O sacerdócio de todos os crentes ou sacerdócio universal de todos os crentes é a doutrina de que todos os cristãos ministram diante de Deus, sem haver uma classe especial de pessoas como intermediários.
No Antigo Testamento, encontramos uma noção embrionária de que todo o povo de Israel, como comunidade do povo de Deus, participava de um tipo de sacerdócio geral. Isso está claramente expresso em Êxodo 19:6, onde Deus declara: “E vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa.” Embora houvesse uma classe sacerdotal específica, os levitas e, em particular, os descendentes de Aarão, encarregados de oficiar nos cultos e rituais, a ideia de um sacerdócio que abrangia todo o povo estava presente. O livro do Êxodo revela uma teologia que enxerga Israel como mediador entre Deus e as nações, sugerindo uma função sacerdotal para todo o corpo do povo eleito.
Joel 3:1 anuncia que o Espírito de Deus seria derramado sobre “toda carne”, o que implica uma universalização do acesso ao divino, um contraste notável com a exclusividade do ofício sacerdotal levítico. Isaías 61:6 também projeta uma visão escatológica em que Israel como nação será designado como “sacerdotes do Senhor” e “ministros de nosso Deus”, enfatizando o papel do povo de Deus em abençoar as nações.
No Novo Testamento, essas promessas são reinterpretadas e cumpridas na pessoa de Jesus Cristo e no evento de Pentecostes. Em 1 Pedro 2, Cristo é descrito como o único e definitivo Sumo Sacerdote, que, por sua morte e ressurreição, une todos os crentes a si mesmo através do batismo. A epístola de 1 Pedro 2:9 declara que os crentes em Cristo, tanto judeus quanto gentios, constituem agora um “reino de sacerdotes e nação santa”. Essa passagem ecoa Êxodo 19:6, mas amplia seu alcance ao incluir os gentios no sacerdócio universal, superando as limitações étnicas e cerimoniais do Antigo Testamento.
O Apocalipse descreve os redimidos como “reino e sacerdotes para o nosso Deus” (Apocalipse 1:6). Similar frase aparece em Apocalipse 5:10, onde se lê: “E para o nosso Deus os fizeste reino e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra.” Essas passagens reforçma o caráter sacerdotal e régio de todos os redimidos. Aqui, os crentes são apresentados como um grupo coletivo com uma dupla vocação: servir a Deus como sacerdotes e exercer autoridade em um reinado escatológico.
Essa doutrina foi o princípio central da Reforma. Embora Martinho Lutero não usasse o termo, ele aduz essa doutrina no seus escritos Para a nobreza cristã da nação alemã e Sobre o cativeiro babilônico da Igreja (1520). Lutero rejeitou que a distinção entre povo e clero, pois todo o crente batizado somente teria Cristo como mediador. Os ministros (servos) somente assistiriam a Igreja na medida em que o corpo de crentes consentisse.
Desdobramentos desse princípio são as doutrinas da luz interior entre alguns reformadores radicais e quakers e a guia do Espírito Santo entre os pentecostais.
