Período dos juízes

O período anterior à monarquia e posterior à conquista de Canaã. Coincide com o final da idade de Bronze e início da idade do Ferro, quando os israelitas viviam em uma sociedade tribal. Os livros de Juízes e Rute, bem como parte dos livros de Josué e 1 Samuel, são ambientados nesse período.

Os juízes (sophetim) eram líderes militares que apareceram para enfrentar opressores específicos. Não há alusão de que suas autoridades alcançavam todo o povo de Israel ou que sucederam um a outro.

Idade do Bronze

Período arqueológico (3300-1200 a.C.) caracterizado pela ampla transição da sociedade agrária para a urbana, pela cultura escribal e pelo comércio de longa distância.

Um dos pilares da economia pastoral urbana no Levante era a produção e o comércio de têxteis. Na segunda metade do terceiro milênio a substituição de linho por lã liberou extensões consideráveis ​​de terras aráveis ​​para a agricultura básica, enquanto a produção de fibras se deslocou para as zonas marginais, mais adequadas à ovinocultura.

Coincide com surgimento da civilização sírio-cananeia, o período dos patriarcas e do êxodo.

Código de Hamurabi

É um conjunto de leis compiladas durante o reinado de Hamurabi em c.1750 a.C. na Babilônia. Constitui um importante paralelo bíblico, principalmente para as normas de Êx 20-23.

Não se trata de um código legal no sentido moderno, mas uma compilação de normas, a maioria de leis casuísticas (aquelas que declaram uma ordem ou proibição condicional). Outras compilações legais já existiam em várias sociedades mesopotâmicas, mas o Código de Hamurabi é o mais completo.

O rei Hamurabi, do Antigo Império Babilônico, expulsou invasores, juntou cidades vizinhas e fez da Babilônia a capital. Seu código é provavelmente uma compilação de decisões tipicamente invocadas por analogia no direito costumeiro mesopotâmico. Não há indicações de que tenha sido citado ou empregado por subsunção.

Esta estela foi encomendada por Hamurabi, provavelmente após seu 35º ano de reinado, quando ele derrotou Zimri-Lim, governante de Mari. É um monumento monolítico talhado em rocha de diorito. Compreende 46 colunas escritas em acádio. São 282 normas legais em 3.600 linhas. A numeração vai até 282, mas a cláusula 13 foi excluída por provável motivo de mau agouro. Possui 2,25 m de altura, 1,50 m de circunferência na parte superior e 1,90 m na base.

Código de Hamurabi organizado tematicamente

  • Direito processual: acusações falsas (1-4), alteração de decisões legais (5), questões de testemunhas (7, 9-12).
  • Direito penal: Roubo (6-12, 21-25, 259-260), Compra de propriedade roubada (6-7), sequestro (14), assassinato (153).
  • Escravidão: (15-20) escravidão temporária para pagar dívidas (117-119), mulheres escravizadas e esposas (141, 144, 146-147), filhos de escravos podem adquirir direitos de filhos naturais (171-172), direitos da mãe e dos filhos quando a esposa é livre e o marido é escravo (175-176), marcação para venda (226-227), preço em caso de morte acidental (252), questões de compra (278-282).
  • Soldados: (26-29, 32-35) e esposa de prisioneiros de guerra (133-135)
  • Direito imobiliário: usucapião (30-31), venda ou transferência de título de propriedade (imóvel alugado: 36-38, posse: 39-40), inquilino ou agregado (42-47, 253-256), contratação de alguém para cultivar terra que não tinha sido usada (60-65)
  • Responsabilidade de danos materais: inundação e Irrigação (53-56), pastoreio ilegal (57-58), corte de uma árvore (59)
  • Dívidas: produto da terra como garantia (48-52), escravidão temporária para pagar (117-119), acordos pré-nupciais (151-152)
  • Direito laboral: (256-257, 261, 272-277)
  • Corretagem e comércio: conflitos com o comerciante (100-107)
  • Tabernas: (108-111)
  • Confiar bens a terceiros em custódia: (112-113, 120-126)
  • Restrição ao uso da força para recuperação de posse: (114)
  • Prisioneiros: (115-116)
  • Crimes sexuais e acusações: (127-132), Incesto (154-158)
  • Custos de construção e passivos: (228-233)
  • Custos de envio e responsabilidades: (234-240)
  • Aluguel de animais: (241-249, 268-271)
  • Responsabilidades dos pastores: (262-267)
  • Lesões corporais: (195-205), morte acidental (206-208), aborto (209-214), lesões de um animal (251-252)
  • Profissão médica: (206), custos cirúrgicos e negligência (215-223), custos veterinários e negligência (224-225)
  • Direito de família: abandono: esposa do prisioneiro de guerra (133-135), marido abandona a esposa (136), divórcio: o marido deseja se divorciar da esposa (137-140), a esposa deseja se divorciar do marido (141-143), poligamia: esposa e serva (144-147), a primeira esposa sofre de longa doença (148-149), responsabilidade por dívidas: (151-152), incesto: (154-158), casamento: (159-161), problemas com o dote se a esposa morrer: (162-164), herança: direito da esposa de distribuir os bens dados a ela (150), partilha (166-167), deserdar um filho (168-169), direitos dos filhos da esposa e filhos da serva (170-171), direitos de esposa após a morte do marido (171-172), distribuição do dote quando a esposa morre após o novo casamento (172-174), direitos da mãe e dos filhos quando a esposa é livre e o marido é escravo (175-176), viúva guardiã dos bens dos filhos após novo casamento (177), direitos de herança de uma filha (178-184), adoção: (185-193) cuidados com a criança: (194).

Paralelos entre a Bíblia e o Código de Hamurabi

SAIBA MAIS

Código de Hamurabi: um resumo

Mari

Sítio arqueológico na Mesopotâmia (Tel-el-Harari), no oeste da atual Síria. Localizada próximo ao Eufrates (c. 25 km), a cidade de Mari floresceu como centro comercial e político entre 2900 aC e 1750 aC. As escavações começaram em 1925 e em 1933 foi anunciado a descoberta de cerca 25.000 tabuletas na biblioteca queimada de Zimri-Lim escrita em acadiano de um período de 50 anos entre cerca de 1800 – 1750 a.C.

Mari constitui um relevante testemunho histórico para a Idade do Bronze Médio. Apesar de não haver muitos paralelos diretos com a literatura bíblica, Mari informa muito sobre costumes, nomes e temas encontrados na Bíblia. Há estelas sagradas, revelações proféticas registrados por escrito, a ascensão do jovem herói à realeza, nomes como Naor, Harã, Hazor, Laís, os pastoralistas seminômades amoritas, dentre outros.

As profecias escritas em Mari constituem um gênero literário importante para compreender seu análogo bíblico. Junto de outras profecias assírias datadas dos reinados de Essaradom (680-669 a.C.) e Assurbanipal (668-627 a.C.), as profecias de Mari formam um corpus de 130 textos cuneiformes desse gênero, estranhamente restritos a essas duas instâncias. Obviamente, esses documentos separados dos escritos bíblicos por mais de um milênio não influenciaram diretamente a composição das Escrituras Hebraicas, mas providenciam dados valiosos sobre os contextos histórico, social e literário,

BIBLIOGRAFIA

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Amarna

Tel el-Amarna é o sítio arqueológico da antiga Akhetaton, a capital do Egito no século XIV a.C. durante o reinado de Amenhotep IV.

As cartas de Amarna são uma coleção de 382 tabuletas cuneiformes do século XIV a.C. da correspondência entre vários governantes do Antigo Oriente Próximo e dos faraós egípcios do Novo Império Amenhotep III, Amenhotep IV (Akhenaton), Smenkhkara e Tutankhamon.

O reinado de Akhenaton (1353-1336 aC), conhecido como ‘o faraó herege’ foi marcado por amplas reformas religiosas que resultaram na supressão das crenças politeístas e na elevação de seu deus pessoal Aton à supremacia.

Os templos de todos os deuses, exceto os de Aton, foram fechados, as práticas religiosas foram proibidas ou severamente reprimidas e a capital do país foi transferida de Tebas para a nova cidade do rei, Akhetaton (Amarna). Efetivamente, foi a primeira religião monoteísta de estado da história.

Em 1887 uma mulher local que estava cavando no barro em busca de fertilizante descobriu essas tábuas cuneiformes de argila. Elas contém 350 correspondências do Egito com a Assíria, Hatti, Mitanni, Babilônia e cidades-estados do Levante. Há referências a várias cidades cananeias mencionadas na Bíblia, dentre eles a carta a ‘Abdi-Heba, rei de Jerusalém. Em outras 32 tabuletas são exercícios de treinamento escribal, com valiosos textos literários como o conto de Adapa. Esses documentos fornecem uma janela para as relações internacionais da Idade do Bronze tardia.

O período de Amarna pode ser considerado a época da primeira globalização. Mercadorias do Extremo Oriente eram trocados via o Oceano Índico. O Egito comercializava comnos hititas. Há indícios de uma integração que envolvia toda a Bacia do Mediterrâneo.

Além de providenciar informações sobre o contexto bíblico, o período de Amarna fornece O grande hino a Aton ou Aten que apresenta paralelismo com o Salmo 104. As hipóteses de que o monoteísmo israelita seja devedor do monoteísmo da Reforma de Akehnaton hoje são desconsideradas: ontologicamente, Aton e Yahweh possuem atributos distintos.

Personagens importantes da história egípcia — Akhenaton, Nefertiti, Tutankhamon– viveram no período de Amarna.

BIBLIOGRAFIA

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The Amarna Project

Sara

Sara, em hebraico שָׂרָ֖ה, grego Σαρρα, a primeira das quatro matriarcas hebraicas, esposa de Abraão. Sua história aparece primariamente no Ciclo de Abraão (Gn 11:26-25:12) em Gênesis.

O nome Sarai, e sua variante Sara, significa “princesa” ou “dama”. Possivelmente é cognato do acadiano Sharratu, o nome da esposa do deus da lua Sin.

De origem provavelmente mesopotâmica, acompanhou o marido em suas peregrinações para Canaã e Egito. (Gn 11:29-31; 12:5). Chamada de irmã de Abraão (Gn 12:10-20; 20:1-18) em incidências quando ela foi tomada por governantes contra sua vontade.

Por um longo período, Sara não teve filhos (Gn 11:29-30). Depois que sua serva Agar deu à luz Ismael (Gn 16:1-6; 21:9-14), Deus disse a Abraão, cujo nome até então era Abrão, para mudar o nome de “Sarai” para “Sara” (Gn 17:15). E anunciou que ela viria a ser mãe de um filho.

No nascimento de seu filho, Isaque (que significa risos ou gargalhadas) teria dito “Deus me fez rir, para que todos os que ouvem riam de mim” (Gn 21:1-7).

A morte de Sara é registrada com brevidade. Teria morrido em Quiriate-arba ou Hebrom à idade de 127 anos. Foi enterrada por Abraão na caverna de Macpela (Gn 23; 25:10; 24:67).

Nenhuma outra referência a Sara aparece nas Escrituras Hebraicas, exceto em Is 51:2. Lá, o profeta apela “Olhai para Abraão, vosso pai, e para Sara, que vos deu à luz; porque, sendo ele só, eu o chamei, e o abençoei, e o multipliquei”.

No Novo Testamento Sara aparece no elenco dos heróis da fé de Hebreus 11: “Pela fé, também a mesma Sara recebeu a virtude de conceber e deu à luz já fora da idade; porquanto teve por fiel aquele que lho tinha prometido” (Hb 11:11). Paulo faz menções a ela (Rm 4:19; 9:9; Gl 4:21), utilizando-a como um tipo, principalmente em contraste com Agar.

Sara aparece citada em 1 Pe 3:6 como exemplo de obediência. Entretanto, não há parte em Gênesis em que Sara chama-o de Senhor, exceto Gn 18:12, onde não se refere a obediência. Ademais, Abraão é retratado obedecendo as vontades de Sara (Gn 16:2, 6; 21:12). Josefo (Contra Apião 2.25) e Filo (Hypothetica 7.3) retratam Sara como exemplo obediência, revelando ser esse o entendimento do século I d.C.

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VER TAMBÉM

Tabuletas de Nuzi