Apocalipse Siríaco de Baruque

O Apocalipse de Baruque, também conhecido como 2 Baruque ou Apocalipse Siríaco de Baruque, filho de Nerias, é uma obra pseudepigráfica cujo tema central é a questão de saber se o relacionamento de Deus com a humanidade é justo. O título Apocalipse de Baruque compreende dois textos pseudepigráficos judaicos distintos, escritos entre o final do século I e o início do século II d.C., atribuídos a Baruque, filho de Nerias, do século VI a.C.

O Apocalipse Siríaco de Baruque é preservado principalmente na Peshitta Siríaca do século VI. Em contraste, o Apocalipse Grego de Baruque ou 3 Baruque é mais comumente encontrado em manuscritos gregos. Embora originalmente composta em hebraico e atribuída a Baruque, o secretário do profeta bíblico Jeremias, a obra adquiriu referências cristãs. O texto aborda a justiça divina, uma preocupação central da comunidade judaica após a queda de Jerusalém em 70 d.C., sugerindo que foi provavelmente escrito por volta de 100 d.C.

O Apocalipse Siríaco desenvolve-se através de uma série de orações e visões, contemplando os sofrimentos dos justos e explicando-os como um meio de santificação para o povo escolhido de Deus.

A narrativa começa com Deus alertando Baruque sobre a destruição iminente de Jerusalém e instando-o a deixar a cidade com outros indivíduos piedosos. Baruque se esforça para compreender como as promessas de Deus a Israel ainda podem ser cumpridas, apesar da ruína do Templo, mas Deus o assegura de que os problemas de Israel não serão permanentes.

Após a captura de Jerusalém pelos caldeus, Baruque recebe mais revelações sobre o futuro castigo dos infiéis e ímpios, bem como sobre o fim dos tempos. Através de uma voz celestial, Baruque aprende sobre o futuro, marcado pela opressão e pela era messiânica de alegria e ressurreição. O texto prossegue com discussões sobre a restauração e eventual destruição e reconstrução de Sião, juntamente com o destino dos convertidos e apóstatas.

Em uma parte central do Apocalipse, Baruque oferece uma grande oração, cheia de humildade diante da majestade de Deus. Recebe visões e interpretações proféticas sobre o curso dos eventos históricos, desde Adão até o Messias. O texto destaca a importância de não se lamentar pelos que morrem, mas de encontrar alegria nos sofrimentos presentes.

Por fim, o Apocalipse termina com Baruque sendo encarregado por Deus de alertar o povo e preparar-se para sua trasladação ao céu. Escreve cartas às tribos exiladas, transmitindo a esperança de uma recompensa futura, a constância da aliança de Moisés e a liberdade do homem para seguir a Deus.

Apocalipse de Sedraque

Apocalipse de Sedraque (Sedrac ou Sedrach) é um antigo texto apócrifo escrito em grego, composto entre os séculos II e V dC.

Sobrevive em um único manuscrito do século XV (Bodleian Cod.Misc.Gr. 56, fols. 92–100).

Em sua transmissão passou por mais edições e assimilou um longo sermão sobre o amor para alcançar sua forma final por volta de 1000 dC. Originalmente de natureza judaica, o texto mais tarde adquiriu um caráter cristão por meio de revisões subsequentes.

A figura titular, Sedraque, é possivelmente o equivalente grego de Sadraque do Livro de Daniel, ou pode ser uma corruptela de Esdras (Esdras em grego). O texto guarda semelhanças com outros textos apócrifos atribuídos a Esdras, como os Apocalipses de Esdras.

Seguindo as convenções da literatura apocalíptica, o texto descreve como Sedraque recebe uma visão do céu, com o próprio Jesus retratado como aquele que o conduz até lá. Embora o texto pareça ter um verniz cristão, provavelmente se origina de uma obra judaica anterior, com Jesus substituído no lugar do nome de um arcanjo.

Um aspecto único do Apocalipse de Sedraqueé seu foco em questões éticas, particularmente o arrependimento e a misericórdia de Deus. Ao contrário de muitos outros textos apocalípticos que expressam amargura, esta obra apresenta Deus como paciente, disposto a ajudar os indivíduos a fazerem escolhas certas e sempre pronto a oferecer oportunidades de arrependimento. Essa ênfase nas preocupações éticas fornece uma perspectiva distinta dentro do gênero e ressalta a importância do arrependimento e da misericórdia divina na narrativa.

Tratado Asclépio

O Asclépio, sigla Ascl., é um tratado hermético encontrado no Codex VI de Nag Hammadi, especificamente seu oitavo tratado. É também chamado de  Logos teleios, o Perfeito Sermão, o Perfeito Discurso, Apocalipse de Asclépio, Apocalipse de Hermes Trimegisto.

Datando do intervalo estimado de 250-300 d.C., consiste em um diálogo entre Hermes Trismegisto e seu pupilo Asclépio. Ascl. 24. alude a uma perseguição movida pelos cristãos aos egípcios não cristãos, algo que pode ser datado entre 353 e 391, denotando ser essa uma interpolação tardia.

Embora apenas fragmentos do original grego, intitulado Discurso Perfeito, tenham sido preservados, existe uma versão completa em latim, muitas vezes atribuída a Apuleio. A versão copta, no entanto, é considerada uma tradução bastante precisa do grego, visto que a versão latina foi expandida quando da sua transmissão medieval.

Trismegisto inicia o tratado discorrendo sobre o sigilo do mistério hermético, destacando a compreensão das realidades profundas pela piedosa minoria. Ele afirma que aqueles que abraçam o conhecimento divino enviado por Deus tornam-se bons, imortais e até superam os próprios deuses.

Em resposta à pergunta de Asclépio sobre os ídolos, segue-se uma seção com ensinamentos apocalípticos (Asclépio 21-29), com influências das tradições egípcia e judaica. Trismegisto enfoca o Egito como a “imagem do céu”, o “templo do mundo” e a “escola de religião”. O Egito parece ser um paraíso – terra de deuses e belos templos. Mas de repente, o país se transforma em inferno com morte, sangue e dor. Por meio de imagens vívidas, descreve os horrores e males iminentes que acontecerão no Egito e no mundo, culminando na restauração do cosmos e no nascimento de um novo mundo.

O tratado termina com Trismegisto descrevendo o destino final do indivíduo. A alma se separará do corpo, enfrentará o Grande Daimon que supervisiona e julga as almas humanas e receberá sua recompensa ou punição apropriada.

BIBLIOGRAFIA

Corpus Hermeticum, t. II, Traités XII-XVIII, Asclepius, text établi par A.D. Nock, cinquième tirage revue, Paris, Les Belles Lettres, 1992.

Sowińska, Agata.  The meaning of Egypt in the apocalypse Λόγος Τέλειος /Asclepius (NHC VI, 8: 70, 3 – 76, 1; Ascl. 24-27). Vox Patrum57, 551–573. https://doi.org/10.31743/vp.4152

Apocalipses Acadianos

Os apocalipses acadianos, também chamados de profecias acadianas, constituem um grupo de seis textos da antiga Mesopotâmia. Esses textos incluem o Texto A, o Texto B, a Profecia de Šulgi (Texto C), a Profecia de Marduk (Texto D), a Profecia de Uruk e a Profecia Dinástica.

A classificação sobre o gênero textual desses escritos cuneiformes é debatida. Ora chamados de apocalipses, ora de profecias, talvez sua classicação como literatura preditiva seja melhor. Embora cada texto tenha características distintas, compartilham alguns aspectos.

Possuem previsões pós-evento, vaticinia ex eventu, em que descrevem os reinados de sucessivos reis, retratando-os em termos positivos ou negativos. Assim, justificam ideias ou instituições existentes ou prever a queda futura de adversários desprezados. Os textos geralmente repetem que “um rei ou príncipe surgirá”, mas com anonimato acerca desse governante, permitindo várias interpretações. No entanto, é provável que o significado pretendido fosse compreensível pela audiência intencionada.

A sequência de reis culmina em um governante ideal. Esse rei justo triunfa sobre os inimigos, restaura templos e garante prosperidade para a terra.

Em termos de data e origem, os textos A-D são originários de arquivos neoassírios, com fragmentos do Texto B originários de Nippur. Embora aparentemente pertençam aos governantes do final do segundo milênio, seu conteúdo também se alinha com as preocupações do período neoassírio. Já a Profecia de Uruk e a Profecia Dinástica têm origens babilônicas tardias, refletindo a história política da era helenística.

As Profecias de Marduk e Šulgi, pertencentes à mesma série. Elas são escritas na primeira pessoa com um estilo que lembra as autobiografias reais, enquanto as outras são escritas na terceira pessoa. Em contraste com os textos babilônicos tardios, as composições neoassírias incorporam elementos mitológicos, particularmente evidentes nas profecias de Marduk e Šulgi, que são apresentadas como discursos proferidos diante da assembleia divina.

Esses textos preditivos literários posussem semelhanças com alguns oráculos messiânicos na Bíblia hebraica. Há paralelos com Jeremias 23:5–6 e Zacarias 6:12–13, especialmente a expectativa compartilhada de uma futura era áurea de bem-estar da terra, a derrota dos adversários e a preservação florescente dos templos sob o domínio de um rei justo.

BIBLIOGRAFIA

Nissinen, Martti. Prophetic Divination: Essays in Ancient Near Eastern Prophecy. Berlin, Boston: De Gruyter, 2019. https://doi.org/10.1515/9783110467765

Literatura Apocalíptica

A literatura apocalíptica é a um gênero literário que surgiu em tempos de angústia e incerteza, muitas vezes em tempos de opressão política ou religiosa. Apresenta um estilo de escrita altamente simbólico e visionário, com foco nas revelações divinas sobre o futuro, a ordem cósmica e o triunfo final do bem sobre o mal. A literatura apocalíptica visa fornecer esperança, encorajamento e um senso de intervenção divina em tempos de crise.

Embora a literatura apocalíptica compartilhe semelhanças com os escritos proféticos, existem diferenças distintas. As mensagens proféticas geralmente abordavam as preocupações imediatas de seu público e forneciam orientação para o presente, enquanto os escritos apocalípticos se concentravam em eventos escatológicos de longo prazo e no triunfo final de Deus. Os escritos proféticos abordavam principalmente a nação de Israel e seus líderes, enquanto a literatura apocalíptica geralmente tinha uma perspectiva cósmica protagonista individual que recebia revelações divinas.

Existem trechos apocalípticos, como Daniel 7. Essa passagem é uma visão de quatro bestas que representam reinos terrestres, seguido pelo surgimento do “Filho do Homem” que recebe um reino eterno de Deus. Um exemplo no Novo Testamento é Mateus 24, no qual Jesus discorre sobre os sinais do fim dos tempos, incluindo a destruição do Templo.

A literatura apocalíptica surgiu durante tempos de turbulência e perseguição, particularmente durante os períodos helenístico e romano. Esses escritos surgiram em resposta à opressão política, à dominação estrangeira, ao sincretismo religioso e ao desejo de intervenção divina. Os textos refletiam as ansiedades e esperanças do povo judeu, fornecendo uma estrutura para entender suas dificuldades atuais e vislumbrar uma futura restauração.

O auge da literatura apocalíptica foi no Período do Segundo Templo e os anos imediatos à sua destruição, com vários exemplos:

  • 1 Enoque: Uma coleção de textos apocalípticos atribuídos a Enoque, descrevendo visões dos reinos celestiais, o julgamento vindouro e o destino dos justos e dos iníquos.
  • 2 Esdras (também conhecido como 4 Esdras): Uma obra apocalíptica judaica que aborda questões teológicas sobre teodicéia, o destino de Israel e a natureza do mal.
  • Apocalipse de João: O único livro apocalíptico canônico do Novo Testamento.
  • Apocalipse de Pedro: Uma obra pseudoepígrafa.

BIBLIOGRAFIA

Collins, John J.  The Apocalyptic Imagination: An Introduction to Jewish Apocalyptic Literature, 2nd ed. Eerdmans, 1998).

Nickelsburg, George W. E. Resurrection, Immortality, and Eternal Life in Intertestamental Judaism and Early Christianity, 2nd ed. Harvard University Press, 2006.