François Samuel Robert Louis Gaussen (1790-1863) foi um líder do réveil suíço do século XIX.
Nasceu em uma família de refugiados protestantes em Genebra. Foi um dos influenciados por Haldane durante sua estada em Genebra em 1817. Graduando-se na Universidade de Genebra em 1814, seguiu carreira ministerial, servindo como pastor em Satigny por doze anos, até que uma disputa com o consistório levou à sua suspensão. Em resposta, Gaussen co-fundou a Sociedade Evangélica, com foco na distribuição de Bíblias e no trabalho missionário.
Organizou uma congregação livre ligada ao movimento do réveil. Viajou como pregador à Itália e à Inglaterra, participando de atividades de renovação espiritual. Retornando a Genebra, assumiu docência na Escola de Teologia da Sociedade Evangélica, onde passou a lecionar com atenção especial ao segundo advento de Cristo e à interpretação profética.
Em 1819, publicou tradução francesa da Segunda Confissão Helvética. Seu compromisso confessional incluía afirmação da dupla predestinação, sem adesão ao supralapsarianismo, e defesa do sistema teológico reformado estruturado pela teologia federal. Lecionou, pregou e escreveu dentro desse marco, com ênfase na autoridade normativa da Escritura.
O principal eixo de sua contribuição teológica aparece na obra Théopneustie (1840). Nesse tratado, Gaussen defendeu a inspiração verbal e plenária da Bíblia. Afirmou que toda a Escritura procede de Deus e que o Espírito Santo supervisionou a redação das palavras que constituem o texto sagrado. A partir dessa origem divina, deduziu a infalibilidade da Bíblia, entendida como confiabilidade absoluta em tudo o que afirma sobre fé, prática, fatos e história. Seu alvo era a crítica racionalista do século XIX, que negava a natureza revelada da Escritura. Seu interesse não se concentrou em debates posteriores sobre inerrância técnica, mas na fundamentação da autoridade bíblica diante da teologia liberal.
Gaussen escreveu também Le Canon des Saintes Écritures, voltado à formação e reconhecimento do cânon bíblico. Produziu estudos e comentários sobre o livro de Daniel. Interpretou suas visões como representação da história humana e como testemunho profético de eventos futuros. Via o cumprimento das profecias como indicação da origem divina da Escritura e utilizou esse cumprimento como argumento apologético.
Sua escatologia pode ser definida como premilenismo histórico. Afirmou que Cristo retornará antes do milênio e que esse período terá existência futura e concreta. Adotou leitura futurista do Apocalipse, relacionando grande parte de suas visões ao segundo advento, e rejeitou propostas pós-milenistas que esperavam progresso geral da humanidade antes da volta de Cristo. Essa expectativa moldou sua prática pastoral e sua visão da missão cristã no contexto do réveil. Escreveu comentário e lições sobre o livro de Daniel, o qual lia como uma alegoria da história da humanidade, com prognósticos proféticos.
BIBLIOGRAFIA
Gaussen, L. Théopneustie ou, pleine inspiration des Saintes Écritures. Paris: Delay, 1840.
Gaussen, L. Theopneustia: The Plenary Inspiration of the Holy Scriptures. 1a edição em inglês. Londres, 1841.
