Anna Trapnell

Anna Trapnell (ativa c.1650) foi um profetisa puritana popular e ativista do movimento Quinto-Monarquista na Inglaterra do século XVII. Tinha uma pregação apaixonada, transes dramáticos e desafios às estruturas religiosas e políticas de seu tempo.

Nasceu em Stepney, Londres, por volta de 1620, filha de um construtor de navios. Sua infância em um ambiente marcado por desigualdades sociais pode ter influenciado seu engajamento posterior. Cresceu durante as Guerras Civis Inglesas e o Interregno, período de intensas transformações religiosas e políticas que moldaram sua visão de mundo.

Tornou-se uma pregadora itinerante, atraindo multidões com seus sermões e profecias, que muitas vezes criticavam o governo de Oliver Cromwell e a igreja estabelecida. Suas mensagens enfatizavam justiça religiosa e social, incluindo papéis ampliados para as mulheres na vida religiosa. Trapnell era conhecida por seus transes, nos quais afirmava receber revelações divinas, o que reforçava sua reputação como profetisa e gerava tanto admiração quanto controvérsia.

Sua postura crítica levou a perseguições, incluindo prisões e exílio. Em 1654, foi banida para as Ilhas Scilly. Durante o encarceramento, escreveu Anna Trapnel’s Report and Plea, defendendo suas ações e crenças, e A Legacy for Saints, onde narrou sua jornada espiritual e ofereceu orientação a seus seguidores. Esses escritos são fontes valiosas para compreender suas motivações e os desafios que enfrentou.

Trapnell representa o radicalismo religioso do século XVII, desafiando hierarquias tradicionais e defendendo maior igualdade espiritual e social. Em um contexto dominado por homens, reivindicou o direito de pregar e profetizar, abrindo espaço para a participação de outras mulheres na liderança religiosa. Seus textos oferecem perspectivas únicas sobre o panorama religioso e político de sua época e sobre as experiências de mulheres e dissidentes.

Hannah Whitall Smith

Hannah Whitall Smith (1832-1911) foi uma escritora, quaker, pioneira do feminismo cristão e líder do movimento Holiness e do movimento de Keswick.

Nascida em Filadélfia, Smith veio de uma família quaker e mais tarde se envolveu com o Movimento dos Irmãos (de Plymouth) e a Igreja Metodista. Aderiu ao movimento de Santidade e percorreu vários circuitos pregando a santificação.

O livro de Smith, “O Segredo do Cristão para uma Vida Feliz”, tornou-se um clássico no movimento de Santidade e tem sido amplamente lido por cristãos que buscam aprofundar sua caminhada espiritual. Neste livro, Smith enfatizou a importância de entregar a própria vontade a Deus, confiando em Seu amor e cuidado e buscando viver uma vida de santidade e alegria em meio aos desafios da vida.

Esteve na Inglaterra junto de seu marido Robert Pearsall Smith, onde fundou a Convenção de Keswick, um encontro anual que reunia crentes para um tempo de ensino, adoração e comunhão focado no tema da santidade.

Hannah Whitall Smith na Broadlands Conference – pintura de Edward Clifford, 1887.

Herbert Henry Howard Booth

Herbert Henry Howard Booth (1862-1926) foi um reformador social britânico e filho de William e Catherine Booth, os fundadores do Exército de Salvação.

H.H.H. Both desempenhou um papel significativo no desenvolvimento do Exército de Salvação no Reino Unido e em todo o mundo, ao mesmo tempo em que foi pioneiro em novas abordagens de serviço social e evangelismo.

As atividades de assistência social de Herbert concentravam-se em abordar as causas profundas da pobreza e da desigualdade social. Ele foi um pioneiro do movimento “slum work”, que envolvia o envio de trabalhadores do Exército de Salvação para viver nas áreas mais pobres das cidades, onde eles poderiam trabalhar ao lado da população local para melhorar suas condições de vida e fornecer-lhes assistência prática.

As atividades internacionais de Herbert foram focadas em expandir a missão do Exército de Salvação para outras partes do mundo. Viajou extensivamente, estabelecendo novas filiais do Exército de Salvação em países como Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Ele também foi uma figura chave no desenvolvimento do Exército de Salvação nos Estados Unidos, onde serviu como comandante nacional da organização de 1904 a 1913.

Ao longo de sua vida, Herbert permaneceu comprometido com a visão de seus pais de usar a igreja para provocar mudanças sociais. Era um orador carismático e um escritor prolífico, e usou sua plataforma para defender reformas sociais e políticas, incluindo o sufrágio feminino e a abolição da pena de morte.

Herbert Henry Howard Booth compôs os hinos Grace there is my every debt to pay, traduzido como Ó irmãos, por fé louvemos a Jesus (149) e Let me love Thee, traduzido como Ó Senhor da glória (276)

Feminismo cristão

O feminismo cristão é a atitude e os vários movimentos que compreendem que em Cristo não há distinções sociais entre os gêneros (Gálatas 3:28), visto ser a mulher e o homem criados igualmentes à semelhança de Deus (Gênesis 1:27).

Como um fenômeno da história recente, vários movimento esposaram tais ideais, mas sem plenamente adotar essa identidade de feminismo cristão. São exemplos o feminismo francês liderado por Sarah Monod, o movimento de temperança e abolicionismo norteamericano, o pentecostalismo siciliano, a reforma do machismo latino-americano, dentre outros. Não se trata de um fenômeno social ou movimento unificado, mas várias agendas e expressões diversas que buscam a igualdade de agência humana em diversas áreas independente de gênero.

Uma vertente que encampou a designação de feminismo cristão é um movimento evangélico que surgiu nos Estados Unidos durante as décadas de 1960 e 1970, com o objetivo de promover a igualdade de gênero dentro da igreja cristã e corrigir as interpretações patriarcais acerca das Escrituras. Esse movimento estava enraizado no movimento feminista mais amplo da época, que buscava abordar questões de desigualdade de gênero em todas as áreas da sociedade.

Uma das figuras-chave no desenvolvimento do feminismo cristão evangélico foi Letha Dawson Scanzoni, co-autora do livro “All We’re Meant to Be: A Biblical Approach to Women’s Liberation” com Nancy Hardesty em 1974. Este livro foi um dos a primeira a aplicar princípios feministas à interpretação bíblica, argumentando que a Bíblia não justifica o domínio masculino e que as Escrituras afirmam a missão das mulheres na liderança da Igreja.

Outra figura importante no movimento feminista cristão evangélico foi Pamela Cochran, que fundou a organização Cristãos pela Igualdade Bíblica (CBE) em 1987. A CBE defende a inclusão total de mulheres na liderança da igreja e apoia o uso de linguagem neutra em termos de gênero na tradução das escrituras . Cochran também escreveu extensivamente sobre teologia feminista e a interseção do cristianismo e do feminismo.

Nancy Hardesty, co-autora de “All We’re Meant to Be”, também foi uma figura proeminente no movimento feminista cristão evangélico. Escreveu vários livros sobre o tema, incluindo “Women Called to Witness: Evangelical Feminism in the 19th Century” e “Great Women of Faith”, que destacou as contribuições das mulheres na tradição cristã.

Juntas, Scanzoni, Cochran, Hardesty e outras feministas cristãs evangélicas fizeram contribuições significativas para o esforço contínuo de promover a igualdade de gênero dentro da igreja cristã. O trabalho delas desafiou as interpretações patriarcais das escrituras e ajudou a criar espaço para as mulheres assumirem papéis de liderança na igreja.

Mercy Amba Oduyoye

Mercy Amba Oduyoye (1934-) teóloga metodista ganense.

Oduyoye estudou teologia nas universidades de Gana e de Cambridge e lecionou na Universidade de Ibadan, Nigéria, além de passagens por Harvard, Princeton, Yale e no Union Theological Seminary.

Organizou o Circle of Concerned African Women Theologians para corrigir vieses eurocêntricos, patriarcais e coloniais.

Entre suas obras estão Women and Ritual in Africa  (1992), Feminist Theology in an African Perspective (1994), Daughters of Anowa: african women in patriarchy (1995), Beads and Strands: Reflections of an African Woman on Christianity (2004) e Introducing african women’s theology (2001).

BIBLIOGRAFIA

Pui-Lan, Kwok. “Mercy Amba Oduyoye and African women’s theology.” Journal of Feminist Studies in Religion 20.1 (2004): 7-22.

Oluwatomisin Olayinka Oredein. The Theology of Mercy Amba Oduyoye Ecumenism, Feminism, and Communal Practice. University of Notre Dame Press, 2023.