Emenda conjectural

A emenda conjectural, nos campos da filologia e dos estudos bíblicos, refere-se ao ato de fazer correções especulativas ou hipotéticas ou alterações em um texto para resolver erros, inconsistências ou dificuldades percebidas.

Envolve propor emendas ao texto original com base no julgamento do estudioso, no conhecimento do idioma e no contexto, em vez de confiar apenas nas evidências existentes no manuscrito.

A emenda conjectural é normalmente empregada quando a evidência disponível do manuscrito contém erros, omissões ou passagens ininteligíveis que impedem uma interpretação ou compreensão satisfatória do texto.

O propósito das emendas conjecturais é para tornar o texto mais coerente, significativo ou alinhado com a gramática, sintaxe ou estilo esperado da linguagem. No entanto, a emenda conjectural é uma prática altamente especulativa e subjetiva. Envolve a introdução de mudanças no texto original sem evidências manuscritas diretas para apoiá-las. Consequentemente, as emendas conjecturais devem ser abordadas com cautela e consideradas como propostas hipotéticas e não como soluções definitivas.

Exemplos de emenda conjectural em estudos bíblicos abundam. Na produção do Textus Receptus, Erasmo retroverteu da Vulgata parte do Apocalipse, visto que não dispunha manuscritos gregos completos. A única emenda conjectural na edição grega Nestlé-Aland 28 é em 2 Pedro 3:10.

Novo Testamento Grego de Lachmann

O Novum Testamentum Graece et Latine de Karl Lachmann (1793-1851) foi uma edição crítica do Novo Testamento,que marcou uma ruptura metodológica com as edições em voga.

Publicada em duas edições, a primeira em 1831 e a segunda em 1842-1850, a obra desse filólogo alemão foi uma tentativa de reconstruir o texto grego do Novo Testamento utilizando manuscritos mais antigos e técnicas rigorosas de análise filológica, especialmente o método genealógico. Esse método, inédito até então, buscava determinar as relações entre os manuscritos e estabelecer o texto mais próximo ao original.

Primeira Edição (1831)

Em 1831, Lachmann lançou sua primeira edição crítica do Novo Testamento grego. A edição de Lachmann foi criticada por se basear em um número limitado de manuscritos, uma vez que os recursos disponíveis à época não permitiam o acesso a uma grande variedade de fontes textuais. Apesar das críticas, essa primeira edição lançou as bases para a abordagem filológica que seria consolidada em sua edição subsequente.

A Segunda Edição (1842-1850) e a Vulgata Latina

A segunda edição do Novum Testamentum Graece et Latine, publicada em dois volumes entre 1842 e 1850, ampliou a base de manuscritos latinos e gregos utilizados, incluindo, além do Codex Alexandrinus, o Codex Vaticanus e o Codex Ephraemi Rescriptus. Essa edição também apresentou o Novo Testamento grego lado a lado com a Vulgata Latina. Ao fazer essa comparação, Lachmann destacava as limitações da Vulgata e sugeria uma reconstrução mais precisa do texto grego original. Tal abordagem implicitamente desafiava a autoridade da Vulgata.

Método Genealógico e o rompimento com o Textus Receptus

Lachmann empregou o método genealógico. Anteriormente, aplicou este método na manuscritologia germânica e dos clássicos gregos e romanos. O método procurava entender as “linhagens” dos manuscritos, criando um stemma ou árvore genealógica para mapear as relações entre as diversas cópias e identificar o texto mais próximo do original. Diante disso, Lachmann abandonou o textus receptus do Novo Testamento, que se baseava em manuscritos tardios, e priorizou as versões mais antigas, datadas do século IV e anteriores, confiando que essas preservavam uma transmissão textual mais fiel. Essa abordagem fundamentou-se em evidências limitadas, mas foi um avanço significativo em relação à prática editorial puramente subjetiva da época.

Através de seu trabalho, Lachmann procurou identificar e eliminar as interpolações e emendas inseridas ao longo dos séculos, respeitando o conteúdo original ao invés de favorecer conjecturas estilísticas. Para ele, uma edição crítica deveria distinguir as leituras originadas na tradição manuscrita das conjecturas de editores ou críticos anteriores. Essa prática meticulosa e conservadora, que preferia a “leitura do arquétipo” ao invés de intervenções conjecturais, refletia uma tentativa de manter o texto o mais próximo possível do original.

Impacto e limitações

O Novum Testamentum Graece et Latine de Lachmann exerceu um impacto duradouro na crítica textual do Novo Testamento, influenciando gerações subsequentes de estudiosos:

  1. Início das Edições Críticas Modernas: Lachmann iniciou uma nova fase na crítica textual, orientando-se por uma ampla análise manuscrita e influenciando edições críticas posteriores, como as de Tischendorf, Westcott e Hort, e Nestle-Aland, que permanecem influentes até hoje.
  2. Desenvolvimento do Método Genealógico: Sua aplicação do método genealógico, apesar de rudimentar para os padrões modernos, lançou as bases para o desenvolvimento de técnicas avançadas na reconstrução de textos antigos.
  3. Contribuição para a Filologia Reconstrutiva: O rigor de Lachmann em distinguir as leituras manuscritas originais de conjecturas contribuiu para uma abordagem mais objetiva na reconstrução de textos antigos, sendo considerado um pioneiro na filologia reconstrutiva.

Apesar de seu valor inovador, a edição de Lachmann apresentava limitações que foram, ao longo dos anos, supridas pela crítica textual moderna:

  • Seleção Limitada de Manuscritos: A dependência de um número restrito de manuscritos resultou em uma reconstrução textual que, embora precisa, não se beneficiava da amplitude de evidências disponíveis nos séculos seguintes.
  • Foco em Manuscritos Antigos: Lachmann priorizou textos do século IV, o que, embora metodologicamente coerente, limitou a inclusão de variantes preservadas em manuscritos posteriores que também poderiam refletir tradições autênticas.

Judah ben David Hayyuj

Judah ben David Hayyuj (c. 945-c. 1000) foi um gramático, filólogo e poeta judeu que viveu na Espanha muçulmana.

Hayyuj inicia a história da gramática hebraica e suas obras tiveram um impacto significativo no desenvolvimento da língua hebraica.

A principal contribuição de Hayyuj aos estudos hebraicos foi o desenvolvimento de uma abordagem sistemática e filológica para o estudo da gramática hebraica. Antes de seu trabalho, a gramática hebraica era amplamente baseada na intuição e na tradição e carecia de um conjunto claro e consistente de regras. A abordagem de Hayyuj foi influenciada pela tradição gramatical árabe e ele aplicou os princípios da gramática árabe ao estudo do hebraico.

Hayyuj produziu seu Kitab al-Tanqih (Livro do Refinamento), uma gramática da língua hebraica. Nesse trabalho, introduziu uma série de inovações, como a ideia de “raiz” de uma palavra, que se tornou um conceito fundamental na gramática hebraica e mesmo na semitologia.

Além de seu trabalho na gramática hebraica, Hayyuj também foi um poeta prolífico e escreveu vários poemas em hebraico e árabe.

Hasan Bar Bahlul

Hasan Bar Bahlul, também conhecido como Olaph-Dolath, foi um poeta e filólogo que viveu no século X dC.

Bar Bahlul realizou seus extensos trabalhos no campo da língua e literatura árabe, incluindo o léxico, Al-Kamel fi al-Lughah (O [livro] completo sobre a linguagem).

Este léxico é um dicionário abrangente da língua árabe, contendo mais de 30.000 verbetes. Cobre uma ampla área de tópicos, incluindo gramática, sintaxe, semântica e etimologia. Também inclui exemplos de uso e explicações dos significados e contextos de várias palavras e frases.

O léxico inclui verbetes para muitas palavras e frases encontradas na Bíblia e em outros textos religiosos. É um recurso para entender o significado e o contexto dessas palavras.

Hasan Bar Bahlul era bem versado em língua e literatura siríaca, e seu léxico inclui muitas entradas relacionadas ao vocabulário e gramática siríaco. Isso torna o léxico um recurso valioso para estudiosos que estudam textos siríacos, pois fornece informações sobre os significados e o uso de palavras e frases siríacas.

O léxico de Hasan Bar Bahlul é uma das obras mais importantes sobre a língua árabe . Foi traduzido para vários idiomas, incluindo persa e turco, e teve um impacto significativo no desenvolvimento e padronização do árabe como língua escrita e falada.

Diorthotes

Diorthotes ou em latim corrector era o copista responsável pela última revisão. Por volta do ano 360 d.C. surgiram no Império Romano scriptoria (serviços de copistas) cristãos que empregava diorthotes. Suas anotações no manuscrito geralmente podem ser detectadas hoje pelas diferenças nos estilos de caligrafia ou tonalidades de tinta.