George Saunders

George Saunders (1946-2020) foi um antropólogo que realizou seus estudos psicológicos e etnográficos no norte da Itália.

Saunders estudou a história da antropologia na Itália e o pentecostalismo italiano. O envolvimento de Saunders com os estudos europeus ficou evidente em seu envolvimento com a Society for the Anthropology of Europe, uma seção da American Anthropological Association que ele ajudou a fundar em 1986. Além de sua pesquisa na Itália, ele fez um trabalho com refugiados Hmong em Appleton, Wisconsin, e na Índia. Saunders foi professor de antropologia na Lawrence University por 26 anos, onde orientou e ensinou alunos. Ele foi premiado com o Young Teacher Award logo após chegar a Lawrence e passou a presidir seu departamento e foi nomeado para uma posição dotada como Henry Merritt Wriston Professor de Ciências Sociais.

Seus papéis e notas de campo foram guardados no Smithsonian National Anthropological Archives.

Em sua pesquisa etnográfica, Saunders fez trabalho de campo em duas congregações pentecostais na Toscana. Saunders explora por que algumas pessoas escolhem o cristianismo pentecostal em um contexto tão completamente dominado pelo catolicismo.

professor da Lawrence University.

Nascido em Perris, Califórnia, fez serviços no Corpo da Paz na Venezuela e extenso trabalho de campo etnográfico na Itália. Saunders explorou a interseção do Cristianismo Pentecostal e da cultura italiana. Utilizou as categorias de presença e crise de presença de Ernesto de Martino em suas análises etnográficas conduzidas em congregações pentecostais na Itália.

Seu livro The Language of the Spirit: Heart and Mind in Italian Evangelical Protestantism estava quase completo 2001 quando foi diagnosticado com tumor cerebral. Sua obra seria publicada em italiano, Il Linguaggio dello Spirito: Il Cuore e la Mente nel Protestantesimo Evangelico (2010).

Nesse livro, Saunders define uma epistemologia pentecostal distinta daquela das cosmovisões “científicas” contemporâneas e da maioria das cosmovisões seculares. Os pentecostais sabem com o coração e consideram a experiência emocional mais profunda e confiável do que o conhecimento da mente. Adicionalmente, enquanto na maior parte da cultura ocidental a linguagem é considerada uma faculdade “intelectual”, os pentecostais “irracionalizam-na” através de orações, falar em línguas, testemunhos e pregações. Essas práticas epistemólogicas e comunicativas são intimamente associadas com cura e uma ideologia da totalidade da pessoa. A concepção crente do mundo e do eu é contra a disjunção contemporânea entre emoção e razão, o físico e o espiritual, o divino e o comum. Por fim, os milagres são uma subversão das instituições que parecem controlar a vida das pessoas na Itália. O milagre resolve as burocracias, médicos que decretam a vida e a morte, uma economia que fornece recursos de forma inconsistente e famílias das quais dependemos, mas que acabam por serem não confiáveis.

O livro argumenta que o pentecostalismo constitui uma espécie de “contracultura” ou “antiestrutura” que reflete e contesta os valores centrais da cultura popular italiana. A epistemologia pentecostal é destacada, o que inclui a confiança em uma epistemologia distinta daquela das cosmovisões “científicas” e mais seculares contemporâneas. Os pentecostais “conhecem com o coração” e consideram a experiência emocional mais profunda e confiável do que o conhecimento da mente. A prática pentecostal torna a linguagem e a fala centrais para a experiência religiosa. O livro se conecta a vários gêneros e tipos de literatura, como a natureza da cultura e das contradições internas na cultura, literatura recente sobre o eu e a emoção na antropologia psicológica e trabalhos recentes sobre o Eu como uma construção cultural.

BIBLIOGRAFIA

Saunders, George. Il Linguaggio dello Spirito: Il Cuore e La Mente nel Protestantesimo Evangelico (The Language of the Spirit: Heart and Mind in Italian Evangelical Protestantism). George Saunders, trans by Adelina Talamonti into Italian. Pisa: Pacini Editore. 2010.

Alice Wood

Alice Wood (1870-1961) missionária, ministra do evangelho e pioneira pentecostal na Argentina.

Nascida em Ontário, Canadá, Wood foi criada como quaker e também participava de convenções metodistas e de santidade. Ficou órfã aos dezesseis anos. Aos 25 anos, ela se matriculou na Friends’ Training School em Cleveland, Ohio, indo servir em uma igreja em Beloit, Ohio depois de formada.

Alice adotou plenamente a doutrina da santidade, na vertente reformada ou movimento de Vida Superior, na qual enfatizava a santificação por ação do Espírito Santo. Frequentou cursos na Missionary Training Institute, ligado à Aliança Cristã e Missionária, em Nova York. Foi missionária independente em Porto Rico e Venezuela.

Em 1907 experimenta o batismo pentecostal, desfilia-se oficialmente da Aliança Cristã e Missionária, embora mantivesse vínculos com seus membros e líderes, bem como recebia contribuições para sua obra missionária. Começou preparar sua viagem missionária para a Argentina, fazendo várias viagens de avivamento e arrecadação de fundos no meio-oeste americano e região central do Canadá.

No início de 1910 Alice Wood e May Kelty dos EUA chegaram à Argentina. Em agosto daquele mesmo ano junta-se a elas Berger Johnson (Bergen N. Johnsen, 1888-1945) da Noruega. Em fevereiro de 1910 A. B. Simpson, o dirigente da Aliança Cristã e Missionária também chega ao país. Wood dirigiu-se a Gualeguaychu, Entre Ríos, onde havia uma missão da Aliança.

Por sete anos Wood esteve em Gualeguaychu. Os dois missionários dirigentes foram embora e Alice passou a dirigir a Misión Evangélica de Gualeguaychu. Depois estabeleceu-se na cidade de 25 de Maio, na província de Buenos Aires. Ali, formou um núcleo inicial de onde saíram vários obreiros para a Argentina.

O grupo era independente. Berger mantinha vínculos com os Amigos Livres da Noruega e Alice com a rede de quakers pentecostais e movimentos de santidade conectados a Levi Upton em Ohio. Embora Wood fosse uma missionária independente desde que aprofundou suas relações com o movimento pentecostal, quando as Assemblies of God foram organizadas em 1914 nos Estados Unidos, filiou-se a ela.

Entre 1911 e 1913 Wood e Berger rompem sua colaboração por motivos pessoais e por ele não aceitar o ministério feminino. Berger iria para o norte do país.

No final de 1917 visitou a Asamblea Cristiana italiana de Villa de Devoto e Narciso Natucci convidou-a para visitar outros pontos missionários nos arredores de Buenos Aires.

Do trabalho de Wood resultou em várias congregações pentecostais que se fundiram na Unión de las Asambleas de Dios em 1947.

Wood voltaria aos Estados Unidos alguns meses antes de seu falecimento.

BIBLIOGRAFIA

Griffin, Kathleen. “Luz En Sudamérica: Los Primeros Pentecostales En Gualeguaychú, Entre Ríos, 1910-1917.” Thesis de doctorado en teologia, ISEDET, 2014.

Louis Dallière

Louis Dallière (1897–1976) foi um ministro reformado pentecostal francês. Foi pioneiro nas relações ecumênicas e na busca do renovo da Igreja universal pela obra do Espírito Santo.

Dallière nasceu em Chicago, filho de um pai católico banqueiro e de mãe anglicana. Foi batizado enquanto criança na Église Réformée de France (ERF) em Nice em 1901. Ele experimentou conversão em 1910 e passou por uma segunda conversão em 1915, acompanhada por um chamado ao ministério. Estudou na Faculté de théologie protestant em Paris em 1915-1921. Em 1921 casou-se com Caroline Boegner, filha de Alfred Boegner, líder da Sociedade Missionária Evangélica de Paris (SMEP).

Depois de estudar teologia e filosofia em Paris e Harvard, pastoreu uma igreja reformada em Charmes, na região de Ardèche, de 1925 a 1962. Em 1932-1933, lecionou na Faculdade de Teologia de Montpellier.

No verão de 1932 foi à Inglaterra para investigar o movimento pentecostal. Após sua adesão, promoveu um movimento de reavivamento pentecostal entre os reformados. Louis Dallière foi bem recebido pela Igreja Livre, mas não pelos liberais nem no Movimento dos Irmãos.

Em 1930 Dallière tornou-se líder do Movimento Pentecostal em Charmes. Fez parte de uma rede da Resistência durante a Segunda Guerra Mundial, e foi reconhecido pelo Yad Vashem como “justo entre as nações” em 1990. Em 1946 em homenagem a Wilfrid Monod, que fundou os Veilleurs (A Ordem dos Vigilantes), criou a Union de prière de Charmes (Comunidade de Oração dos Charmes). Louis Dallière fundou o “Cours Isaac Homel” (Colégio Isaac Homel), um estabelecimento de ensino secundário que funcionou até 1975.

BIBLIOGRAFIA
https://museeprotestant.org/en/notice/le-pasteur-louis-dalliere-1897-1976-reforme-pentecotiste/

Bost,Jacques. “Le mouvement de Pentecôte en Ardèche”,In La vie des Eglises protestantes dans la vallée de la Drôme, Paris, 1977, p. 241-242

Bundy, David. “L’émergence d’un théologien pentecôtisant: les écrits de Louis Dallière de 1922 à 1932”, Hokhma, Croire Publications, Paris, 1988, Numéro 38, p. 23-51.

Bundy, David.“Dallière, Louis”, in: Brill’s Encyclopedia of Global Pentecostalism Online, Edited by: Michael Wilkinson, Connie Au, Jörg Haustein, Todd M. Johnson. http://dx.doi.org/10.1163/2589-3807_EGPO_COM_038226

Fath, Sébastien.”Baptistes et Pentecôtistes en France, une histoire parallèle ? Le baptisme, une culture d’accueil du pentecôtisme (1820-1950)”, Bulletin de la SHPF, Société de l’histoire du protestantisme français, Paris, juillet-auût -Setembro de 2000, Tomo 146, p. 523-567

Lovsky, Fadiey. “La pensée théologique de Louis Dallière”, Etudes Théologiques et Religieuses, Institut de théologie protestante de Montpellier, 1978/2, p. 171-190

Plet, Philippe.”Dallière Louis”, Encyclopédie du Protestantisme, PUF, Paris, 2006, p. 299.

Serr, Jacques; Lovsky, Fadiey, “Le pasteur Louis Dallière”, Union de prière, 2013 .

Elizabeth Brusco

Elizabeth Brusco é uma antropóloga norteamericana e pesquisadora do evangelicalismo protestante na América Latina, particularmente na Colômbia, focada em questões de gênero.

Em 1982 e 1983, Brusco realizou trabalho de campo sobre o impacto da conversão evangélica nos papéis familiares e de gênero na Colômbia. Relata como o ascetismo evangélico redireciona a renda masculina de volta para o lar, beneficiando mulheres e crianças, questionando assim os pressupostos de que a religião organizada que prejudica as mulheres. O evangelicalismo oferece uma alternativa aos aspectos disfuncionais do machismo, apelando também aos homens. Consequentemente, alteram-se as relações conjugais. Não que o homem deixe de ser machista, mas ocorre uma redefinição do comportamento masculino arraigado em valores machistas como a virilidade e a bravata.

Elizabeth Brusco lecionou antropologia e dirigiu um centro de Estudos da Mulher na Pacific Lutheran University em Tacoma, Washington.

BIBLIOGRAFIA

Brusco, Elizabeth E. The reformation of machismo: Evangelical conversion and gender in Colombia. University of Texas Press, 2011.

Historiografia do Pentecostalismo

A historiografia do pentecostalismo discute as formas de estruturar a narrativa das origens e propagação dos movimentos de extração pentecostal pelo mundo.

O historiador Augustus Cerillo Jr. propõe uma tipologia das abordagens, frequentemente combinadas, para se construir a narrativa da história do pentecostalismo norteamericano e, por que não, do mundo:

  1. Abordagem providencial: vê o desenrolar da história como uma intervenção providencial insperada. As raízes e matrizes da emergência do avivamento e di movimento não são salientados. Na historiografia do movimento pentecostal italiano os testemunhos dos pioneiros (Ottolini, Francescon, Bracco, Rebuffo) adotam essa abordagem. De certo modo, De Caro promoveu a continuidade dessa abordagem.
  2. Abordagem das raízes históricas: enfatiza a continuidade histórica de outros movimentos antecessores, sobretudo do movimento de santidade. Podemos identificar sob essa abordagem obras como Dayton (1987) e Synan (1997). Na historiografia do movimento pentecostal italiano talvez Francesco Toppi seja o autor mais significativo.
  3. Abordagem multicultural: salienta a contribuição de minorias marginalizadas que encontraram na religião legitimidade para expressar suas espiritualidades. Normalmente são apontados como casos os afro-americanos e em menor grau hispânicos. Na historiografia do pentecostalismo italiano Coletti talvez caberia nessa abordagem.
  4. Abordagem funcional: busca na intersecção de fatores sociais, econômicos, políticos e culturais elementos para a explosão pentecostal. Migração e outros processos sociológicos também são levados em conta. A historiografia de Yara Nogueira parece caber nessa abordagem quanto à Congregação Cristã no Brasil.

Entre estudiosos do pentecostalismo há proponentes da preferência ou da legitimidade de cada uma dessas abordagens. Por exemplo, dado a própria visão de mundo e de história pentecostal, William Kay defende a abordagem providencial como uma perspectiva êmica. Por outro lado, Dale Irvin aponta para as narrativas fragmentárias sobre a origem pentecostal. Já Everett Wilson alerta contra o essencialismo histórico. Como mencionado, na prática, é comum historiadores combinarem mais de uma abordagem.

BIBLIOGRAFIA

Cerillo Jr., Augustus. “Interpretive Approaches to the History of American Pentecostal Origins”, Pneuma 19:1 (1997): 29–52.

Cerillo Jr., Augustus: Wacker, Grant. “Historiography and bibliography of Pentecostalism in the United States” Em Burgess, Stanely M- van de Maas, Eduard M. (eds). The New International Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements. Grand Rapids: Zondervan, 2002, pp. 382-405.

Dayton, Donald W. Theological Roots of Pentecostalism. Studies in Evangelicalism 5. Metuchen, New Jersey: The Scarecrow Press, Inc., 1987.

Kay, William. “Three Generations On. The Methodology of Pentecostal History,” EPTA Bulletin 11, no. 1+2 (1992): 58–70;

Kay, William. “Karl Popper and Pentecostal Historiography,” Pneuma 32, no. 1 (2010): 5–15.

Irvin, Dale T. “Pentecostal Historiography and Global Christianity. Rethinking the Question of Origins,” Pneuma 27,no. 1 (2005): 35–50.

Synan, Vinson. The holiness-Pentecostal tradition: Charismatic movements in the twentieth century. Wm. B. Eerdmans Publishing, 1997.

Wacker, Grant “Are the Golden Oldies Still Worth Playing? Reflections on History Writing Among Early Pentecostals,” Pneuma 8, no. 2 (1986): 81–100.

Wilson, Everett A. “They Crossed the Red Sea, Didn’t They? Critical History and Pentecostal Beginnings,” in Marray W. Dempster, Byron D. Klaus, and Douglas Petersen (eds.). The Globalization of Pentecostalism. A Religion Made to Travel. Oxford: Regnum Books International, 1999, pp. 85–115.