Teoria da União Mística

A teoria da união mística da expiação é um modelo de soteriologia transformativa para explicar o processo de reconciliação proporcionado por Cristo.

A teoria mística sustenta que a salvação não resume apenas no sacrifício de Cristo na cruz, mas de sua natureza divina-humana sendo comunicada conosco desde a encarnação até a ascenção.

Essa teoria enfatiza a divinização (theosis ou participação da natureza divina) da humanidade por meio da encarnação de Cristo. Ele entrou no mundo como um fermento transformador e, por meio de sua influência, a humanidade é transformada, levando à redenção.

Cristo é o espelho da divindade que desperta a consciência divina naqueles que o encontram. A expiação é uma obra contínua do Espírito Santo na igreja, não apenas um evento único. Assim, a separação feita por Melanchton entre justificação e santificação seria sem sentido.

A restauração da humanidade a um estado de santidade e perfeição é uma parte vital da expiação, e a igreja desempenha um papel crucial em apoiar e encorajar os crentes em seu crescimento espiritual.

As bases bíblicas normalmente apontadas são Jo 1:12-13; Rm 6:15-23; 8:29-30; 2 Pe 1:3-4; Cl 1:27; 1 Jo 3:2.

Em sua encarnação, Cristo assumiu a natureza humana como era em Adão, incluindo sua corrupção inata e predisposição ao mal moral. No entanto, ele evitou que sua natureza humana manifestasse qualquer pecado real por meio do poder do Espírito Santo ou de sua natureza divina, gradualmente a purificou por meio de luta e sofrimento e extirpou completamente sua depravação original em sua morte, reunindo-a com Deus. A purificação subjetiva da natureza humana na pessoa de Jesus Cristo constitui sua expiação, e as pessoas são salvas ao se tornarem participantes de sua nova humanidade pela fé quando se identificam com Cristo.

Historicamente, as bases desse modelo encontra-se na concepção ortodoxa oriental, principalmente com Dionísio Pseudoareopagita. No Ocidente no século IX, Félix de Urgel foi um dos proponentes, mas oposto por Alcuíno de York. As vertentes místicas ocidentais, principalmente as influencidas pela Theologia Germanica, apresentam elementos desse modelo, deixando marcas na soteriologia de Lutero e do pietismo alemão (mas não na escolástica luterana, que optou por modelos forenses como metáfora estruturante).

A união mística foi central para os irmãos morávios desde a época de Zinzendorf. Aliada com noções de participação das feridas e do sangue vertido pelo Cordeiro (Ap 7:13-17), os morávios viram o sangue como elemento de purgar como detergente contra toda iniquidade, compartilhar sua natureza humana, empatizar com o próximo por ser partícipe desse mesmo sangue. A teologia da expiação morávia apresenta uma perspectiva distinta sobre a expiação vicária de Cristo, denominada “expiação através da comunidade” ou “expiação através da união”. O sacrifício de Cristo pelos pecados humanos reflete o desejo de um relacionamento pessoal de Deus com a humanidade, presente pelo Espírito Santo. De acordo com a sua teologia, o perdão não é alcançado apenas através do reconhecimento do sacrifício de Cristo, mas necessita de um encontro pessoal com Ele. Este encontro é possibilitado pelo Espírito Santo, levando os indivíduos a construir um relacionamento pessoal com Cristo. Os Morávios sublinham uma reconciliação abrangente, afectando tanto a relação divino-humana como as ligações interpessoais, destacando a importância do envolvimento pessoal com Cristo.

Nos séculos XVIII e XIX teve um renascimento pelas obras de Gottfried Menken, Karl Friedrich Klaiber, Johann Gerhard Hasenkam e Rudolf Stier em rejeição ao modelo anselmiano de satisfação. Em língua inglesa, William Law e Edward Irving foram seus expoentes, mas não atraíram adeptos. Com Irving, a doutrina ganhou conotações de restauração física contra enfermidades também. Erroneamente, a teoria de expiação de Schleiermacher é listada por alguns autores nessa vertente. Contudo, é uma teoria própria.

A Escola Finlandesa afirma a necessidade de aspectos forenses e eficazes (transformativos) da justificação. Sua cristologia centra-se na unidade “ôntica real” entre Cristo e os cristãos, entendendo a justificação diante de Deus principalmente como uma união “ôntica real” de Cristo com o crente individual. Assim, a justiça inerente à alma redimida é o próprio Cristo.

Central para a Escola Finlandesa é o conceito de “união com Cristo” (unio cum Christo), que ensina que através da fé, os crentes experimentam uma transformação ontológica. Esta transformação não pode ser reduzida a não meramente uma declaração legal, mas envolve a habitação real de Cristo dentro do crente, levando a uma mudança profunda em seu ser e ações

No luteranismo confessional norteamericano Jordan Cooper reafirma a teoria da união mística explicando quatro aspectos da união com Cristo com base no método escolástico. Há a “união geral” ou a relação metafísica que sempre existe entre o contingente e o Absoluto, ordenada pelo Logos transcendente de Deus, dentro da qual todas as coisas derivam seu ser essencial de Deus. Segue-se a “união objectiva” efetuada pela Encarnação, na qual a natureza divina de Cristo está unida à sua natureza humana, e que permite que o sofrimento e a morte de Jesus coloquem a humanidade, universal e objetivamente, de volta numa relação correta (justificada) com Deus. Vem “união formal de fé” (unio fidei formalis), quando Cristo vem habitar e estar presente nos corações de cada cristão. Por fim, a salvação compreende “união mística” (unio mystica) o encontro cada vez mais profundo com Cristo no qual o crente é conformado à Sua imagem.

BIBLIOGRAFIA

Cooper, Jordan. Union with Christ: Salvation as Participation. A Contemporary Protestant Scholastic Theology Volume 6. Ithaca, NY: Weidner Institute, 2021.

Kärkkäinen, Veli-Matti. One with God: Salvation as deification and justification. Liturgical Press, 2004.

Saarinen, Risto. “Justification by Faith: The View of the Mannermaa School” In The Oxford handbook of Martin Luther’s theology. OUP Oxford, 2014.

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Teoria participatória da expiação

Soteriologia transformativa

União sacramental

A doutrina da união sacramental é a visão teológica luterana da presença real do corpo e sangue de Cristo na eucaristia. De acordo com essa perspectiva, na utilização do sacramento, o pão consagrado se une ao corpo de Cristo e o vinho consagrado se une ao seu sangue, por meio do poder de suas palavras. Essa união ocorre para todos os comungantes, crentes e não crentes, permitindo que todos comam e bebam do corpo e sangue de Cristo. Os luteranos mantém uma posição de “realidade objetiva, mas silêncio piedoso sobre detalhes técnicos”. Cristo está realmente presente em, com e sob os elementos do pão e do vinho.

É também chamada de ubiquitarianismo por enfatizar a onipresença da natureza de Jesus Cristo.

A união sacramental é comparada à união pessoal das duas naturezas em Jesus Cristo, mantendo a distinção entre o pão e vinho consagrados e o corpo e sangue de Cristo. Lutero fazia analogia do ferro quente. O calor e o metal juntavam-se em uma só realidade, mas cada um era algo distinto. A doutrina luterana afirma que, na Ceia do Senhor, o pão e o vinho consagrados são verdadeiramente o corpo e o sangue de Cristo, e mesmo aqueles que não creem participam da manducatio indignorum (comer dos indignos). A doutrina é baseada nas palavras de instituição de Jesus na Última Ceia, acreditando que, por meio de seu mandato, o pão se torna seu corpo e o vinho seu sangue em todas as celebrações da rucaristia.

Essa visão é distinta dos conceitos de transubstanciação, consubstanciação, impanação e real presença reformada.

Essa doutrina também se diferencia da visão reformada de presença real, que destaca a presença espiritual de Cristo na Ceia, sem uma união substancial com os elementos.

A visão luterana da eucaristia é distinta da transubstanciação, ensino católico romano de que pão e vinho se transformam no corpo e sangue de Cristo.

Embora alguns erroneamente a rotulem como consubstanciação, os luteranos, incluindo Lutero, discordam disso. Os luteranos rejeitam uma presença lado a lado e enfatizando a verdadeira presença de Cristo em, com e sob os elementos.

Fórmula de Concórdia, Epítome, VII, “A Santa Ceia de Cristo”: 15 6. Cremos, ensinamos e confessamos que com o pão e o vinho o corpo e o sangue de Cristo são recebidos não apenas espiritualmente, pela fé, mas também oralmente – porém, não de maneira cafarnaítica, mas por causa da união sacramental de maneira sobrenatural e celestial. As palavras de Cristo ensinam isso claramente quando nos orientam a tomar, comer e beber, tudo isso aconteceu no caso dos apóstolos, já que está escrito: “E todos beberam dele” (Marcos 14:23). Da mesma forma, São Paulo diz: “O pão que partimos não é uma participação no corpo de Cristo?” (1 Coríntios 10:16) — isto é, quem come deste pão come o corpo de Cristo. Este também tem sido o ensinamento unânime dos principais Padres da Igreja, como Crisóstomo, Cipriano, Leão I, Gregório, Ambrósio, Agostinho.

Rio Ulai

O rio Ulai, mencionado nos livros de Daniel 8:2 e 8:16, foi local para as visões proféticas de Daniel. O nome Ulai deriva do hebraico אולי (Ulay) e, em grego, é conhecido como Eulaios (Εὔλαιος). O rio Ulai fluía na região de Elão, próximo à cidade de Susã, um importante centro administrativo do antigo Império Persa.

A localização do rio Ulai, em um contexto histórico e geográfico relevante, reforça a importância das visões de Daniel. O rio foi cenário da visão do carneiro e do bode, que simbolizam os impérios Medo-Persa e Grego.

União enhipostática

União enhipostática é a doutrina de que Cristo assumiu uma natureza humana, mas não uma personalidade distintiva. Portanto, a natureza humana de Cristo não é pessoal em si, mas é personalizada por estar unida à pessoa eterna que é a segunda pessoa da Trindade.

O termo união hipostática refere-se à união da natureza humana e divina em Cristo. As palavras enhipóstase e anhipóstase são usadas para descrever o relacionamento de Jesus com a natureza humana.

Algumas perspectivas sustentam que a natureza humana de Cristo é individualizada como a natureza humana do Filho de Deus. Outros dizem que a união das naturezas divina e humana em Cristo é “antiposta” no sentido de que a natureza humana de Cristo não é pessoal em si.

União hipostática

União hipostática é um termo para resumir a união das naturezas divina e humana em Jesus Cristo. A palavra “hipóstasis” vem do grego e significa “pessoa”.

A doutrina da união hipostática é um dos fundamentos da fé cristã. Sua base nas Escrituras afirma que Jesus é ao mesmo tempo Deus e homem. Por exemplo, o Evangelho de João diz: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (João 1:1). Também diz: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade” (João 1:14). Outras bases bíblicas citadas são Filipenses 2:6-11; Romanos 1:2-5; 9:5; 1 Timóteo 3:16; Hebreus 2:14; 1 João 1:1-3.

O conceito de Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem aparece de forma explícita como expressão na Carta de Ptolomeu a Flora, no século II.

A doutrina da união hipostática foi sumarizada pela no Concílio de Calcedônia, em 451. O Concílio declarou que Jesus Cristo tem duas naturezas, divina e humana, perfeitas e indivisíveis. As duas naturezas não se misturam, nem se confundem, mas estão unidas em uma única pessoa