Tratado Asclépio

O Asclépio, sigla Ascl., é um tratado hermético encontrado no Codex VI de Nag Hammadi, especificamente seu oitavo tratado. É também chamado de  Logos teleios, o Perfeito Sermão, o Perfeito Discurso, Apocalipse de Asclépio, Apocalipse de Hermes Trimegisto.

Datando do intervalo estimado de 250-300 d.C., consiste em um diálogo entre Hermes Trismegisto e seu pupilo Asclépio. Ascl. 24. alude a uma perseguição movida pelos cristãos aos egípcios não cristãos, algo que pode ser datado entre 353 e 391, denotando ser essa uma interpolação tardia.

Embora apenas fragmentos do original grego, intitulado Discurso Perfeito, tenham sido preservados, existe uma versão completa em latim, muitas vezes atribuída a Apuleio. A versão copta, no entanto, é considerada uma tradução bastante precisa do grego, visto que a versão latina foi expandida quando da sua transmissão medieval.

Trismegisto inicia o tratado discorrendo sobre o sigilo do mistério hermético, destacando a compreensão das realidades profundas pela piedosa minoria. Ele afirma que aqueles que abraçam o conhecimento divino enviado por Deus tornam-se bons, imortais e até superam os próprios deuses.

Em resposta à pergunta de Asclépio sobre os ídolos, segue-se uma seção com ensinamentos apocalípticos (Asclépio 21-29), com influências das tradições egípcia e judaica. Trismegisto enfoca o Egito como a “imagem do céu”, o “templo do mundo” e a “escola de religião”. O Egito parece ser um paraíso – terra de deuses e belos templos. Mas de repente, o país se transforma em inferno com morte, sangue e dor. Por meio de imagens vívidas, descreve os horrores e males iminentes que acontecerão no Egito e no mundo, culminando na restauração do cosmos e no nascimento de um novo mundo.

O tratado termina com Trismegisto descrevendo o destino final do indivíduo. A alma se separará do corpo, enfrentará o Grande Daimon que supervisiona e julga as almas humanas e receberá sua recompensa ou punição apropriada.

BIBLIOGRAFIA

Corpus Hermeticum, t. II, Traités XII-XVIII, Asclepius, text établi par A.D. Nock, cinquième tirage revue, Paris, Les Belles Lettres, 1992.

Sowińska, Agata.  The meaning of Egypt in the apocalypse Λόγος Τέλειος /Asclepius (NHC VI, 8: 70, 3 – 76, 1; Ascl. 24-27). Vox Patrum57, 551–573. https://doi.org/10.31743/vp.4152

Apocalipses Acadianos

Os apocalipses acadianos, também chamados de profecias acadianas, constituem um grupo de seis textos da antiga Mesopotâmia. Esses textos incluem o Texto A, o Texto B, a Profecia de Šulgi (Texto C), a Profecia de Marduk (Texto D), a Profecia de Uruk e a Profecia Dinástica.

A classificação sobre o gênero textual desses escritos cuneiformes é debatida. Ora chamados de apocalipses, ora de profecias, talvez sua classicação como literatura preditiva seja melhor. Embora cada texto tenha características distintas, compartilham alguns aspectos.

Possuem previsões pós-evento, vaticinia ex eventu, em que descrevem os reinados de sucessivos reis, retratando-os em termos positivos ou negativos. Assim, justificam ideias ou instituições existentes ou prever a queda futura de adversários desprezados. Os textos geralmente repetem que “um rei ou príncipe surgirá”, mas com anonimato acerca desse governante, permitindo várias interpretações. No entanto, é provável que o significado pretendido fosse compreensível pela audiência intencionada.

A sequência de reis culmina em um governante ideal. Esse rei justo triunfa sobre os inimigos, restaura templos e garante prosperidade para a terra.

Em termos de data e origem, os textos A-D são originários de arquivos neoassírios, com fragmentos do Texto B originários de Nippur. Embora aparentemente pertençam aos governantes do final do segundo milênio, seu conteúdo também se alinha com as preocupações do período neoassírio. Já a Profecia de Uruk e a Profecia Dinástica têm origens babilônicas tardias, refletindo a história política da era helenística.

As Profecias de Marduk e Šulgi, pertencentes à mesma série. Elas são escritas na primeira pessoa com um estilo que lembra as autobiografias reais, enquanto as outras são escritas na terceira pessoa. Em contraste com os textos babilônicos tardios, as composições neoassírias incorporam elementos mitológicos, particularmente evidentes nas profecias de Marduk e Šulgi, que são apresentadas como discursos proferidos diante da assembleia divina.

Esses textos preditivos literários posussem semelhanças com alguns oráculos messiânicos na Bíblia hebraica. Há paralelos com Jeremias 23:5–6 e Zacarias 6:12–13, especialmente a expectativa compartilhada de uma futura era áurea de bem-estar da terra, a derrota dos adversários e a preservação florescente dos templos sob o domínio de um rei justo.

BIBLIOGRAFIA

Nissinen, Martti. Prophetic Divination: Essays in Ancient Near Eastern Prophecy. Berlin, Boston: De Gruyter, 2019. https://doi.org/10.1515/9783110467765

Profecia de Nefer-rohu

É uma obra literária egípcia no gênero de profecia, composta no período do Novo Reino e atribuída a Nefer-rohu, também chamado Neferti. É interessante por seu paralelo bíblico, mencionando um escurecimento do sol.

As Profecias de Neferti se passam em uma corte fictícia do Rei Snefru (c. 2575–2551 aC), que governou o Egito durante a Quarta Dinastia. A profecia de Nefer-rohu relata como o faraó Snefru foi alertado por um profeta que previu que o caos logo tomaria conta do Egito, mas que a ordem seria restabelecida quando Ameni da Núbia (uma referência a Amen-em-hep I, o primeiro rei da 12ª Dinastia) viesse a ser rei.

Certamente, foi uma propaganda política para apoiar o governo de Amen-em-hep I, que reino entre c.1994-c.1975 a.C.

“Um pouco mais tardia é a profecia de Nefer-rohu, que é extremamente interessante como o exemplo certo mais antigo de um vaticinium ex eventu” (Albright, 1940).

BIBLIOGRAFIA

Pritchard, ANET, 445.

Estela de Rimah

Estela de Rimah ou Estela de Adad-nirari III (810-782 aC), é um monumento monolítico descoberto em Tell er-Rimah, Iraque.

(filho de Hazael), rei da Síria, narrada em 2 Reis 13:5. Lista “Joás, o Samaritano” entre os reis estrangeiros que prestaram homenagem ao rei assírio.

Naram-Sin

Naram-Sin (c2254–2218 a.C.), rei de Acade. Autoproclamado deus de Acade e rei dos quatro cantos do mundo era neto de Sargão, o Grande (reinado de 2334 a 2279 aC). Vários artefatos arqueológicos e obras literárias registram sua belicosidade e atitude desafiadora ante os deuses, o que levaram a muitos verem paralelos com Ninrode (Gn 10:8-9) e com Jó.

A Estela da Vitória de Naram-Sin (c2254–2218), esculpida em um bloco de quase 2 m de calcário rosa, retrata o rei Naram-Sin liderando o exército acadiano na vitória sobre Lullubi, um povo das Montanhas Zagros.

A inscrição de Naram-Sin ou Estátua de Bassetki aparece no pedestal de uma estátua de cobre, representando uma figura masculina agachada de um monstro lahmu sem a parte superior do corpo. A estátua foi encontrada em 1975 perto de Bāṣetkī, atual Iraque. Depois que Naram-Sin repeliu uma grande revolta contra seu governo, os habitantes da cidade de Acade pediram aos deuses que fizessem de Naram-Sin o deus de sua cidade, e que construíssem um templo para ele no meio da cidade.

A Madição de Acade conta a história da destruição dessa cidade pelos deuses devido à impiedade de Naram-Sin. Discorre sobre problema do sofrimento sem sentido. O rei Naram-Sin tenta de arrancar dos deuses uma razão para sua miséria.

Este poema épico datado da Terceira Dinastia Ur (2047-1750) prertence ao gênero “literatura naru”, no qual a uma pessoa famosa (geralmente um rei) é o protagonista para representar a humanidade diante dos deuses.

Depois de os deuses boicotarem sem motivos suas bênçãos a Acade, Naram-Sin não consegue descubrir qual transgressão incorreu no desagrado divino. Depois de buscar em vão por sinais e presságios, fica em uma depressão por sete anos enquanto espera por uma resposta. Finalmente, cansado de esperar e enfurecido por não ter resposta, Naram-Sin marcha com seu exército contra o templo de Enlil em Ekur, na cidade de Nipur, o qual ele destrói. Em represália, Enlil envia os guti, um povo bárbaro, para pilhar Acade em punição.

PARALELOS BÍBLICOS

Dentre os paralelos temáticos com a literatura bíblica o corpus de Naram-Sin apresenta um rei que arrogantemente se considera divino, a discussão com seres divinos pela razão do sofrimento sem causa, um povo enviado para punição nacional.


BIBLIOGRAFIA

Abdul-Hadi Al-Fouadi, “Bassetki Statue with an Old Akkadian Inscription of Naram-Sin of Agade (B.C. 2291-2255). Sumer 32 (1976). Pl. ?. DS 67 S76 v. 32, 1976.

Black, J. The Literature of Ancient Sumer. Oxford University Press, 2006.