Carta de Aristeas

A Carta ou Epístola de Aristeas é um documento apócrifo que pretende descrever a tradução da Bíblia hebraica para o grego no século III aC.

De acordo com a carta, o rei ptolomaico do Egito, Ptolomeu II Filadelfo, comissionou 72 estudiosos judeus para traduzir as Escrituras hebraicas para o grego. A carta também fornece detalhes sobre o trabalho dos tradutores e seu processo de tradução.

Hoje, a carta de Aristeas é geralmente descartada como um documento histórico porque há poucas evidências que a sustentam. Existem vários anacronismos na carta, e os detalhes que ela fornece são muitas vezes inconsistentes com o que se sabe sobre o período de tempo.

Apesar de sua precisão histórica questionável, a carta de Aristeas ainda é considerada um documento importante porque fornece informações sobre a relação entre judeus e gregos durante o período helenístico. Finalmente, a carta é significativa porque desempenhou um papel na legitimação da Septuaginta, a tradução grega da Bíblia hebraica que se tornou o texto principal usado por judeus e cristãos de língua grega durante séculos.

Bíblia Hesiquiana

Hesíquio de Alexandria (?-c.300) foi um exegeta que produziu a Bíblia Hesiquiana, uma recensão da Septuaginta e partes do Novo Testamento (possivelmente, os quatro evangelhos).

Hesíquio teria sido bispo de um lugar no Egito no século III e é confundido com lexicógrafo homônimo.

Esta recensão é mencionada por Jerônimo como obra de Hesíquio com a colaboração de Luciano de Antioquia. Segundo Eusébio (Hist. Ecl.8.13.7), um tal Hesíquio foi martirizado sob Diocleciano com três contemporâneos: Pacômio, Fileas e Teodoro. Os quatro mártires escreveram uma carta datada de 296 d.C. a Melício, bispo cismático de Licópolis, no Alto Egito, repreendendo-o por ordenações irregulares

No século IV as igrejas do Egito e em Alexandria utilizavam a Septuaginta Hesiquiana ao invés da edição de Orígenes. Jerônimo (Praef. in Paral.; Adv. Ruf. 2,27) critica Hesíquio, acusa-o de interpolação em Isaías 58:11 (Comm. em Is. ad. 58, 11) e de falsas adições ao texto bíblico (Praef. em Evang.). O Decretum Gelasianum alude aos “evangelhos que Hesíquio forjou” e chama-os de apócrifos.

Versão Barberini de Habacuque 3

O Barb. MS Barberinus Gr. 549 Vatican Library. Oxford H-P 62 and 147 ou versão de Barberini é uma versão grega, independente da Septuaginta (Old Greek) da Oração de Habacuque (Habacuque 3), apesar de ter sido influenciada pela LXX em sua transmissão.

A versão de Barberini provavelmente não foi traduzida antes dos livros finais da Septuaginta no século I a.C. Sua data final para limitar sua origem seria os meados do século III d.C.

BIBLIOGRAFIA

Harper, Joshua L. Responding to a puzzled scribe: the Barberini version of Habakkuk 3 analysed in the light of the other Greek versions. Vol. 8. Bloomsbury Publishing, 2015.

Septuaginta

A Septuaginta, cuja sigla é LXX, em sentido amplo refere-se a um conjunto de antigas traduções gregas das Escrituras Hebraicas realizadas entre os séculos III a.C. e meados do século II d.C.

Em sentido estrito, a Septuaginta seria somente o Pentateuco. O conjunto dos livros individuais fora do Pentateuco também são referidos como Old Greek (OG).

A carta espúria de Aristeas (século II ou I a.C.) narra uma lenda de que o faraó Ptolomeu II Filadelfo encomendara a tradução para a Biblioteca de Alexandria. Teria requisitado cópias ao sumo-sacerdote de Jerusalém Eleazar e comissionado setenta (ou setenta e dois) tradutores judeus. Eles teriam produzidos manuscritos idênticos de forma independente.

A Septuaginta registra uma tradição manuscrita de uma fonte (Vorlage) hebraica diferente e anterior àquela preservada em qualquer manuscrito hebraico existente hoje.

Os autores do Novo Testamento demonstram empregar amplamente a Septuaginta, embora não exclusivamente. A Septuaginta contribuiu imensamente também para o vocabulário teológico e retro-influenciou a própria edição das Escrituras quer em hebraico, quer em outras línguas em vários aspectos (divisão do Pentateuco e nome dos livros, por exemplo).

A LXX ajuda a entender como era a interpretação das Escrituras em um estágio inicial de sua canonização.

A adoção da LXX pelos cristãos contribuíram para que alguns eruditos judeus produzissem novas versões gregas, como o caso de Teodoton (que revisou a LXX), Símaco e Áquila (novas traduções a partir do hebraico).

As principais revisões e recensões da LXX são:

  • Recensão Kaige ou Recensão Luciânica. Hipoteticamente realizada no século IV dC pelo erudito Luciano de Antioquia. Tornou-se a forma mais amplamente utilizada da Septuaginta no Império Bizantino.
  • Hexaplar – uma edição crítica da Septuaginta produzida no século III dC por Orígenes. Consistia em seis colunas: o texto hebraico, uma transliteração do texto hebraico para o grego e quatro traduções gregas do texto hebraico. Pouco resta dela.
  • Recensão Hesychiana ou Hesiquiana. Feita por um bispo do Egito chamado Hesíquio, de local desconhecido. Teria sido martirizado na perseguição de Diocleciano. Jerônimo refere-se a ela. Todavia, sua atestação é fragmentária.
  • Codex Sinaiticus ou א – Este é outro manuscrito antigo da Septuaginta, que remonta ao século IV dC. Foi descoberto no Mosteiro de Santa Catarina na Península do Sinai no século 19 e agora está na Biblioteca Britânica.
  • Codex Vaticanus ou B- Este codex em si é uma recensão, sendo uma das mais importantes da Septuaginta, datado do século IV EC.
  • Codex Marchalianus ou Q – uma revisão posterior que influenciou os textos coptas.

As principais edições impressas são:

  • Edição Aldina – Esta foi a primeira edição impressa da Septuaginta, produzida pelo impressor veneziano Aldus Manutius em 1518.
  • Septuaginta de Göttingen – a edição crítica da Septuaginta produzida pela Universidade de Göttingen na Alemanha.
  • Edição de Rahlf – uma edição crítica amplamente revisando a edição de Göttingen, produzida por Alfred Rahlf no século XX. Baseia-se no Codex Vaticanus e inclui notas críticas.
  • NETS – The New English Translation of the Septuagint é uma tradução moderna para o inglês da Septuaginta produzida por uma equipe de estudiosos. Inclui notas críticas e é baseado na Septuaginta de Göttingen.
  • Bíblia – Antigo Testamento de Frederico Lourenço. Publicada em Portugal pela Quetzal e no Brasil pela Cia das Letras, é a única edição completa da Septuaginta em português.