Gottfried Menken

Gottfried Menken (1768-1831) foi um teólogo reformado alemão.

Gottfried Menken iniciou seus estudos teológicos na Universidade de Jena e foi muito influenciado pela combinação da filosofia natural com o biblicismo pietista. Na década de 1790, Menken pregou em vários lugares no Baixo Reno, incluindo Wuppertal.

Ao longo de sua carreira, Menken serviu como pastor na congregação reformada em Frankfurt am Main, Wetzlar e Bremen. Era um oponente ferrenho do racionalismo, mas também não era um seguidor da doutrina oficial. Menken foi espiritualmente influenciado por Bengel e pelo médico Samuel Kallenbusch, particularmente em relação à sua rejeição da doutrina do sofrimento de Cristo como punição.

Menkel era um proponente a União Mística ou do Santo Amor, um modelo similar ao da Influência Moral de Abelardo, para a doutrina da Expiação. Junto de Rudolph Stier, Karl Friedrich Klaiber, Johann Gerhard Hasenkam, Menken sumarizava a expiação nesta fórmula: “que Deus é amor, e o que não é amor também não está em Deus” (dass Gott die Liebe ist, und was nicht Liebe ist , auch nicht in Gott ist).

Embora Menken pertencesse à igreja reformada, ele não era confessional e baseava suas doutrinas na própria Bíblia. Os pensamentos e crenças teológicas de Menken foram considerados únicos e muitas vezes controversos durante seu tempo, o que contribuiu para seu impacto significativo na teologia na Alemanha.

Teoria da confissão vicária

A teoria da confissão vicária ou do arrependimento vicário é uma teoria acerca da obra de reconciliação e expiação proporcionada por Cristo. A vida perfeita de Cristo foi o ato reconcilador entre humanidade e Deus. Seu maior proponente foi o teólogo escocês John McLeod Cambpell.

A teoria da confissão vicária nega que houve uma transação entre Deus e a humanidade para perdão de pecados. O sacrifício de Cristo foi uma revelação do amor de Deus e uma restauração do relacionamento entre a humanidade e Deus. A visão da expiação como uma satisfação da justiça divina (teoria da satisfação) por meio da punição (teoria da substituição penal) seria inconsistente com a ideia de um Deus amoroso.

As bases bíblicas são 2 Co 5:19; Jo 3:16; Lc 15:11-32.

Em 1856, Campbell publicou On the Nature of the Atonement (A Natureza da Expiação), que procurava entender a expiação à luz da Encarnação. A vida, obra e morte de Jesus Cristo seria um todo indivisível. Campbell afirmava que a mente divina em Cristo é a mente de uma filiação obediente perfeita para com Deus e de uma irmandade perfeita para com os homens. Através da Encarnação, Cristo viveu vicariamente no lugar da humanidade e em seu lugar, tornando-se um sacrifício perfeito e completo que reconcilia a humanidade com Deus. Jesus se apresenta em nosso lugar, mas não recebe a pena por nós, porém confessa perfeitamente nossos pecados.

É uma perspectiva próxima à teoria da influência moral de Pedro Abelardo. Tanto Campbell quanto Abelardo argumentam que a expiação é principalmente sobre a reconciliação entre Deus e a humanidade, em vez de punição ou satisfação pelo pecado. Contudo, Campbell apresenta suas nuances. A reconciliação seria um processo divino em curso, não se limitando a um evento da vida de Cristo. Ao invés de focar na transformação moral da humanidade pela obra de Cristo (como Abelardo), Campbell salienta o lado divino. A vontade divina de Cristo de cumprir toda a obediência leva junto a humanidade à Deus. Nesse sentido, é uma obediência vicária (em favor da humanidade), mas não substitutiva.

A perspectiva de Campbell pode ser bem entendida por uma ilustração de dois amigos, no qual um deles ofendeu o outro. Como dois amigos que se desentenderam, a expiação seria um processo de contínua reconciliação. O amigo faltoso (a humanidade pecadora) precisa admitir, compreender e empatizar pelo dano causado. Se o amigo ofendido (Deus) não tomar a iniciativa de manifestar seu afeto, mágoa e desejo de reconciliação, o ofensor seguirá em estranhamento, desconfiança e reativo ao perdão. Por isso, Deus ofereceu em Jesus Cristo a chance de reconciliação.

BIBLIOGRAFIA

McLeod Campbell, John. The Nature of the Atonement. 1856.

Torrance, T. F. Scottish Theology: From John Knox to John McLeod Campbell. Edinburgh: T. & T. Clark, 1996.

Teoria da influência moral

A teoria da influência moral é uma doutrina subjetiva da reconciliação para explicar o motivo da obra redentora de Cristo e por quais meios altera a humanidade.

Por essa doutrina, a justiça de Deus é igual a seu amor. Como o pecado é uma ofensa produzida contra essa justiça e amor, Deus dispensou sua graça para reparar o pecador. Por Deus possuir um infinito amor pela humanidade, perdoa os pecados sem exigir punição ou penitência. Deus desperta o amor da humanidade ao enviar Jesus como seu exemplo obediente desse amor. Como deixaria de ser amor se fosse forçado, a obra de ensinos e obediência até a morte de Cristo incutiram o amor a Deus na humanidade.

Os textos bases para essa teoria são Jo 15:13; Rm 5:8; 2 Co 5:17-19; Fp 2:5-11; Cl 3:24. 1 Pe 2:21 e 1 Jo 2:6.

Originalmente traços da teoria da influência moral apareceram com Agostinho, mista com alguns elementos da teoria da satisfação. Como doutrina distinta foi proposta pelo teólogo medieval francês Pedro Abelardo. Ele rejeitou a ideia da morte de Jesus como um resgate pago ao Diabo, pois atribuía poderes divinos a um oponente maligno. Ele também se opôs à teoria da satisfação de Anselmo de que a morte de Jesus seria uma dívida paga à honra de Deus.

“A nossa redenção está, portanto, naquele amor supremo despertado em nós pela paixão de Cristo, amor que não só nos liberta da escravidão do pecado, mas também nos torna participantes da verdadeira liberdade dos filhos de Deus, para que façamos todas as coisas não por medo mas por amor Àquele que nos concedeu tão grande graça”.

Abelardo. Ad Romanos 2:22

Uma perspectiva relacionada, mas que não deve ser confundida, é a “teoria do exemplo moral”, desenvolvida por Faustus Socinus. Enquanto a teoria do exemplo moral a salvação resulta da imitação das obras e seguir os exemplos de Cristo, a teoria da influência moral postula que a obra reconciliatória de Cristo compele o ser humano pecador, pelo Espírito Santo, a amar a Deus e a fazer obras de justiça.

Variantes da teoria da influência moral podem ser encontradas em Johann Albrecht Bengel e nos pietistas de Württemberg, Friedrich Schleiermacher (1768-1834), Hosea Ballou (1771 – 1852), Horace Bushnell (1802-1876) e entre os reformados holandeses em Herman Wiersinga (1927 –2020).

Ballou exemplifica a posição do início do século XIX sobre essa teoria. Sustentava que a vida e os ensinamentos de Jesus são o que traz a reconciliação entre Deus e a humanidade. O amor e compaixão de Jesus nos inspira a abandonar o pecado e seguir o caminho da retidão. Essa teoria enfatiza o poder transformador do amor e a importância de viver uma vida virtuosa.

Raramente lido em seus próprios termos e em seu método dialético, a teoria de influência moral de Abelardo tende a ser representada de forma caricata. Uma das representações distorcidas ocorre principalmente tornar a morte de Cristo sendo um mero exemplo. No entanto, Abelardo enfatiza que Cristo morreu por causa de nossos pecados porque realmente cometemos essas transgressões. Como um dos primeiro proponentes do intencionalismo da vontade, Abelardo dizia que a fé (a confiança) nesse amor de Deus mediante a influência moral de Cristo possibilitaria alinhar o arbítrio da pessoa com a intenção amorosa de Deus. Assim, o ser humano redimido desviaria-se da intenção de pecar e seria conduzido pelo amor a Deus.

Uma crítica à teoria da influência moral é que não explica o motivo da necessidade para a vinda e morte de Cristo, pois qualquer mártir poderia impactar a humanidade de modo despertar tal amor a Deus.

BIBLIOGRAFIA

Barclay, William. The Plain Man Looks at the Apostles’ Creed. Glasgow: William Collins Sons & Co., 1979.

Ballou, Hosea. A Treatise on Atonement. 1805.

Bushnell, Horace. The Vicarious Sacrifice: Grounded in Principles of Universal Obligation. RD Dickinson, 1892.

Crisp, Oliver D. “Moral Exemplarism and Atonement.” Scottish Journal of Theology, vol. 73, no. 2, 2020, pp. 137–149., doi:10.1017/S0036930620000265.

Finlan, Stephen. Salvation Not Purchased: Overcoming the Ransom Idea to Rediscover the Original Gospel Teaching. Eugene: Cascade Books, 2020.

Pedro Abelardo. Expositio in Epistolam ad Romanos.

Quinn, Philip L., 1993 [2009], “Abelard on the Atonement: Nothing Unintelligible, Arbitrary, Illogical, or Immoral About It”, in Rea, Michael C., Oxford Readings in Philosophical Theology, Vol. 1: Trinity, Incarnation, Atonement, New York: Oxford University Press,  2009, pp. 348–365.

Rashdall, Hasting. The Idea of Atonement in Christian Theology. Londres: Macmillan, 1919.