Robert Horton Gundry

Robert Horton Gundry (1932- ) um teólogo americano e biblista especializado no Novo Testamento.

Gundry estudou no Seminário Batista de Los Angeles e doutorou-se em 1961 pela Universidade de Manchester. Sua carreira destaca-se sua atuação no Westmount College da Califórnia.

Foi um dos fundadores da Evangelical Theological Society (ETS) e signatário da Declaração de Chicago sobre a Inerrância da Bíblia. Contudo, sua publicação de um comentário sobre Mateus em 1982 utilizando técnicas da crítica da redação valeu-lhe a expulsão da ETS.

Seu Panorama do Novo Testamento tornou-se um manual introdutório popular nas faculdades americanas e em seminários no mundo todo.

Em sua tese “The Use of the Old Testament in St. Matthew’s Gospel: With Special Reference to the Messianic Hope”, Gundry trata o Evangelho de Mateus como um midrash, que é uma forma judaica de interpretação bíblica que envolve comentários e elaboração das escrituras. Mateus teria usado técnicas midráshicas para demonstrar como Jesus cumpriu as profecias e expectativas do Antigo Testamento sobre o Messias. Sustenta com vários exemplos disso no Evangelho, como a genealogia de Jesus, a fuga para o Egito e o Sermão da Montanha. Ao analisar o Evangelho de Mateus dessa maneira, Gundry procura lançar luz sobre o contexto cultural e literário em que o texto foi escrito.

Adicional controvérsia apareceu sobre a exposição que Gundry faz da justificação conforme apresentada por Paulo. Gundry argumenta que a visão da justificação somente pela fé é incompleta diante do pensamento paulino. Em vez disso, propõe que a obediência fiel aos mandamentos de Cristo como um componente essencial da justificação. Gundry argumenta que essa visão é mais fiel aos ensinamentos do Novo Testamento e fornece uma análise abrangente das passagens bíblicas relevantes. A justificação seria incorporada, ou seja, o indivíduo seria integrado à comunidade de aliança de Israel e gentios, não um ato de imputação da justiça. Parte de seus conceitos foram associados ao movimentio de Nova Perspectiva sobre Paulo.

BIBLIOGRAFIA

Gundry, Robert Horton. Panorama do Novo Testamento. Vida Nova, 1998.

Gundry, Robert H. “Grace, Works, and Staying Saved in Paul.” Biblica (1985): 1-38.

Nova Perspectiva sobre Paulo

A Nova Perspectiva sobre Paulo ou Nova Perspectiva de Paulo é um conjunto de interpretações dos escritos paulinos à luz de diversas informações sobre o contexto histórico do período do Segundo Templo e bases linguísticas do grego bíblico.

Esta vertente argumenta que teólogos e biblistas contemporâneos foram enviesados pelas perspectivas e preconceitos dos reformadores magistrais acerca de Paulo e o judaísmo do Segundo Templo. O pressuposto era de que o judaísmo era uma religião que buscava justiça pelas obras, sem base na eleição do povo em aliança por Deus, mas com base em mérito e obras para ganhar o favor de Deus. Contudo, estudos históricos demonstraram que os judaísmos do Segundo Templo eram mais nuanceados e o conceito de graça também estava presente.

Embora não seja uma corrente unificada, desde os anos 1970 seus expoentes foram Krister Stendahl, E. P. Sanders, James D. G. Dunn, N. T. Wright e Paula Fredriksen. Em comum, esses autores argumentam que conceitos do protestantismo magistral das doutrinas acerca de obras e graça, fé em Cristo e expiação teriam de ser revistos. (Os anabatistas por terem sidos inspirados pela exegese de Erasmo, Zwinglio e Karlstadt desenvolveram tradições teológicas distintas acerca desses tópicos).

Enquanto as interpretações fundamentadas na Reforma magistral entende a justificação como a fé do indivíduo em Cristo como o meio de ser declarado justo diante de Deus, proponentes da Nova Perspectiva se concentram no contexto social e histórico em que Paulo estava escrevendo.

Nesse contexto, o papel da lei judaica e da identidade judaica em sua compreensão do evangelho. A mensagem de Paulo não seria uma rejeição do judaísmo, mas sim uma redefinição da identidade judaica à luz de Cristo.

Argumentam que o entendimento tradicional da justificação é baseado em um mal-entendido do uso do termo “justificação” por Paulo. Em vez de se referir à posição legal de um indivíduo diante de Deus, “justificação” nos escritos de Paulo se refere à declaração de Deus de que alguém é um membro de seu povo da aliança, e não um membro da lei judaica.

A principal preocupação de Paulo não seria com a salvação individual, mas com a unidade da igreja, particularmente a inclusão dos crentes gentios. Eles argumentam que a ênfase de Paulo na fé em Cristo não era para ser um meio de salvação pessoal, mas sim um meio de inclusão na comunidade da aliança.

BIBLIOGRAFIA

Dunn, James D.G. The New Perspective on Paul: Collected Essays. Tübingen: Mohr Siebeck, 2005.

Pietersen, Lloyd. “Paul, Nachfolge Christi and Gelassenheit: Reading Paul with the Radical Reformers.” Anabaptism Today 4.1 (2022).