini para o Antigo Testamento e de Erasmo para o Novo.

Em 1536, o frade dominicano Zaccheria de Florença produziu seu Novo Testamento, que consistia apenas em um simples retoque do texto de Brucioli, ao qual aplicava variações quase exclusivamente estilísticas e formais. Em 1538, La Bibbia nuouamente tradotta dalla hebraica verità in lingua thoscana foi publicado sob a supervisão do frade dominicano Santi Marmochino, também baseada em Sante Pagnini, Brucioli e Zaccherie.

Em 1551, Il Nuouo ed Eterno Testamento di Giesu Christo foi publicado em Lyon pelo frade beneditino Massimo Theofilo Fiorentino, que traduziu diretamente do grego original. Em 1555, uma edição bilíngue em italiano e francês do Novo Testamento foi publicada sob a supervisão do valdense Giovan Luigi Pascale. Esta foi a primeira versão italiana a incluir a subdivisão em versos, além de ser a primeira declaradamente protestante.

A partir de 1559, como mencionado, o papa Paulo IV mandou compilar o Index Librorum Prohibitorum, que continha proibições de impressão, leitura e posse de versões da Bíblia em línguas vernáculas sem prévia autorização pessoal e por escrito do bispo, do inquisidor ou mesmo do papa. Como consequência dessas disposições, a produção de Bíblias em italiano foi interrompida abruptamente.

No século XVII, Giovanni Diodati publicou sua versão em Genebra em 1607 em uma tradução diretamente dos textos originais grego e hebraico, embora também tenha consultado o texto de Brucioli.

Em 1757, o papa Bento XIV incentivou a tradução da Bíblia em italiano. O abade Antonio Martini publicou primeiro o Novo Testamento em seis volumes (1769-1771) e, posteriormente, também o Antigo Testamento em dezessete volumes (1776-1781). Martini traduziu da Vulgata latina e colocou ao lado do texto italiano em uma coluna paralela. Esta tradução teve grande sucesso entre os católicos de língua italiana e até ganhou a aprovação do papa Pio VI.

No final do século XIX, o crescimento do evangelismo italiano demandou novas publicações da Bíblia. Assim, foi revisada a Diodati em 1894. Mas em 1924, a tradução de Diodati foi atualizada quanto à língua e ao texto-base pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira. O trabalho liderado pelo valdense Giovanni Luzzi.

Duas outras importantes edições da Bíblia católica italiana anteriores ao Vaticano II são a de Giuseppe Ricciotti e a de Eusebio Tintori. A Bíblia de Ricciotti é uma obra erudita com notas extensivas, sendo uma tradução acadêmica direta dos textos originais. Por sua vez, a Bíblia de Tintori (publicada a partir de 1931 pela San Paolo) era mais direcionada à acessibilidade para o fiel comum.

Em 1968, a editora Mondadori publicou a Bibbia Condordata. Foi traduzida das línguas originais, com notas, produzida pela Sociedade Bíblica Italiana e em colaboração com biblistas católicos, protestantes, ortodoxos e judeus.

Em 1971, seguindo as diretrizes do Concílio Vaticano II (1965), a Conferenza Episcopale Italiana produziu a Versione CEI, o texto oficial da Igreja Católica para usos litúrgicos.

Utilizando uma equivalência dinâmica, a Parola del Signore – Traduzione Interconfessionale in Lingua Corrente foi publicada em 1985 em parceria entre organizações católicas e protestantes, destinada a um público jovem.

Em 1991, a editora La Buona Novella publicou La Nuova Diodati. Trata-se de uma versão do Diodati revisada apenas quanto à linguagem. Seu texto base do Novo Testamento foi o Textus Receptus. Seguiu-se uma edição revisada em 2003.

Em 1994, a Sociedade Bíblica de Genebra publicou a versão Nuova Riveduta, com a atualização linguística e textual da Luzzi e Diodati. Em 2006, foi publicada uma nova versão ligeiramente revista (a Nuova Riveduta 2006). A ADI-Media, a editora das Assemblee di Dio in Italia, lançou a Riveduta 2020, com atualizações linguísticas.

Bíblia

Coleção de escritos sagrados considerados como Palavra de Deus escrita nas religiões abraâmicas. Trata-se de uma biblioteca circulante e viva, fixada em vários suportes, assumindo caráter de autoridade para a vida pessoal e cultual no Cristianismo.

Chamada internamente de as Escrituras, esta coletânea ganhou a atual designação de Bíblia (em grego βιβλία) por João Crisóstomo (século IV d.C.).

O termo Bíblia é o plural das palavras gregas bíblos, que significa “livro”, “papiro” e biblion, “livrinho”. Vale notar que livro na antiguidade referia-se a qualquer texto de tamanho variável, diferente dos atuais livros, convencionalmente entendido como um texto de tamanho significativo, geralmente acima de 50 páginas. Originalmente o termo grego he byblos, ou o menos correto ho biblos, se referia à camada interna da casca e parte do caule do papiro. Embora fosse um produto egípcios, a distribuição de papiro via Biblos,  a Gebal de Sl 83:7, Ez 27:9, uma antiga cidade portuária no atual Líbano, provavelmente influenciou a adoção do termo pelos gregos.

O termo aparece utilizado desde as Antigas Versões Gregas em Daniel 9:2 para referir-se aos livros (tais Bibliois) dos profetas. Já em 1 Macabeus 1:56 e 2 Macabeus 2:13-15 falam de coleções de “a biblia da lei” e “a biblia sobre os reis e os profetas”. No equivalente a Josué 8:30-35 na Septuaginta, (LXX Js 9:2) Josué constrói um altar em Siquém onde copia o biblos “Livro da Lei de Moisés”. Josefo refere-se aos 22 rolos (biblia) que constituem o cânon hebraico (Contra Apion 1.37).

Para referir-se ao Novo Testamento a forma plural Ta Biblia aparece nas obras de Clemente de Alexandria. E definitivamente nas obras de Orígenes.

Jerônimo, em suas traduções latinas, usa o termo biblioteca para descrever a coleção de escritos sagrados judeus e cristãos.

No final do século IV, João Crisóstomo refere-se ao Antigo e ao Novo Testamento como Ta Biblia em suas Homilias sobre a Epístola aos Colossenses e faz alusão nas Homilias sobre Mateus.

Com o tempo, biblia tornou-se um título comum para as sagradas escrituras dos cristãos em latim e outras línguas europeias.

Os judeus preferiram os termos Tanakh ou Miqra.

Um catálogo de uma biblioteca francesa do século IX fala explicitamente das Escrituras canônicas já como Bíblia.

Esta antologia foi canonizada, isto é, reconhecida como Escrituras em um longo processo. A partir do século IV passou a ser reproduzida entre cristãos como uma coletânea em poucos ou um só volume. Com a invenção da imprensa, popularizou-se sua edição em um só volume.

Sua mensagem é diversa, polifônica, mas coesa e coerente como em um mosaico, o qual não é algo fragmentário ou parcial, mas capaz de transmitir efetivamente sua comunicação revelada.

Seus livros no cânon protestante constituem 66 títulos.