Norma normans, norma normata

Norma normans, norma normata é uma distinção na teologia luterana entre o caráter normativo das Escrituras e o das confissões para elucidar o papel da regra de fé.

A norma normans seria as regras primárias de fé (norma decisionis) que, na tradição protestante somente as Escrituras seriam objetos com essa capacidade. Já a norma normata seria a norma discricionária, expressa sobretudo nas confissões de fé. Enquanto essa última avalia a coerência de outras doutrinas, a primeira seria a medida avaliativa entre doutrinas verdadeiras ou falsas.

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Confissões bíblicas

Em grego o termo homologeō, confesso, (e seus correlatos confissão, confessar) aparece com dois sentidos no Novo Testamento e na Septuaginta:

  • Reconhecimento de culpa, do pecado.  1 Jo 1:9; Lc 15:21, cf. 2 Sm 12:13; Sl 32:5.
  • Reconhecimento pessoal ou público de uma crença. Rm 10:9; Mt 16:15-16, Jo 9:22; 12:42-43.

Nesse último sentido, temos algumas confissões importantes nas Escrituras.

Teologia credal

A teologia credal é o ramo da teologia sistemática que discorre sobre métodos e tópicos relacionados à formulação, interpretação e aplicação de credos e confissões de fé nas comunidades religiosas.

Enquanto a teológica dogmática discorre sobre as implicações das doutrinas formuladas pelos credos e confissões, a teologia credal preocupa-se com a elaboração e aplicação das declarações de fé. Entretanto, como se ocupam de proposições doutrinárias, há sobreposição entre as duas subdisciplinas.

Alguns dos principais tópicos abordados pela teologia do credo incluem:

  1. Natureza da declaração de fé: examina os papeis como norma normata e regra da doutrina (regula doctrinæ). Discorre sobre os limites e mutabilidade (ou não) das proposições doutrinárias. Compara as declarações de fé com o uso de textos litúrgicos como hinos, com textos normativos como cânones denominacionais, com as Escrituras na vida da igreja.
  2. Desenvolvimento histórico de credos e confissões: Examina as origens, as modificações e o contexto histórico de vários credos e confissões dentro de diferentes tradições religiosas.
  3. Interpretação da declaração de fé: analisa os significados e implicações teológicas de declarações de fé, incluindo a interpretação de conceitos e princípios doutrinários fundamentais.
  4. Teologia comparada: Compara e contrasta os credos e confissões de diferentes tradições ou denominações religiosas para identificar semelhanças, diferenças e pontos de convergência e divergência.
  5. Metodologia teológica: explora as metodologias empregadas na formulação, interpretação e aplicação de credos e confissões, incluindo abordagens exegéticas, históricas e sistemáticas.
  6. Teologia doutrinária e dogmática: investigar os ensinamentos doutrinários e afirmações dogmáticas contidas nos credos e confissões, e explorar suas implicações teológicas para a crença e a prática.
  7. Eclesiologia: Examina o papel dos credos e confissões na formação da identidade, unidade e limites das comunidades religiosas, incluindo o seu significado para a autoridade e governação eclesial. Também inclui os empregos das declarações de fé para fins apologéticos, respostas a desafios internos ou para questões sociais, bem como a utilização da declaração de fé para o exercício da disciplina.
  8. Hermenêutica: Reflete sobre os princípios e métodos de interpretação aplicados aos textos de credos, incluindo considerações de contexto, linguagem e tradição teológica. A crítica confessional aplica elementos hermenêuticos dos credos e confissões na leitura das Escrituras.
  9. Autoridade confessional: Também a teologia credal ocupa-se da questão hermenêutica e de autoridade do confessionalismo, na distinção entre quia e quatenus se adesão a um credo ou confissão deva ser “quia” (porque) ou “quatenus” (na medida em que) a declaração de fé expressa as verdades evangélicas oriundas das fontes teológicas.
  10. Relevância contemporânea: avalia o significado contínuo e a aplicação de credos e confissões no cenário religioso contemporâneo, incluindo o seu papel na abordagem de desafios teológicos e no envolvimento com questões culturais e sociais. Aqui entram as questões como os credos e confissões servem para a vida da Igreja, se prioriza o discipulado ou se prioriza seu uso como disciplina.
  11. Ecumenismo: explora o potencial de diálogo, reconciliação e cooperação entre diferentes tradições ou denominações religiosas através do estudo e interpretação de credos e confissões.
  12. Teologia prática: Investigar as implicações práticas da teologia de credo para evangelização, adoração, discipulado, cuidado pastoral e missão dentro de comunidades religiosas.

BIBLIOGRAFIA

Fairbairn, Donald; Reeves, Ryan M. The Story of Creeds and Confessions: Tracing the Development of the Christian Faith. Baker Academic, 2019.

Hahn, Georg L. Bibliothek der Symbole und Glaubensregeln der alten Kirche [Breslau: E. Morgenstern, 1897 (Hildesheim: G. Olms, 1962)].

Hahn, Scott. The Creed: Professing the Faith Through the Ages. Emmaus Road Publishing, 2016.

Kelly, John Norman Davidson. Early christian creeds. Routledge, 2014.

McGrath, Alister E. Faith and Creeds: A Guide for Study and Devotion. Vol. 1. Westminster John Knox Press, 2013.

Pelikan, Jaroslav. Credo: Historical and theological guide to creeds and confessions of faith in the Christian tradition. Yale University Press, 2005.

Radde-Gallwitz, Andrew. “Private Creeds and their Troubled Authors.” Journal of Early Christian Studies 25.1 (2017): 464-490.

Schaff, Philip. Creeds of Christendom, with a History and Critical notes. Volume I. The History of Creeds. CCEL, 1877.

Wilhite, David E. “The Baptists ‘and the Son’: The Filioque Clause and non-Creedal Theology”. Journal of Ecumenical Studies 44 (2 2009): 285-302.

VEJA TAMBÉM

Crítica confessional

Artigos de Fé

Teologúmena

Credos e confissões de fé

Credos e confissões de fé

Credos e confissões de fé são declarações de doutrinas expressas por comunidades cristãs para diversos propósitos.

Credos são declarações universais que resumem as crenças básicas da fé cristã. São normalmente curtos e concentram-se nos princípios fundamentais, como a crença em um Deus, na divindade de Jesus Cristo e na Trindade. Originalmente, os credos eram declarações de fé pessoais. Os credos são frequentemente usados para ensinar aos novos convertidos os fundamentos da fé e para unir todos os cristãos na sua profissão comum de fidelidade a Deus. Também aparecem em elementos litúrgicos como recitação antes da Ceia ou no batismo. Exemplos de credos incluem o Credo dos Apóstolos e o Credo Niceno.

Confissões de fé são mais detalhadas e específicas. Originaram-se dos artigos de fé, as explicações escolásticas de cada implicação teológica derivada das proposições dos credos. Também, na Idade Média as confissões de fé passaram a ser exigidas para esclarecer posicionamentos de candidatos a certas posições do clero, ou como posições de réus em processos eclesiásticos, além de explicitar pontos comuns para discussões acadêmicas e disputas teológicas. A partir da Reforma, as confissões de fé passaram a ser escritos por grupos ou denominações específicas para abordar as crenças e preocupações distintas de sua comunidade. As confissões muitas vezes tratam de doutrinas secundárias, como origem do pecado ou detalhes escatólogicos, ou tratam de explicações para práticas e condutas, como o batismo e a santa ceia. Fornecem uma explicação mais aprofundada da teologia no que se refere à vida cotidiana e à identidade denominacional. Exemplos de confissões incluem a Fórmula de Concórdia (Luterana), a Confissão Belga (Reformada) e os Vinte e Cinco Artigos de Religião (Metodista). Visto serem mais detalhadas, não são incorporadas ao culto, mas aparecem nas classes de instruções de membros ou candidatos ao ministério.

A discussão do papel dos credos e confissões são tratadas pelo ramo da teologia sistemática chamada de teologia credal, enquanto a teologia dogmática cuida do conteúdo dessas declarações de fé.

Várias tradições cristãs rejeitaram o uso de credos ou confissões por motivos diversos como a adesão estrita às Escrituras, a ênfase na fé vivida, desconfiança de seus empregos normativos e disciplinares. Essa postura, chamada de não-credalismo ou anti-confessionalismo, não implica na inexistência de um conteúdo de fé comum ao grupo, mas contra sua formalização.