Livro de Provérbios

O Livro de Provérbios é uma coleção de dizeres sapienciais. Representa uma das mais antigas formas de instrução (Torá aparece em 1:8, 4:2, 6:20). Integra os Ketuvim (Hagiógrafa ou Escritos) na divisão hebraica e os livros sapienciais ou poéticos na divisão cristã da Bíblia.

O título hebraico é Mishlei Shlomo, ou Provérbios de Salomão, uma referência ao Rei Salomão, ao qual boa parte dos provérbios são atribuídos a ele. A sabedoria de Salomão era famosa, tendo dito vários provérbios (cf. 1 Rs 4:29–34). Isso não implica que tenha sido o primeiro a dizê-los ou a compilá-lo, mas que integrava seu discurso de sabedoria.

Na Bíblia etíope é contado como dois livros. Messale corresponde 1–24 e Tägsas corresponde a 25–31.

Boa parte dos provérbios aparentam ser do repertório comum da sabedoria do Antigo Oriente Próximo, incorporando, por exemplo as Instrução de Amenemope.

A canonicidade do livro parece ser antiga e logo integrou o Antigo Testamento Grego (Septuaginta). Contudo, no Talmud há indícios que sua canonicidade juntamente com Eclesiastes e Cantares de Salomão era disputada ainda no final do século I d.C. (Talmud Bavli, Shabbat 30b). No entanto, na discussão de quais livros que tornam as mãos impuras, são mencionados Eclesiastes e Cantares, não há debate sobre Provérbios ( m. Yadaim 3:5).

No Antigo Testamento Grego, a ordem é Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares, provavelmente agrupados pela associação comum com Salomão.

Na Bíblia Hebraica, a sequência é Salmos, Jó e depois Provérbios. Provérbios termina com um poema sobre a mulher virtuosa e o próximo livro, Rute, é uma história sobre uma mulher virtuosa (Rute 3:11). (n. Baba Batra 146). No entanto, ainda no Talmud há a opinião que deve ser colocado entre Salmos e Jó. (b. Berakot 57b d.)

SOBRESCRIÇÕES

As sobrescrições são subtítulos para as sete coleções no livro de Provérbios:

1:1: Os provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de Israel
10:1: Os provérbios de Salomão
22:17: As palavras dos sábios
24:23: Estas palavras também dos sábios
25:1: Estes também são provérbios de Salomão, que os homens do rei Ezequias de Judá copiaram
30:1: As palavras de Agur, filho de Jaqué; um oráculo
31:1: As palavras do rei Lemuel, um oráculo que sua mãe lhe ensinou.

TEXTO GREGO

O Antigo Texto Grego (Septuaginta) contém uma recensão distinta, com uma ordem diferente. A versão massorética contém 4:7; 8:33; 16:1, 3; 20:14-19, os quais estão ausentes no grego. Porções presentes no grego que não estão no hebraico aparece no final de várias coleções, em 9:12, 18; 15:27, 29, 33; 16:1-9; 24:22; 27:24-27.

Na versão grega, Provérbios está dividido na seguinte forma:

1:1–24:1-22
30:1-14 Agur A
24:23-34 Palavras do Sábio
30:15-33 Agur B
31:1-9 Instruções da Mãe do Rei Lemuel
25-29 Compilações da época de Ezequias
31:10-31 Acróstico da Mulher Virtuosa

BIBLIOGRAFIA

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Pré-milenarismo

O pré-milenismo ou pré-milenarismo é uma teoria interpretativa que entende Apocalipse 20:1-6 como retorno de Cristo à Terra antes do milênio, quando reinará mil anos na terra antes do juízo final.

A maioria dos pré-milenistas acredita que mil anos designam um período literal de tempo, mas não necessariamente, pois há quem acredite que os mil anos sejam uma hipérbole para um período longo e indeterminado. O que caracteriza o pré-milenismo, comparado com o amilenismo e pós-milenismo, é a crença no reino distinto da Igreja, consumado pelo reinado visível de Cristo nesse período.

Outras doutrinas também associadas ao pré-milenarismo são a distinção entre Igreja e Reino, o retorno iminente de Jesus

Os adeptos dessa interpretação estão divididos principalmente entre pré-milenistas históricos, dispensacionais, dispensacionais progressivos, temáticos e nuances locais, como pré-milenismo coreano.

Os pré-milenistas históricos, prevalentes na era patrística ante-nicena, esperavam a completude do Reino em seus dias, em algum momento futuro. Nessa visão, a sequência de eventos em Apocalipse 19-20 é lido cronologicamente. A volta de Cristo no capítulo 19 leva à punição da besta e do falso profeta. No capítulo 20, diz-se que Satanás está preso por mil anos, período durante o qual os santos que foram ressuscitados reinam com Cristo na terra. Após este período, haverá uma rebelião final e o julgamento do Diabo e de todos aqueles que não ressuscitaram anteriormente.

Já os pré-milenistas dispensacionalistas esperam o milênio dentro de uma série pré-estabelecida de eventos, vendo o retorno de Jesus em duas fases, além de tenderem a esperar um arrebatamento coletivo antes de um período de tribulação (pré-tribulacionismo). Dentre os vários modelos, vale distinguir entre os dispensacionalistas clássicos e progressivos. Os dispensacionalistas clássicos enfatizam um reino milenar futuro e literal no qual Cristo governará a terra por mil anos. Assim, há uma clara distinção entre a era presente e a futura era do reino. Os dispensacionalistas progressivos, embora ainda afirmem um futuro reino milenar, dão ênfase no reino inaugurado, vendo a era atual como uma realização de alguns aspectos do governo do reino de Deus por meio de Cristo, além de considerar os destinos de Israel e da Igreja já unidos desde a cruz. Para os dispensacionalistas progressivos, o reino milenar terá de ser na Jerusalém terrena.

Adeptos do pré-milenarismo temático considera o milênio como um período de tempo simbólico entre o retorno de Cristo e a nova criação (de Ap 21-22). O milênio simboliza os principais temas teológicos do Apocalipse, aliás, o livro é lido (como faz Gordon Fee) principalmente sob aspectos temáticos e não cronológicos. A duração do milênio não deve ser entendida literalmente, mas sim como um contraste com o período relativamente curto de opressão que o povo de Deus experimentará. Essa opressão é caracterizada pelo sofrimento suportado pelos fiéis (Apocalipse 11:2-3, 12:6, 14, 13:5). O propósito do milênio, em resposta a esses sofrimentos, é reverter a dor em alegria. Nesta reversão, os santos, que foram vítimas da violência de Satanás, são justificados, enquanto o próprio Satanás é condenado.

BIBLIOGRAFIA

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VEJA TAMBÉM

Escatologia

Quiliasmo

Pós-milenarismo

Pós-milenarismo ou pós-milenismo sustenta que o Milénio de Apocalipse 20 seria um período único iniciado pela Igreja, abrangendo dimensões espirituais e físicas.

De acordo com proponentes como Boettner e Grenz, a influência da Igreja estender-se-á globalmente, moldando a cultura, a política e a economia para estabelecer o domínio de Cristo. Espera-se que esta influência leve a uma grande prosperidade. Prevê-se que a Igreja se destaque no evangelismo e na maturidade espiritual, mantendo a hegemonia por um período prolongado, mas não especificado, potencialmente não limitado a 1.000 anos. Eventualmente, ocorrerá uma rebelião, levando ao retorno de Cristo para julgamento e à criação de um novo céu e nova terra. Nesta perspectiva, a Igreja substitui Israel e herda o seu propósito e promessas, assumindo um papel de sacerdócio nacional para o mundo.

As representações do Antigo Testamento da missão global de Israel seriam parte da missão da Igreja, alinhando-se com a Grande Comissão de evangelizar e fazer discípulos em todo o mundo.

A interpretação pós-milenista sugere paralelos entre o propósito da Igreja e a aliança de Deus com Israel para abençoar o mundo. O crescimento retratado em parábolas, como a do grão de mostarda, implica que a Igreja influenciará progressivamente o mundo, tornando-se eventualmente a instituição dominante.

HISTÓRIA DA DOUTRINA PÓSMILENISTA

As raízes do pós-milenismo remontam aos antecessores que, embora inconsistentes na articulação da doutrina, lançaram as bases para o seu desenvolvimento. Joseph Mead (1586-1638/1639) contribuiu para a formulação inicial do pós-milenismo através de seu ensino sobre o “quiliasmo progressivo”, adiando o intervalo apocalíptico de 1.260 anos a partir do ano 400, conforme indicado em Apocalipse 11:3 e 12:6. Isto preparou o terreno para a forma imperfeita do pós-milenismo.

Daniel Whitby (1638-1726) desenvolveu ainda mais o pensamento pós-milenista ao imaginar a conversão do mundo através de meios evolutivos facilitados pelo Evangelho. Ele profetizou o regresso dos Judeus à Terra Santa, a derrota do Papado e do Islão, e o início de um período de mil anos de paz, justiça e felicidade – a “era de ouro” da civilização. Os ensinamentos de Whitby estabeleceram uma base conceitual para a crença pós-milenista de que o mundo, através da aceitação generalizada das Boas Novas, experimentaria uma era de paz e justiça universais antes do retorno de Cristo para o Juízo Final.

Campegius Vitringa (1659-1722) e Jacques Abbadie (1654-1727), influenciados por Whitby, viam o Reino milenar como um resultado futuro das reformas da Igreja. Esta perspectiva encontrou seguidores em Spener, Driessens, Joachim Lange (1670-1744) e Pastorini (século XVIII). Johann Bengel (1687-1752) introduziu o conceito de um duplo milênio, dividindo a prisão de Satanás, o Reino de mil anos, e o Fim do Mundo e o Grande Julgamento em períodos de tempo distintos. Esta ideia foi continuada por Johann Henrik Jung Stilling (1740-1817), que postulou um milênio alegórico a partir de 1836.

O pós-milenismo ganhou prevalência entre os protestantes americanos nos séculos XIX e XX. O movimento se solidificou durante o Segundo Grande Despertar, marcado por reinterpretações dos acontecimentos que se seguiram à Revolução Francesa. Este período viu o surgimento do pós-milenismo com conotações implícitas de destino manifesto vitoriano e americano. Figuras influentes como Charles Finney, proponentes do Evangelho Social, a Escola de Princeton, Rushdoony, Greg Bahnsen e Gary North desempenharam papéis cruciais na formação e promoção do pensamento pós-milenista durante esta era. O movimento tornou-se uma força distintiva, misturando otimismo teológico com aspirações sociais e culturais, contribuindo para o seu impacto duradouro no protestantismo americano.

VARIEDADES DO PÓS-MILENISMO

O pós-milenismo tem muitas variedades.

  • Pós-milenismo da forma perfeita: a Primeira Ressurreição já ocorreu.
  • Pós-milenismo da forma imperfeita: a Primeira Ressurreição ainda não ocorreu
  • Pós-milenismo simbólico: o milênio como o período entre a Primeira e a Segunda Vindas de Cristo. Similar ao amilenismo.
  • Pós-milenismo futurista: o milênio seria um período futuro de prosperidade espiritual, dentro e perto do final do período entre o primeiro e segundo adventos.
  • Pós-milenismo Revivalista: o milênio representa um período de tempo desconhecido marcado por um reavivamento cristão gradual, seguido por um evangelismo generalizado e bem sucedido. Depois desses esforços está previsto o retorno de Cristo.
  • Pós-milenismo reconstrucionista: a Igreja aumenta sua influência através do evangelismo e da expansão bem-sucedidos, finalmente estabelecendo um reino teocrático de 1.000 anos de duração (literal ou figurativo) seguido pelo retorno de Cristo
  • Teonomistas: movimento político entre alguns reformados norteamericanos relacionado com o dominionismo, que busca efetivar politicamente o milênio.

Uma característica comum a todas as variedades de pós-milenismo é a suposição da implementação do Reino dos justos na Terra, mas sem a presença visível de Cristo. Em outras palavras, um reino anterior à Segunda Vinda e a presença pessoal de Jesus Cristo.

Perícope

Perícope vem do grego “recorte ao redor”, é um trecho de texto com sentido completo. Localizar e delimitar um perícope é um dos primeiros passos para entender a mensagem inteira de um texto.

Idealmente, cada capítulo indicaria um perícope, mas isso não acontece. Não existe um padrão unificado de divisão em perícope. Tradutores, editores e biblistas dividem a Bíblia com critérios diferentes.

É difícil dividir os textos em perícopes, pois os textos antigos eram contínuos. Na Bíblia Hebraica às vezes sinais finais ou espaços ajudam a dividir perícopes.

A divisão pode ser deduzida pela narratologia, retórica e estilística. Para uma interpretação coerente, os mesmos critérios de divisão devem ser usados de forma consistente.

Um perícope pode ser muito curto, como um aparte para glosar sobre um detalhe, ou aparecer em diferentes livros, como o Ciclo de Elias e Eliseu.

Um perícope pode ocorrer dentro de outro ou fazer parte de um perícope maior se for considerado diferentes critérios.

Indicadores de início

  1. Tempo e espaço: na narrativa podem indicar o início, a continuação, a ação, a conclusão ou a repetição de um episódio. (Mt 2:1; 4:1; 8:5).
  2. Personagens: introduzidos em cena. (Mc 7:1; Lc 1:26).
  3. Argumento: com mudança de assunto, introduzidas por “finalmente…”, “a propósito de…” (1 Co 12:1; 2 Tm 4:6).
  4. Anúncio do tema: alguns perícopes anunciam em seu final os assuntos tratados a seguir (Hb 2.17-18 c/ 3.1 –5.10).
  5. Introdução: indicada no próprio texto. (Ap 2:1,8,12).
  6. Vocativo ou novos destinatários: indicam a quem é dirigido. Ex: Gl 3:1; Ap 2:1,8,12.
  7. Introdução ao recurso: o próprio texto introduz a fala de um novo personagem. (Lc 15:3,8,11).
  8. Inserção de um aparte: uma glosa que explica algo detalhadamente.
  9. Mudança de estilo ou gênero textual: transição de um discurso para uma narrativa (Mt 10:4-5), da prosa para a poesia (Fp 2:5-6) ou da poesia para a prosa (Mt 11:1-2).

Indicadores de final

  1. Personagens: aumento de número (Mc 1:45; Lc 5:15), ou mesmo reduzido (Mc 9:28; Mt 17:19) obscurecendo o foco .
  2. Espaço: mudança por partida (Mt 21:17) ou ampliação (Mc 1:39).
  3. Tempo: alteração da sequência dos eventos (At 10:48) e o chamado “tempo terminal” concluído (Jo 13:30).
  4. Ação do tipo partida: normalmente o personagem central sai de cena, separando-se dos demais (Mc 8:13).
  5. Ação terminal: consequência do episódio narrado (Mt 9:8).
  6. Ruptura do diálogo: com a fala conclusão. (Lc 14:5-6).
  7. Comentário: o narrador interrompe sua exposição para fazer observações que dão sentido ao relato (Jo 2:21-22).
  8. Estilo comum: por uso de concatenação, enumeração, paralelismo e paranomásia.
  9. Sumário: recapitulação resumida do que se disse (Jo 8:20).
  10. Inclusio: repetição de estruturas quiásticas. O Sermão da Montanha começa e termina com a expressão “a Lei e os Profetas” (Mt 5:17 + 7:12).

Conteúdos comuns

Alguns dos elementos presentes no corpo de um perícope:

  1. Ação: núcleo de um perícope narrativa, com indicações de tempo, espaço e personagens (Mc 6:17).
  2. Campo semântico: grupo de palavras cujos significados pertencem à mesma classe ou tema. Gn 22:6-10 utiliza o campo semântico “sacrifício”: lenha, fogo, cutelo, altar, cordeiro, assim por diante.
  3. Intercalação: interrupção para incluir outro perícope, como (Mc 3:20-21 e 30-31).
  4. Motivo literário (motif): repetição de palavra, frase ou ideias que junta partes do perícope, como “E viu Deus que era bom” em Gn 1.
  5. Quiasmo: estrutura “espelhada” muito comum em textos orais e abundantes na Bíblia:

A fuga para o Egito (Mt 2: 13-15)

   A (2:13) Palavras de um anjo

     B (2:14) partida para o Egito.

   A‘ (2:15) Palavras de um profeta

Emprego dos perícopes

Os perícopes fazem parte das porções de leituras (lecionários) e influenciariam a divisão em capítulos e versículos.

São elementos indispensáveis para entender tanto a história da interpretação quanto a boa exegese.

O estudo da divisão em perícopes se chama Crítica da Delimitação.

O símbolo de parágrafo ¶ originalmente indicava o perícope.

SAIBA MAIS

CRAIN, Jeanie C., Reading the Bible as Literature: An Introduction. Cambridge/​Malden, MA: Polity Press, 2010.

SILVA, Cássio Murilo Dias da. Metodologia de exegese bíblica. São Paulo: Paulinas, 2000.

Lista de perícopes dos evangelhos

http://www.semanticbible.com/cgi/2004/11/pericope-index.html

Site especializado sobre a divisão em perícopes e a Crítica da Delimitação, repositório da série Pericope: Scripture as written and read in antiquity (Leiden, Brill) http://pericope.net/