Bīt-PN

Aramaico para “Casa de [Nome pessoal]” é a fórmula para o nome dinástico e eponômio de vários pequenos estados semítico do Levante, ocorrendo principalmente na Idade do Ferro.

Aparecem tanto em inscrições neo-assírias (Bītu-PN) quanto em esparsas fontes arqueológicas desses próprios estados. O nome geográfico “Bīt-PN” aparecente tanto explicitamente quanto implicitamente pela menção como um progenitor. Alguns exemplos incluem Bīt-Abdadāni, Bīt-Adini e Bīt-Agūsi. Os assírios referiam esses governantes como descendentes dos fundadores como “filho de PN”.

A origem dessa fórmula, porém, é antiga. Em sumério a fórmula DUMU-PN indica membro de um povo ou descendente de um ancestral eponômio.

Relevante aos estudos bíblicos aparecem essa fórmula como “Beth-David” nas inscrições de Tel Dan e Mesa, bem como “Beth-Eden” em Amós 1:5.

BIBLIOGRAFIA

Younger Jr, K. Lawson. A political history of the arameans: from their origins to the end of their polities. Vol. 13. sbl Press, 2016.

Conto de Bagasraw

Manuscrito do Mar Morto 4Q550, Proto-Ester.

É um conjunto de seis fragmentos aramaicos encontrados em Qumran entre os Manuscritos do Mar Morto (c. 250 aC – 50 dC) publicado por J. T. Milik em 1992 e intitulado “4Q proto Aramaic Esther”.

Trata-se de uma “história da corte” que parece recontar as aventuras de um grupo de judeus na corte dos reis persas Dario e Xerxes. O protagonista é Bagasraw (Bagasro e Bagasrava), talvez filho de Patireza. Homem temente a Deus, Bagarasraw foi recompensado pelo rei persa por suas boas ações.

Outro membro da corte, Bagashe (ou Bagoshi) avisa Bagasraw sobre seus adversários.

No início do texto (conforme reconstrução), uma “princesa” também é mencionada.

A narrativa é ambientada na corte da Pérsia, com o final do texto menciona especificamente a Media, a Pérsia e a Assíria. O rei persa parece ser filho de Dario I, talvez mesmo rei em Ester, Assuero (Xerxes).

BIBLIOGRAFIA

https://www.deadseascrolls.org.il/explore-the-archive/manuscript/4Q550-1?locale=en_US

Cook, Edward M. “The Tale of Bagasraw.” Pages 437–39 in The Dead Sea Scrolls: A New Translation. Translated by Michael O. Wise, Martin G. Abegg, Jr. and Edward M. Cook. San Francisco: HarperOne, 1996.

Collins, John J., Deborah A. Green. “The Tales from the Persian Court (4Q550a–e) in Antikes Judentum und Frühes Christentum, pp. 39–50. Berlin, 1999.

Crawford, Sidnie White. “Has Esther Been Found at Qumran? 4Qproto-Esther and the Esther Corpus.” Revue de Qumrân 17 (1996), 307–325.

Milik, J. T. “Les modeles arameens du livre d’Esther dans la Grotte 4 de Qumran.” Revue de Qumran 15 (1992): 321–406.

VanderKam, James C. and Peter Flint. The Meaning of the Dead Sea Scrolls: Their Significance for Understanding the Bible, Judaism, Jesus, and Christianity. New York: HarperCollins, 2002.

Wechsler, Michael G. “Two Para-Biblical Novellae from Qumran Cave 4: A Reevaluation of 4Q550.” Dead Sea Discoveries 7 (2000): 130–72.

Bênção aarônica

Benção que aparece em Número 6:22-27. Chamada de bênção sacerdotal ou bênção aarônica por ser parte do ministério dos sacerdotes (Lv 9:22; Dt 10: 8; 21:5). Era uma declaração imperativa (os verbos estão no modo jussivo) do sacerdote depois de sair diante do altar para abençoar o povo.
Revolve em três temas sobrepostos: graça, paz e guarda.

E falou o Senhor a Moisés, dizendo: Fala a Arão e a seus filhos, dizendo: Assim abençoareis os filhos de Israel, dizendo-lhes:

‘O Senhor te abençoe e te guarde;

o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti

e tenha misericórdia de ti;

o Senhor sobre ti levante o seu rosto

e te dê a paz.’

Assim, porão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei.                               Nm 6:22-27

Sua mais antiga atestação aparece nos rolos de Ketaf Hinnom (c.650-587 a.C.), encontrado em Jerusalém em 1979.

Esta bênção faz parte do gênero imprecatório. Imprecações (bênção e maldição) são um cultural universal. Fórmulas imprecatórias do Antigo Oriente Próximo contêm frases referindo-se (1) ao semblante divino, (2) a elevação da face; (3) a guarda; e (4) concessão de paz (shalom). Colocar o nome de uma divindade em um lugar ou um povo a reivindicava-os para divindade e estabelecia sua presença.

A biblista Sharon Keller encontrou um “análogo egípcio” (c. 2134-2040) em uma carta:

“O Grande te louvará.

A face do Grande Deus será graciosa sobre ti.

Ele te dará pão puro com suas duas mãos.”

Não há consenso de qual contexto Nm 6:22-27 faça parte:

  • Talvez seja um perícope isolado e independente;
  • Pode ser a bênção dispensada a um nazireu (6:1-21);
  • Talvez faça parte das últimas leis dada no Sinai (5:1–10:10);
  • Pode ser o centro de uma estrutura quiástica de um contínuo de Lv 27:1 a Nm 10:10.

Duas expressões perdem sentido nas traduções literais, mas são elucidadas pelo contexto:

  • Resplandecer o rosto implica em concender benevolência e favor, (cf. Sl 4: 6; 31:16; 44:3; 67:1; 80:3,7,19; 119:135; Dn 9:17).
  • Elevar o rosto: O rosto caído conotava ira (cf. Gn 4:6,7) e o ocultar a face equivale a negar apoio, favor ou paz (cf. Dt 31:18; Sl 30:8; 44:25; Ex 33:14-15; Is 59:1-2; Mq 3:4).

A temática e a fraseologia dessa bênção (e da versão de Ketef Hinnon) ocorrem em vários salmos (Sl 31; Sl 71:3–5;  Sl 67:1–2).

Os salmos dos degraus 120–134 podem empregar a bênção aaraônica como pano de fundo. Essas alusões implicam em um recorrente uso dessa bênção no antigo culto do templo.

A fórmula de saudação das epístolas de Paulo “Graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo” (1Co 1:3; 2Co 1:2; Gl 1:3; Ef 1:2; Fp 1: 2; 2 Ts 1:2) alude a algumas das mesmas palavras da versão da benção aarônica da Septuaginta.

Entre os israelitas samaritanos quando o rolo da Torá é trazido à congregação abre-se na Bênção Aarônica e os participantes beijam esse trecho.

No judaísmo rabínico a bênção sacerdotal – birkat kohanim– é realizada nos serviços da sinagogas quando haja alguém da linhagem sacerdotal (kohem). Possui um ritual complexo, sendo pronunciado com a cabeça coberta e as mãos dispostas em um gesto específico.

No cristianismo é uma das alternativas para a bênção final do culto.

BIBLIOGRAFIA

Barkay, Gabriel; Marilyn J. Lundberg; Andrew G. Vaughn; Bruce Zuckerman. “The Amulets from Ketef Hinnom: A New Edition and Evaluation.” Bulletin of the American Schools of Oriental Research 334 (2004): 41–71.

Cohen, Chaim. “The Biblical Priestly Blessing (Num 6:24–26) in the Light of Akkadian Parallels.” Tel Aviv 20 (1993): 228–38.

De Souza, Elias Brasil. “The Ketef Hinnom Silver Scrolls: A Suggestive Reading of Text and Artifact.” The Near East Archaeological Society Bulletin 49 (2004): 27–38.

Fishbane, Michael A. “Form and Reformulation of the Biblical Priestly Blessing.” Journal of the American Oriental Society 103 (1983): 115–21.

In Lubetski et al. (eds.) Boundaries of the Ancient Near Eastern world. Sheffield, UK: Sheffield Academic Press, 1998.

Korpel, Marjo C. A. “The Poetic Structure of the Priestly Blessing.” Journal for the Study of the Old Testament 45 (1989): 3–13.

Liebreich, Leon J. “The Songs of Ascent and the Priestly Blessing,” Journal of Biblical Literature 74 (1955): 33-36.

Martens, Elmer A. “Intertext Messaging: Echoes of the Aaronic Blessing (Numbers 6:24–26).” Direction 38 (2009): 163–78.

Miller Jr, Patrick D. “The Blessing of God: An Interpretation of Num 6:22-27, ” Interpretation 29 (1975): 240-51.

Noth, Martin. Numbers: A Commentary. Old Test. Library 7. Philadelphia: Westminster, 1968.

Smoak, Jeremy D. “May Yahweh Bless You and Keep You from Evil: The Rhetorical Argument of Ketef Hinnom Amulet I and the Form of the Prayers for Deliverance in the Psalms.” Journal of Ancient Near Eastern Religions 12, no. 2 (2012): 202–36.

Smoak, Jeremy D. The Priestly Blessing in Inscription and Scripture: The Early History of Numbers 6:24-26. Oxford University Press, 2015.

Bíblia

Coleção de escritos sagrados considerados como Palavra de Deus escrita nas religiões abraâmicas. Trata-se de uma biblioteca circulante e viva, fixada em vários suportes, assumindo caráter de autoridade para a vida pessoal e cultual no Cristianismo.

Chamada internamente de as Escrituras, esta coletânea ganhou a atual designação de Bíblia (em grego βιβλία) por João Crisóstomo (século IV d.C.).

O termo Bíblia é o plural das palavras gregas bíblos, que significa “livro”, “papiro” e biblion, “livrinho”. Vale notar que livro na antiguidade referia-se a qualquer texto de tamanho variável, diferente dos atuais livros, convencionalmente entendido como um texto de tamanho significativo, geralmente acima de 50 páginas. Originalmente o termo grego he byblos, ou o menos correto ho biblos, se referia à camada interna da casca e parte do caule do papiro. Embora fosse um produto egípcios, a distribuição de papiro via Biblos,  a Gebal de Sl 83:7, Ez 27:9, uma antiga cidade portuária no atual Líbano, provavelmente influenciou a adoção do termo pelos gregos.

O termo aparece utilizado desde as Antigas Versões Gregas em Daniel 9:2 para referir-se aos livros (tais Bibliois) dos profetas. Já em 1 Macabeus 1:56 e 2 Macabeus 2:13-15 falam de coleções de “a biblia da lei” e “a biblia sobre os reis e os profetas”. No equivalente a Josué 8:30-35 na Septuaginta, (LXX Js 9:2) Josué constrói um altar em Siquém onde copia o biblos “Livro da Lei de Moisés”. Josefo refere-se aos 22 rolos (biblia) que constituem o cânon hebraico (Contra Apion 1.37).

Para referir-se ao Novo Testamento a forma plural Ta Biblia aparece nas obras de Clemente de Alexandria. E definitivamente nas obras de Orígenes.

Jerônimo, em suas traduções latinas, usa o termo biblioteca para descrever a coleção de escritos sagrados judeus e cristãos.

No final do século IV, João Crisóstomo refere-se ao Antigo e ao Novo Testamento como Ta Biblia em suas Homilias sobre a Epístola aos Colossenses e faz alusão nas Homilias sobre Mateus.

Com o tempo, biblia tornou-se um título comum para as sagradas escrituras dos cristãos em latim e outras línguas europeias.

Os judeus preferiram os termos Tanakh ou Miqra.

Um catálogo de uma biblioteca francesa do século IX fala explicitamente das Escrituras canônicas já como Bíblia.

Esta antologia foi canonizada, isto é, reconhecida como Escrituras em um longo processo. A partir do século IV passou a ser reproduzida entre cristãos como uma coletânea em poucos ou um só volume. Com a invenção da imprensa, popularizou-se sua edição em um só volume.

Sua mensagem é diversa, polifônica, mas coesa e coerente como em um mosaico, o qual não é algo fragmentário ou parcial, mas capaz de transmitir efetivamente sua comunicação revelada.

Seus livros no cânon protestante constituem 66 títulos.

Karl Barth

Karl Barth (1886-1968) foi um teólogo reformado suíço, principal proponente da neo-ortodoxia ou da teologia dialética.

Barth acreditava que a teologia deveria estar enraizada na Bíblia e focada na revelação de Deus por meio de Jesus Cristo. Assim, rejeitou a tentativa da teologia liberal de reconciliar o cristianismo com a cultura moderna, argumentando que a Palavra de Deus transcende o conhecimento e a compreensão humanos.

Seu trabalho mais famoso é a maciça Dogmática Eclesiástica.