Livro de Esdras

O livro de Esdras é um relato do fim do cativeiro babilônico e reconstrução da nação judia em Jerusalém mediante um renovado comprisso público com a Lei (Torá).

Nas versões hebraica, grega e latina, o Livro de Esdras era um só livro com Neemias até que na Baixa Idade Média começou a ser separado na Vulgata. No texto hebraico massorético faz parte dos Ketuvim, enquanto que na Septuaginta, Vulgata e outras edições ocidentais integra os Livros Históricos. É chamado de Esdras B (beta) na versão grega, em contraste com a versão expandida Esdras A.

As Memórias de Esdras (Esdras 7:27–9:15; Neemias 8–9) providenciam o contexto sobre o personagem e sua atuação nos esforços de restaurar a comunidade religiosa judia em Jerusalém com os retornardos da Babilônia.

Siraque 44-49, em seu elogio aos pais omite a menção de Esdras, talvez por razões polêmicas.

Não se sabe como se deu sua composição canônica, mas estudos recentes afirmam que Esdras e Neemias sejam obras distintas e de diferentes autores, bem como hoje é descartada a autoria de Esdras para os livros das Crônicas.

Cerca de 85 por cento do Esdras-Neemias é um amálgama de documentos. Isso inclui correspondência real, memórias (relatos em primeira pessoa) e listas.

Outras obras com o nome de Esdras existem, com diferentes trajetórias históricas de aceitação canônica.

ESBOÇO ESTRUTURAL:

  1. O Retorno do Exílio (1:1–6:22)
  2. A Obra de Esdras (7:1–10:44)

BIBLIOGRAFIA

Pakkala, Juha. “The Quotation and References of the Pentateuchal Laws in EzraNehemiah,” in Changes in Scripture: Rewriting and Interpreting Authoritative Traditions in the Second Temple Period, ed. Hanne von Weissenberg, Juha Pakkala, and Marko Marttila (Berlin: de Gruyter, 2011), pp.193-221.

Yoo, Philip Y., Ezra and the Second Wilderness. Oxford, 2017 https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780198791423.001.0001

Epístola aos Efésios

Epístola paulina destinada à igreja da cidade de Éfeso, na Ásia Menor. Trata-se de uma exposição sobre o poder da graça imerecida.

Contém uma meditação sobre uma série de temas inter-relacionados centrados na igreja e sua relação com Cristo, e no comportamento cristão dentro da igreja. A unidade da igreja cumpre um plano divino. E essa unidade se manifesta na conduta cristã ordenada.

Esta epístola possui muitos paralelos com a epístola de Colossenses, direcionada à igreja da mesma região e situada cerca de 100 km de Éfeso.

Elefantina

Elefantina é um assentamento em uma ilha no rio Nilo, em frente à antiga Syene, hoje chamada de Gezîret Aswan (a “Ilha de Assuã”) no Alto Egito.

O vasto volume de restos de papiro desde o segundo milênio a.C. até o período árabe faz desse sítio arqueológico uma importante fonte de textos da Antiguidade. Especialmente importante para as ciências bíblicas e história israelita são os 80 papiros em aramaico de uma comunidade judia de mercenários que foi ativa na ilha no Período Persa, entre os século VI a.C. e IV a.C.

Esta comunidade cultuava em um templo dedicado a Yahweh (ao qual chamavam Yahu), ainda que cultuado junto de outras divindades. Não há indícios de terem conhecimento de Escrituras, salvo alguns salmos, nem da tradição do Êxodo ou de uma linhagens sacerdotais. Todavia, possuíam um sacerdócio e celebravam a páscoa. Mantinham correspondência com seus patrícios de Yehud, a província persa da Judeia e Israel, incluíndo as lideranças religiosas de Samaria e Jerusalém

A ILHA DE ELEFANTINA

Na ilha de Elefantina a Fortaleza Yeb era uma guarnição de fronteira localizada na fronteira sul do antigo Alto Egito. Não é referida na Bíblia, mas Syene/Assuã, a cidade próxima na margem, aparece em Ez 29:10; 30:6.

Em 1893, muitos papiros e óstracas em aramaico apareceram, principalmente de Elefantina. Dez anos depois, iniciaram-se as escavações arqueológicas em Elefantina conduzidas pelos franceses (1902); os alemães (1906-1908); os padres do Pontifício Instituto Bíblico de Roma após a Primeira Guerra Mundial; e expedições egípcias (1932 e 1946), revelando o Templo de Khnum (dos séculos IV a II a.C.) e um templo anterior de tijolos de barro, escavado pelos egípcios em 1948. As escavações não produziram evidências conclusivas sobre a localização do Templo de Yahu.

A COLÔNIA JUDAICA

Não está claro quando a colônia judaica começou em Elefantina. Uma inscrição sugere que o templo já existia antes da queda do Egito para os persas em 525 aC, o que o situa em quase um século antes da reconstrução do templo por Esdras. Há quem sugira que a comunidade remonte do final do século VII a.C (cf. Is 19:19).

O templo Elefantina tinha um altar para sacrifícios e holocaustos a Yahweh, a quem chamavam de “Yahu”. No entanto, sua adoração não era totalmente exclusiva e incluía a adoração de outros deuses como Herem Bethel e Anath-yahu. Betel (“casa de Deus”) é visto como uma personificação da casa de El (no céu) e como uma expressão substituta para El (cf. Jr 48:13)

Embora protegida pela ocupação persa, a comunidade Elefantina teve conflitos com os egípcios. As cartas referem a atritos contínuos com os egípcios associados a um templo dedicado à divindade de Khnum.

Em 410 aC, um motim destruiu o templo judeu. Embora os persas eventualmente punissem os egípcios responsáveis, os judeus não conseguiram o dinheiro necessário para reconstruir o templo.

A colônia judaica estava bem estabelecida em Elefantina antes de 525 a.C. é provado pela referência da carta de Bagoas (AP 30) que menciona o templo antes de Cambises invadir o Egito, talvez datando do reinado do Faraó Apries (Hofra de Jr 44:30; 588-566 aC).

A colônia e seu templo duraram até o fim do reinado de Neferitas I (399-393 a.C.). Todavia, um fragmento de cerca do ano 300 a.C. menciona pessoas com nomes judeus (AP 82) e um longo papiro (AP 81) de aproximadamente o mesmo tempo que inclui nomes judeus e gregos e menciona um sacerdote Johanan, sugerindo a presença de um templo. Ainda no século I d.C. é possível que houvesse judeus na área Elefantina (Filo, Flaccus 43).

PAPIROS NOTÓRIOS

  • Amherst Papyrus 21 é uma ordem de Dario II em 419 AEC aos judeus para observarem os Dias dos Pães Ázimos.
  • Papiro TAD A4.1 (a Carta da Páscoa), carta de Hananias, um oficial judeu de Jerusalém ou da Pérsia, para a guarnição judaica e seu líder Jedanaías, fornecendo instruções sobre como realizar a Páscoa. Embora não mencione Betel, Hananias saúda a guarnição judaica em nome dos deuses (plural), o que implica um ambiente politeísta compartilhado;
  • Amherst Papyri 27, 30-34 registram a destruição do templo em Yeb, os esforços infrutíferos dos colonos durante os anos 410-407 AEC para garantir permissão para reconstruí-lo.
  • Amherst Papyrus 30 menciona duas pessoas citadas em Neemias, Sambalate (Ne 2:10; 13:28) indicado como o governador de Samaria; e Joanã (Ne 12:22), filho de Joiada e provavelmente o mesmo a quem Neemias perseguiu (13:28), é mencionado como sumo sacerdote, sendo Bagoas governador de Yehud (Judeia Persa).
  • Amherst Papyrus 63 contém uma versão do salmo 20, escrito em aramaico, mas com escrita egípcia demótica, além de dois outros salmos sem correspondência bíblica.

BIBLIOGRAFIA

Becking, Bob. Identity in Persian Egypt: The Fate of the Yehudite Community of Elephantine. Penn State University Press, 2020.

Bezalel Porten ; with J. Joel Farber … [et al.] ; contributions Simon Hopkins Ramon Katzoff. The Elephantine Papyri in English : Three Millennia of Cross-Cultural Continuity and Change. E.J. Brill, 1996.

Gondar, Diego Pérez. “Culto, Autoridad y Tradición. La Comunidad Judía De Elefantina y La Religiosidad Vinculada a Su Templo.” Scripta Theologica, vol. 50, no. 1, 2018, pp. 23–52.

Muffs, Yochanan. Studies in the Aramaic Legal Papyri from Elephantine. Vol. 66, BRILL, 2003.

Mélèze-Modrezejewski, Joseph. Les Juifs d’Égypte, de Ramsès II à Hadrien.
Paris: Armand Collin, 1991.

Struffolino, Stefano. “Iscrizione Dei Mercenari Greci Ad Abu Simbel.” Axon, vol. 2, no. 1, 2018, pp. 7–18.

Vernet, Eulàlia. “Els Papirs Arameus D’Elefantina: Religió i Culte D’una Comunitat Jueva Preexílica i Prebíblica.” Vol. 16, no. 16, 2017.

Livro de Ezequiel

Quando já não havia mais esperança em meio ao cativeiro babilônico, uma série de profecias e visões anunciam a restauração do povo israelita por obra de Deus.

O sacerdote exilado na primeira deportação da Babilônia (597) Ezequiel recebe um chamado e visões (1-3). Profetiza o julgamento de Judá e Jerusalém (4-25) e oráculo contras as nações (26-32). Depois da queda de Jerusalém em 586, no entanto, também profetiza sobre a futura restauração do povo (33-39), representada pela visão dos ossos secos que ganharam vida (37:1-14) e de um novo reino e templo (40-48). Esta última parte consiste em uma visão apocalíptica, como Dn 7-12 e Zc 9-14.

Ezequiel é mencionado pelo nome somente duas vezes na Bíblia (Ezequiel 1:3; 24:24). Ele morava às margens do canal Quebar, que atravessava a região sul do Império Babilônico, perto da cidade de Nippur. Ezequiel 3:15 nomeia a região como Tel-Abib.

ATOS SIMBÓLICOS

3:22-26: Ezequiel tranca-se amarrado em casa.
4:1-3: Cerca um tijolo com a inscrição do nome de Jerusalém
4:4-6: Ezequiel deita de lado dessa maquete por 390 e 40 dias
4:8. Ezequiel amarra-se
4:9-13: Ezequiel come excremento.
5:1-4: Ezequiel destroi sua barba e seu cabelo de três maneiras
12: 1-16: Cava um buraco na parede da casa e empacota seus pertences todas as noites em um exílio simulado
12: 17-20: comer e beber com temor
21: 6-7 lamenta-se diante do povo com o coração contrito
21: 18-24 marca dos dois caminhos para a espada do rei da Babilônia
24: 15-24: sua esposa morre, mas ele não pode se enlutar e o templo é destruído.
37: 15-28: Escreve os nomes dos dois reinos de Judá e Israel em uma tabuleta que se juntam.

PARÁBOLAS DE EZEQUIEL

  1. Julgamento: a madeira e a vinha 15:1-18
  2. Traição: o exposto e a adúltera 16
  3. Rebelião: a águia e o cedro 17
  4. Purificação: a fornalha: 22:17-22
  5. Traição: as duas prostitutas 23
  6. Pureza: o cozido 24:1-14
  7. Juízo sobre Tiro: naufrágio 27
  8. Líderes inúteis: pastores infiéis 34
  9. Remorso ou restauração: os ossos secos

CRONOLOGIA

DESTAQUES

Uma das visões mais marcantes ​​do livro é o trono de Deus, colocado acima de uma espécie de carruagem em movimento (1:4-28; 10:3-22).

Existem várias expressões peculiares nesse livro. O profeta é consistentemente chamado por Deus de “filho do homem”. É entendido a frase como “mortal”.

As visões de Gog e Magog (38-39) ganharam interpretações escatológicas.

A profecia contra a cidade e o rei de Tiro (26-28) foi interpretada como um tipo ou figura de Satanás ou Lúcifer.

ALUSÃO E EXEGESE INTRA-BÍBLICA

Apesar de Ezequiel não ser citado por outros autores da Bíblia Hebraica (e o nome somente aparece para uma pessoa não relacionada em Crônicas), o livro de Ezequiel alude à várias tradições antecedentes e foi recepcionado no Novo Testamento.

Vários textos de Ezequiel parecem aludir aos textos P, especialmente Levítico. Há vários paralelos entre Lv 26 e Dt 28 com as maldições dos tratados de vassalagens que também aparecem em Ezequiel.

Existem muitas alusões a Ezequiel no Novo Testamento.

  1. João 15 e 10 usa as imagens da videira e do pastor como Ez 15 e 34.
  2. João 20: 19–22 pode referir-se a Ez 37:1–14.
  3. O rolo ou livro (מְגִלָּה, megillah) que Ezequiel e João comeram (Ez 3:1-3; Ap 10:9-11).
  4. Simbolismo em Ez 1 e a visão de João do céu Ap 4:2-7.
  5. Gogue e Magogue (Ap 19: 17–21; 20: 7–10; Ez 38–39)

Evangelho de João

apresenta como Jesus Cristo, o Logos (Verbo, Palavra) divino, se revela à humanidade para proporcioná-la uma relação íntima com Deus. Distinto dos outros três evangelhos, há discursos mais longos de Jesus.

COMPOSIÇÃO

O Quarto Evangelho é tradicionalmente atribuído a João, filho de Zebedeu, um dos Doze (ver Mc 1,19; 3,17; etc.), identificado como o “discípulo amado”. O evangelho pode ter sido escrito por discípulos de João ou alguém a quem ele ditou (ver Jo 21:24). A data de sua composição é estimada ser de cerca de 90 d.C.

Apesar de hoje não ser identificado como o mesmo autor de outra literatura joanina — as três epístolas e o Apocalipse — geralmente é agrupado juntos, devido um alinhamento temático. A tradição localiza sua composição na Ásia Menor, em Éfeso.

Seu contexto parece estar situado em um ambiente desafiador: perseguição romana, tensões com judeus, negação docética da humanidade de Jesus e apelo aos discípulos de João Batista.

TEMAS

O evangelho de João apresenta vários conteúdos distintos dos evangelhos sinóticos. Seus sinais e discursos também são únicos.

Os sete “Eu sou” enunciados, uma diferente ordem cronológica, antíteses (“luz” x “trevas”) e comparações fazem dessa narrativa singular.

É possivel que o evangelho de João tenha sido estruturado ou aproveitado elementos estilístico de gêneros dramáticos gregos.

ESTRUTURA

Tradicionalmente, o Quarto Evangelho é dividido em:

  • Prólogo ou o Hino da Palavra (João 1:-1:18);
  • Livro dos Sinais (1:19 a 12:50);
  • Livro da Glória (ou da Exaltação) (13:1 a 20:31);
  • Epílogo (capítulo 21)

COMPARAÇÃO COM OS EVANGELHOS SINÓTICOS

João não enfoca tanto episódios como os evangelhos sinóticos, mas possui passagens longas com milagres e longos discursos correlatos. A narrativa combina uma organização cronológica com esquematização geográfica, estruturada ao longo de sete sinais miraculosos (Jo 2:1-11; 4:46-54; 5:1-15; 6:1-15; 6:16-21; 9:1-41; 11:1-44).

Nas falas de Jesus há um frequente uso de trocadilhos, duplo sentido e ironia.

O tratamento dos oponentes de Jesus são como cegos. Há a insistência de que seu reino não está em competição com o Império Romano.

Em João, o ministério de Jesus se estende por três Páscoas, não em um único ano. Jesus causa uma perturbação no Templo no início de seu ministério, não no seu fim. Cura os enfermos e ressuscita os mortos, mas não há exorcismos.

Tematicamente, seus ensinos não são focados na ética, tal como encontrados nos Sinópticos. Em vez disso, concentra-se em identificar-se como a revelação definitiva de quem é Deus e do que Deus espera da humanidade, ou seja, a união com Deus em uma vida de amor.

Seu relato da ressurreição se assemelha ao de Lucas, com histórias de aparições de Jesus em Jerusalém e em uma praia da Galileia.

ESBOÇO
Prólogo e o encontro com João Batista e os primeiros discípulos (1).

Cristo transforma a água em vinho, purifica o templo, instrui sobre o novo nascimento e é testificado por João Batista (2-3).

Encontram-se com uma mulher samaritana (4:1-42).

Jesus realiza vários milagres (4:43-6).

Em Jerusalém, Jesus participa da Festa dos Tabernáculos (7).

Defende uma mulher apanhada em adultério (8:1-11).

Vários ensinos e sinais miraculosos na última semana de Jesus (9-17).

Jesus é preso, julgado, crucificado (18-19).

Sua tumba é encontrada vazia e ele aparece em Jerusalém (20) e na Galileia (21).