Christus medicus (“Cristo, o Médico”) é um título para Jesus Cristo.
A função de Cristo como o curador divino e médico (grego ἰατρός iatrós) é combinada com a do salvador e redentor. O termo salvação em grego, sozo, também denota saúde.
Christus medicus (“Cristo, o Médico”) é um título para Jesus Cristo.
A função de Cristo como o curador divino e médico (grego ἰατρός iatrós) é combinada com a do salvador e redentor. O termo salvação em grego, sozo, também denota saúde.
Soteriologia, vem do grego σωτήρ sōter, ‘salvador’ , ‘sustentador’ e λόγος lógos, ‘fala’ ou ‘discurso’, denota a subdisciplina e loci teológico acerca da doutrina da salvação das pessoas e da nova criação.
Tópicos comumente tratados sob a soteriologia incluem:
Dentre os focos, as teologias ortodoxa, anabatista, pietista, wesleyiana tendem a enfocar aspectos de soteriologia transformativa, enquanto as teologias reformadas (calvinistas, arminianas, neo-ortodoxas) e confessionalismo luterano tendem a salientar o polo de soteriologia forense. Já no meio desse contínuo estão as teologias Keswickiana e pentecostais clássicas.
Os verbetes sobre soteriologia podem ser encontrados nesse link.
Johann Christian Konrad von Hofmann (1810-1877) foi um teólogo, historiador e biblista luterano alemão. Foi expoente do neoluteranismo ou a escola de Erlangen, um movimento teologicamente conservador.
Filho de pais aderentes ao Avivamento Continental que emergiu do pietismo suábio de Johann Albrecht Bengel, teve uma educação humanística e científica. Lecionou nas universidades de Friedrich-Alexander- Erlangen-Nuremberg e de Universidade de Rostock.
O trabalho de Von Hofmann sobre hermenêutica bíblica enfatizou a importância de entender o contexto histórico e cultural dos textos bíblicos. Treinado na historiografia de Leopold von Ranke, que o significado da Bíblia só poderia ser totalmente compreendido pela compreensão do contexto em que foi escrita, incluindo o idioma, a cultura e o contexto histórico. Também enfatizou a importância de interpretar a Bíblia como um todo coerente, com cada parte contribuindo para a história geral da salvação. Como teórico da hermenêutica, antecede Martin Heidegger, Hans-Georg Gadamer, Rudolf Bultmann e Paul Ricoeur quando situa as historicidades da linguagem e do intérprete bíblico. Em sua abordagem, antecede a crítica canônica.
A compreensão de Von Hofmann da Bíblia como “Heilsgeschichte” ou “história da salvação” enfatizou a continuidade da obra salvadora de Deus ao longo da história, desde a criação até a redenção. A profecia não é primordialmente uma previsão de eventos futuros, mas a própria história na forma da palavra. Os fatos da história sagrada, a proclamação profética que deles surgiu e seu cumprimento no futuro são obra de um único e mesmo Espírito Santo e, portanto, um com o outro. No entanto, esposava um dispensacionalismo de duas fases: a Lei e o Evangelho. Considerando a inspiração das Escrituras localizada em sua totalidade narrativa, via a Bíblia como uma história unificada do plano de Deus para salvar a humanidade por meio da pessoa e obra de Jesus Cristo. Assim, dispensou modelos de inspiração atomística, como a inspiração do ditado ou das palavras.
A compreensão de Von Hofmann sobre a expiação enfatizou a centralidade da morte e ressurreição de Cristo como meio de salvação. A expiação seria como um evento único e irrepetível, no qual Cristo cumpriu todas as expectativas proféticas do plano de salvação. A exigência de satisfação ou de um pagamento do pecado pertencia à economia da Lei. Portanto, na graça é incorente conceber a expiação de Cristo por teorias de sastifação, forenses ou vicárias. Antes, pelo amor de Deus na graça, Cristo proporciona comunhão com Deus para alcançar o destino original do ser humano na história de Salvação.
Contribuiu para renovação da teologia trinitária quando apontou a importância de entender a natureza trina de Deus como um aspecto chave da história da salvação. O Pai, o Filho e o Espírito Santo trabalhando juntos em harmonia para realizar o plano de salvação de Deus, com cada pessoa da Trindade desempenhando um papel único no processo. A soteriologia trinitária de Hoffmann antecede os modelos pentecostais clássicos (Durham, Francescon) e contemporâneos (Macchia, Yong, Vondey) de doutrina de salvação cooperativa entre as pessoas divinas.
Ainda que pouco lembrando, foi influente nos pensamentos de Oscar Cullmann, Wolfhart Pannenberg, Gustaf Aulén e Gerhard Forde.
BIBLIOGRAFIA
Becker, Matthew L. The self-giving God and salvation history: The Trinitarian theology of Johannes von Hofmann. A&C Black, 2004.
Hofmann, J. Schutzschriften fur eine neue Weise, alle Wahr heit zu lehren (1856-59).
O conceito anabatista de Gegenerb ou contra-herança, desenvolvido por Pilgram Marpeck, enfatiza que os seres humanos têm acesso à bondade essencial por meio da redenção e a promessa da redenção é o que constitui a contra-herança. Gn 3 não é lido como maldição à humanidade, mas como promessa de redenção em Cristo. Isso significa que a redenção e o amor cristão nutridos por meio do discipulado são as manifestações dessa contra-herança.
Marpeck acreditava que os humanos não perderam sua bondade essencial quando Deus expulsou Adão e Eva do Éden. A perspectiva de Marpeck discordou da visão agostiniana do pecado original e da natureza humana, que se concentrava fortemente na depravação humana.
Tal como Adão e Eva fizeram escolhas e discerniram entre o bem e o mal, o poder e a inevitabilidade do pecado na humanidade ganham poder somente quando a pessoa chega ao tempo do conhecimento, ou seja, a uma relativa idade adulta.
Os anabatistas creem na liberdade da vontade (livre arbítrio) e no renascimento espiritual do indivíduo. Com a ajuda da graça divina, os seres humanos podem vencer suas tendências ao mal e obedecer aos mandamentos divinos. Esta liberdade da vontade é essencial para o discipulado ou Nachfolge, doutrina central do anabatismo.
O sacrifício de Cristo foi suficiente e eficaz para toda a humanidade. Por essa razão, crianças recebem a promessa de Cristo e não vão para o inferno. Já os adultos, sabendo distinguir entre o bem e o mal, sofrem da inclinação ou tendência para o mal (Neigung ou Neiglichkeit), ou ainda tentação.
O novo nascimento espiritual envolve a transformação do homem “natural” em um homem “espiritual” que agora pode ver seu novo caminho e sentir o poder, recebido por meio de uma experiência espiritual, para resistir ao mal, ao pecado, à desobediência a Deus, ao orgulho e ao egoísmo, que anteriormente poderia ter dominado seu personagem. No entanto, essa força recém-adquirida não é uma garantia completa contra possíveis retrocessos, e a vida continua sendo uma luta contínua entre as duas naturezas do homem.
A existência humana é um embate entre o mundo do mal e o reino de Deus. A obediência a Cristo e a escolha pelo bem é uma escolha adulta e voluntária. Para o anabatista, o exercício da escolha humana de rejeitar o mal tem um clímax no batismo voluntário do crente, pois o batismo marca a escolha de crucificar o pecado e experimentar a vida ressurreta em Cristo (Rm 6).
Designação dadas a diversas doutrinas parônimas, correlatas, porém distintas no evangelicalismo angloamericano e no novo calvinismo.
Nas pregações de evangelismo popular norteamericano surgiu nos anos 1930 uma distinção entre “aceitar Jesus como Salvador” e “aceitar Jesus como Senhor”. Grosso modo, o primeiro seria dar um assentimento ou aceitar um conjuntos de crenças cristãs. O segundo, seria um comprometimento pessoal transformativo. Tal distinção viria causar confusões conceituais sobre o que seria a fé salvítica e sua relação com o discipulado, arrependimento e sujeição a Cristo.
SALVAÇÃO PELO SENHORIO NO EVANGELICALISMO: QUESTÃO DO DISCIPULADO
Nos anos 1950, em reação ao evangelismo de massa que demandava um mero assentimento (“aceitar Jesus”) para ser salvo, líderes evangelicais como John Stott e A. W. Tozer criticavam noções de graça barata. Com o termo Salvação pelo Senhorio demandavam que uma genuína conversão fosse demonstrada em um comprometimento com o evangelho. Assim, o discipulado e as transformações pessoais e frutos em relação com a criação seriam importantes na economia de salvação.
O debate entre o professor de Novo Testamento do Fuller Seminary Everett F. Harrison e John R. Stott em 1959 marcou o início de um consenso no qual o discipulado seria uma parte importante na vida cristã, mas não meio ou condição para a salvação.
Com base nesse consenso e na traduções de obras como O custo do discipulado de Bonhoeffer (1966) e O Discípulo de Juan Carlos Ortiz (1975), cresceu a orientação de que o evangelho deveria ser proclamado em sua forma integral. Daí emergiram o Movimento de Lausana (1974), o Movimento de Missão Integral e os movimentos de discipulados em pequenos grupos.
SALVAÇÃO PELO SENHORIO NO NOVO CALVINISMO: ARREPENDIMENTO E SUJEIÇÃO
A controvérsia da Salvação pelo Senhorio ocorre entre evangelicals e novos calvinistas americanos sobre a natureza da salvação e o papel da fé e das obras no processo de salvação. O debate gira em torno da questão de saber se um verdadeiro crente deve ou não necessariamente demonstrar um compromisso com o senhorio de Jesus Cristo para ser salvo. Os proponentes da Salvação pelo Senhorio pressupõe:
Os defensores da salvação pelo Senhorio argumentam que a verdadeira fé envolve necessariamente uma disposição de se submeter a Jesus Cristo como Senhor e que uma pessoa não pode ser verdadeiramente salva se não estiver comprometida em segui-lo. Em contraste, os oponentes da Salvação pelo Senhorio argumentam que somente a fé é suficiente para a salvação e que as obras não são necessárias para demonstrar a verdadeira fé.
A controvérsia foi alimentada pela publicação de vários livros influentes sobre o assunto, por John MacArthur e Charles Ryrie. Outros proponentes proeminentes da Salvação pelo Senhorio incluem J.I. Packer, R. C. Sproul e James Montgomery Boice.
Os oponentes da Salvação pelo Senhorio incluem autores como Zane Hodges, Charles Stanley e Tony Evans, que argumentam que a doutrina da Salvação pelo Senhorio mina a suficiência da fé e mina a certeza da salvação que os crentes podem ter por meio da fé em Cristo. Esses oponentes são chamadoe de Graça Livre e concentravam-se em torno do Dallas Theological Seminary.
SUJEIÇÃO AO SENHORIO COMO PARTICIPAÇÃO NA ALIANÇA
Uma acepção do conceito de salvação pelo Senhorio aparece em um curto artigo do teólogo e bibliotecário John Bollier em 1954. Como na Nova Perspectiva sobre Paulo, considera a salvação como participação no relacionamento de aliança com Deus.
Em uma crítica à teoria forense de justificação como uma mera ficção legal, Bollier argumenta que Deus espera que as pessoas sejam justas, reconheça a soberania de Deus e se submeta ao seu senhorio de Deus. Desde a Antiga Aliança, quanto na Nova Aliança, Deus graciosamente oferece a fé para a humanidade reconhecê-lo como seu Senhor. A fé seria a resposta humana apropriada à auto-revelação de Deus. A fé é justiça, pois é a maneira para se cumprir a obrigação da aliança para com Deus dentro desse pacto. Assim, a justiça de Deus tem um aspecto transcendente e também um aspecto imanente, pois a pessoa é diretamente afetada pela manifestação dessa justiça.
A perspectiva de Bollier é uma de um autor bem informado dos sentidos bíblicos de aliança, com base nas descobertas arqueológicas e avanços na filologia. Embora raramente citado, ou citado marginalmente, essa perspectiva ganhou novas formulações nas soteriologias da Visão Federal e na Nova Perspectiva sobre Paulo.
UMA AVALIAÇÃO
Em comum com as soteriologias transformativas (como Wesleyanismo, Keswickianismo, fé salvadora sempre produz uma vida transformada.
A doutrina da salvação pelo Senhorio ensina que a salvação não é simplesmente uma questão de aceitar Jesus como Salvador pessoal, mas também envolve uma transformação do caráter e modo de vida do indivíduo. Diz-se que essa transformação é evidenciada por boas obras e uma vida de obediência aos mandamentos de Deus.
Os críticos da salvação pelo Senhorio argumentam que ela coloca muita ênfase nas obras humanas e não o suficiente na graça de Deus, e que pode levar ao legalismo e ao julgamento. Os defensores da doutrina, no entanto, sustentam que a verdadeira fé em Cristo leva necessariamente a uma vida transformada e que a doutrina simplesmente enfatiza o chamado bíblico para seguir a Cristo como Senhor.
BIBLIOGRAFIA
Bonhoeffer, Dietrich. The Cost of Discipleship. New York: Macmillan, 1966.
Harrison, Everett F., Stott, John R. “Must Christ Be Lord To Be
Savior?” Eternity 10, no. 9 (1959): 13-18.
Ketcham, Donald Louis. The lordship salvation debate: its nature, causes, and significance. Dissertação doutoral em teologia. Waco: Baylor University, 1995.
MacArthur, John Faith Works: The Gospel according to the Apostles (Dallas: Word, 1993), 121.
Ortiz, Juan Carlo. El Discipulo. Buenos Aires, 1975.
Ramos, Enrique, and Iglesia del Centro. “A Non-Legalistic Doctrine of Sanctification: Refuting Recent Controversy in the Reformed Church.”
Storms, S. 2006. The Lordship Salvation Debate. Enjoying God Ministries.
http://www.enjoyinggodministries.com/article/the-lordship-salvation-debate/
Temple, C.N. Lordship Salvation: Is it Biblical? A Study of the Lordship Salvation
Controversy Part One. Retrieved 20 Jan 2011 from
http://www.dtl.org/salvation/article/guest/lordship-1.htm
Tozer, A. W. I call it heresy. Harrisburg, PA: Christian Publciations, 1974.