Instruções de Amenemhet

Este poema didático egípcio, ambientado na XII Dinastia, no qual o rei Amenemés (Amenemhet ou Amenemate) I (falecido em c.1947 a.C.) oferece conselhos a seu filho Sesóstris I.

Essa literatura instrucional (do mesmo gênero literário das instrução de Amenemope) contém semelhanças com livro de Provérbios, como as instruções da mãe do Rei Lemuel.

O texto foi preservado em diversas fontes. Um deles é o Papiro Millingen, hoje perdido; outros papiros fragmentários; três tábulas de madeira e mais de 60 óstraco. Tal popularidade indica que o texto era utilizado tanto como instrução moral quanto exercício de escrita.

Amenemés alerta contra a confiança demasiada e os riscos das conspirações palacianas.

BIBLIOGRAFIA

ANET 418-419 The Instruction of King Amen-em-het

COS 1.36 Amenemhet

Amarna

Tel el-Amarna é o sítio arqueológico da antiga Akhetaton, a capital do Egito no século XIV a.C. durante o reinado de Amenhotep IV.

As cartas de Amarna são uma coleção de 382 tabuletas cuneiformes do século XIV a.C. da correspondência entre vários governantes do Antigo Oriente Próximo e dos faraós egípcios do Novo Império Amenhotep III, Amenhotep IV (Akhenaton), Smenkhkara e Tutankhamon.

O reinado de Akhenaton (1353-1336 aC), conhecido como ‘o faraó herege’ foi marcado por amplas reformas religiosas que resultaram na supressão das crenças politeístas e na elevação de seu deus pessoal Aton à supremacia.

Os templos de todos os deuses, exceto os de Aton, foram fechados, as práticas religiosas foram proibidas ou severamente reprimidas e a capital do país foi transferida de Tebas para a nova cidade do rei, Akhetaton (Amarna). Efetivamente, foi a primeira religião monoteísta de estado da história.

Em 1887 uma mulher local que estava cavando no barro em busca de fertilizante descobriu essas tábuas cuneiformes de argila. Elas contém 350 correspondências do Egito com a Assíria, Hatti, Mitanni, Babilônia e cidades-estados do Levante. Há referências a várias cidades cananeias mencionadas na Bíblia, dentre eles a carta a ‘Abdi-Heba, rei de Jerusalém. Em outras 32 tabuletas são exercícios de treinamento escribal, com valiosos textos literários como o conto de Adapa. Esses documentos fornecem uma janela para as relações internacionais da Idade do Bronze tardia.

O período de Amarna pode ser considerado a época da primeira globalização. Mercadorias do Extremo Oriente eram trocados via o Oceano Índico. O Egito comercializava comnos hititas. Há indícios de uma integração que envolvia toda a Bacia do Mediterrâneo.

Além de providenciar informações sobre o contexto bíblico, o período de Amarna fornece O grande hino a Aton ou Aten que apresenta paralelismo com o Salmo 104. As hipóteses de que o monoteísmo israelita seja devedor do monoteísmo da Reforma de Akehnaton hoje são desconsideradas: ontologicamente, Aton e Yahweh possuem atributos distintos.

Personagens importantes da história egípcia — Akhenaton, Nefertiti, Tutankhamon– viveram no período de Amarna.

BIBLIOGRAFIA

Cohen, R. Amarna Diplomacy. John Hopkins University Press, 2002.

LeMon, Joel M. “Egypt and the Egyptians” em Arnold, Bill T. and Brent A. Strawn eds. The World Around the Old Testament: The Peoples and Places of the Ancient Near East. Grand Rapids: Baker, 2016.

Moran, W.L. The Amarna Letters. John Hopkins University Press, 1992.

Pritchard, James B., ed., The Ancient Near East – Volume 1: An Anthology of Texts and Pictures, Princeton, New Jersey: Princeton University Press, 1958

The Amarna Project

Alexandria

Alexandria foi a mais importante cidade no Delta do Nilo, no Egito, desde sua fundação por Alexandre, o Grande, em erca de 333 a.C.. Não é mencionada no Antigo Testamento, mas aparece incidentalmente no Novo Testamento, no livro de Atos, principalmente. Apolo, eloquente e poderoso nas Escrituras, era natural desta cidade (At 18:24). Muitos judeus de Alexandria viviam em Jerusalém, onde tinham uma sinagoga (At 6:9), na época do martírio de Estêvão.

Uma das maiores cidades da Antiguidade no Mediterrâneo, maior mesmo que Roma por muito tempo, Foi a residência dos reis do Egito por 200 anos durante o período helenista ou ptolomaico.

Tinha cerca de 10.000 judeus residentes nesta cidade. Sua famosa biblioteca de 700.000 volumes, também foi importante centro editorial. Nela foram desenvolvidas técnicas e práticas editorais. A cidade seria o local para a tradução da Bíblia hebraica para o grego, na versão da Septuaginta.

Egito

O Egito é um país do nordeste da África com uma das mais antigas e poderosas civilizações.

Na Bíblia, o Egito é frequentemente referenciado como um lugar de opressão e escravidão para os israelitas, bem como um local de refúgio, como foi para os sobreviventes do exílio babilônico na época de Jeremias ou mais tarde na época de Jesus. Também é retratado como um lugar de provisão e proteção de Deus, conforme demonstrado na história de José. O Egito serve de pano de fundo para eventos importantes na vida dos Patriarcas e da nação de Israel. O Novo Testamento menciona o Egito várias vezes, incluindo a fuga da família de Jesus para o Egito para escapar do massacre das crianças pelo rei Herodes.

Papiro

O papiro deriva-se da parte fibrosa de uma planta aquática da família dos juncos que crescia abundantemente nas águas rasas do Nilo, nas proximidades do Delta (Jó 8:11) e no oásis de En-Gedi, próximo do Mar Morto.

Assemelhando-se a um caule de milho, a planta era usada de várias maneiras. Além da escrita também servia como combustível, comida, remédios, roupas, tapetes, velas, cordas e até para mascar.

Na manufatura de “papel” de papiro, o caule da planta madura era cortado em seções de cerca de trinta a quarenta centímetros de comprimento. Depois, abria-se cada um deles longitudinalmente e o núcleo da medula era removido e fatiado em tiras muito finas. Essas tiras colocadas longitudinalmente em uma superfície plana sobrepostas umas às outras e todas voltadas para a mesma direção. Em seguida, uma segunda camada era colocada em ângulos retos. As duas camadas eram então pressionadas ou amassadas até formarem um tecido. Uma pedra servia para polir, amaciar e aplainar as faces do papiro.

Cerca de vinte folhas individuais de papiro poderiam ser unidas ponta a ponta para formar um rolo. A partir desse rolo, os pedaços seriam cortados no tamanho necessário para escrever uma carta, um recibo, escritura ou qualquer outro registro.

O papiro textual mais antigo encontrado é o Diário de Merer ou o Papiro Jarf. Este registro das atividades de um grupo construtores foi descoberto em 2013. É datado do reinado do faraó Khufu (2589 e 2566 a.C.).

Na Idade do Ferro o papiro começou a ser comercializado em larga escala pelo Mediterrâneo. É notória a relação mercantil entre o Egito e a Fenícia no século XI a.C., como registrada na Jornada de Wen-Amon à Fenícia. Nessa mesma época, o Faraó Smendes (1076–1052) enviou 500 rolos de papiro ao rei de Byblos. Byblos se tornou o centro comercial e o próprio termo byblon passou a se referir ao volume ou rolo de papiro em língua grega.

O papiro não é taõ durável quanto o pergaminho. Em média duravam, com um cuidadoso manuseio, por uns 30 anos. Contudo, as areias secas do Egito provaram ser ambientes propícios para sua preservação.

Em 1778 houve uma redescoberta dos papiros do Egito pelos europeus. A procura por papiros antigos foi estimulada pela expedição de Napoleão.

Em 1877 começaram as tentativas de reprodução das técnicas de fabricação, sendo produzido na Sicília. Nesse mesmo ano ocorreu a descoberta dos papiros de Fayum, o primeiro grande achado de uma coleção de papiros. Levado à Áustria, essa coleção estimulou a pesquisa entre investigadores de língua alemã, dentre eles Ulrich Wilcken, um dos fundadores da papirologia como disciplina.

As escavações de Flinders Petrie encontraram o Papiro Petrie I em 1891, ano quando também foi publicada a Constituição dos Atenienses, de Aristóteles, a partir de dois papiros (um encontrado em Fayum em 1879, outro apareceu no mercado egípcio em 190).

O termo “papirologista” foi cunhado em 1896. O material frágil, seu caráter fragmentário, múltiplas línguas fizeram da papirologia uma ciência histórica complexa, extremente importante e demandando extensivo trabalho.

Entre 1896 e 1906 os estudiosos P.B. Grenfell e A. S. Hunt de Oxford foram procurar em sítios arqueológicos e depósitos de lixo no Egito restos de papiros. Consolidou-se com eles a papirologia como ciência especializada.

A classificação dos papiros pela papirologia em tipos documentais (datados, com poucas cópias, fins de produzir provas ou lembrança factual, como as cartas) e literários (sem datas, exceto em colofões; para fins religiosos, artísticos, com cópias reproduzidas com maior frequência) é útil para outras estudos bíblicos.

Os principais sítios arqueológicos onde foram encontrados papiros são:

SAIBA MAIS

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Elefantina

Elefantina é um assentamento em uma ilha no rio Nilo, em frente à antiga Syene, hoje chamada de Gezîret Aswan (a “Ilha de Assuã”) no Alto Egito.

O vasto volume de restos de papiro desde o segundo milênio a.C. até o período árabe faz desse sítio arqueológico uma importante fonte de textos da Antiguidade. Especialmente importante para as ciências bíblicas e história israelita são os 80 papiros em aramaico de uma comunidade judia de mercenários que foi ativa na ilha no Período Persa, entre os século VI a.C. e IV a.C.

Esta comunidade cultuava em um templo dedicado a Yahweh (ao qual chamavam Yahu), ainda que cultuado junto de outras divindades. Não há indícios de terem conhecimento de Escrituras, salvo alguns salmos, nem da tradição do Êxodo ou de uma linhagens sacerdotais. Todavia, possuíam um sacerdócio e celebravam a páscoa. Mantinham correspondência com seus patrícios de Yehud, a província persa da Judeia e Israel, incluíndo as lideranças religiosas de Samaria e Jerusalém

A ILHA DE ELEFANTINA

Na ilha de Elefantina a Fortaleza Yeb era uma guarnição de fronteira localizada na fronteira sul do antigo Alto Egito. Não é referida na Bíblia, mas Syene/Assuã, a cidade próxima na margem, aparece em Ez 29:10; 30:6.

Em 1893, muitos papiros e óstracas em aramaico apareceram, principalmente de Elefantina. Dez anos depois, iniciaram-se as escavações arqueológicas em Elefantina conduzidas pelos franceses (1902); os alemães (1906-1908); os padres do Pontifício Instituto Bíblico de Roma após a Primeira Guerra Mundial; e expedições egípcias (1932 e 1946), revelando o Templo de Khnum (dos séculos IV a II a.C.) e um templo anterior de tijolos de barro, escavado pelos egípcios em 1948. As escavações não produziram evidências conclusivas sobre a localização do Templo de Yahu.

A COLÔNIA JUDAICA

Não está claro quando a colônia judaica começou em Elefantina. Uma inscrição sugere que o templo já existia antes da queda do Egito para os persas em 525 aC, o que o situa em quase um século antes da reconstrução do templo por Esdras. Há quem sugira que a comunidade remonte do final do século VII a.C (cf. Is 19:19).

O templo Elefantina tinha um altar para sacrifícios e holocaustos a Yahweh, a quem chamavam de “Yahu”. No entanto, sua adoração não era totalmente exclusiva e incluía a adoração de outros deuses como Herem Bethel e Anath-yahu. Betel (“casa de Deus”) é visto como uma personificação da casa de El (no céu) e como uma expressão substituta para El (cf. Jr 48:13)

Embora protegida pela ocupação persa, a comunidade Elefantina teve conflitos com os egípcios. As cartas referem a atritos contínuos com os egípcios associados a um templo dedicado à divindade de Khnum.

Em 410 aC, um motim destruiu o templo judeu. Embora os persas eventualmente punissem os egípcios responsáveis, os judeus não conseguiram o dinheiro necessário para reconstruir o templo.

A colônia judaica estava bem estabelecida em Elefantina antes de 525 a.C. é provado pela referência da carta de Bagoas (AP 30) que menciona o templo antes de Cambises invadir o Egito, talvez datando do reinado do Faraó Apries (Hofra de Jr 44:30; 588-566 aC).

A colônia e seu templo duraram até o fim do reinado de Neferitas I (399-393 a.C.). Todavia, um fragmento de cerca do ano 300 a.C. menciona pessoas com nomes judeus (AP 82) e um longo papiro (AP 81) de aproximadamente o mesmo tempo que inclui nomes judeus e gregos e menciona um sacerdote Johanan, sugerindo a presença de um templo. Ainda no século I d.C. é possível que houvesse judeus na área Elefantina (Filo, Flaccus 43).

PAPIROS NOTÓRIOS

  • Amherst Papyrus 21 é uma ordem de Dario II em 419 AEC aos judeus para observarem os Dias dos Pães Ázimos.
  • Papiro TAD A4.1 (a Carta da Páscoa), carta de Hananias, um oficial judeu de Jerusalém ou da Pérsia, para a guarnição judaica e seu líder Jedanaías, fornecendo instruções sobre como realizar a Páscoa. Embora não mencione Betel, Hananias saúda a guarnição judaica em nome dos deuses (plural), o que implica um ambiente politeísta compartilhado;
  • Amherst Papyri 27, 30-34 registram a destruição do templo em Yeb, os esforços infrutíferos dos colonos durante os anos 410-407 AEC para garantir permissão para reconstruí-lo.
  • Amherst Papyrus 30 menciona duas pessoas citadas em Neemias, Sambalate (Ne 2:10; 13:28) indicado como o governador de Samaria; e Joanã (Ne 12:22), filho de Joiada e provavelmente o mesmo a quem Neemias perseguiu (13:28), é mencionado como sumo sacerdote, sendo Bagoas governador de Yehud (Judeia Persa).
  • Amherst Papyrus 63 contém uma versão do salmo 20, escrito em aramaico, mas com escrita egípcia demótica, além de dois outros salmos sem correspondência bíblica.

    SAIBA MAIS
  • Becking, Bob. Identity in Persian Egypt: The Fate of the Yehudite Community of Elephantine. Penn State University Press, 2020.