Pseudo-Ezequiel

Pseudo-Ezequiel, também chamado 4QSecond Ezekiel ou fragmentos 4Q385, 4Q385b, 4Q385c, 4Q386, 4Q388 e 4Q391, é um texto hebraico pseudoepigráfico fragmentário encontrado entre os Manuscritos do Mar Morto na Caverna 4 em Qumran.

O texto é uma discussão entre Ezequiel e YHWH, tomando o relato bíblico de Ezequiel 37 como fonte, mas expandindo-o. Sua datação é estimada ser do século II a.C. A sequência exata dos fragmentos é incerta, embora a ordem dos acontecimentos no livro canônico de Ezequiel forneça uma base para o arranjo atual. O texto é controverso quanto sua leitura e identificação.

O texto começa com YHWH prometendo a Ezequiel que os ossos secos serão ressuscitados e o reino de Israel restaurado. No entanto, ao contrário da restauração nacional metafórica em Ezequiel 37, Pseudo-Ezequiel descreve a ressurreição real dos justos mortos de Israel. Isto o torna um dos únicos dois textos de Qumran que se referem claramente à ressurreição, sendo o outro 4Q521.

Segue, então, uma profecia que um “filho de belial” virá para oprimir os israelitas, mas será derrotado e seu domínio não durará. Em fragmentos posteriores, Ezequiel pergunta a YHWH se o próprio tempo poderia ser acelerado para que Israel pudesse recuperar a terra prometida mais cedo. Há também uma passagem que revisita o tema da ressurreição, seguida de uma evocação final da Merkabah, a carruagem de YHWH mencionada em Ezequiel 1.

Manuscrito de Shapira

O Manuscrito de Shapira era um conjunto de tiras de couro com inscrições em grafia paleo-hebraica trazida a público pelo comerciante de antiguidades Moses Wilhelm Shapira em 1883. Seria uma versão distinta de Deuteronômio, mas na época foi considerado uma falsificação pela comunidade acadêmica. Shapira suicidou-se e o manuscrito desapareceu.

O manuscrito eram quinze tiras de couro provenientes em Wadi Mujib, região do Arnon, na Transjordânia, perto do Mar Morto.

Possuía uma variante nos Dez Mandamentos: “Não odiarás teu irmão em teu coração: Eu sou Deus, teu Deus.” Exceto no decálogo, as leis são ditas em terceira pessoa.

Depois da descoberta dos Manuscritos do Mar Morto foram feitas análises posteriores dos fac-símiles sobreviventes. Biblistas como Menahem Mansoor (1959) e Idan Dershowitz (2021) argumentam que seria uma versão anterior ao Deuterônimo na versão massorética que chegou ao presente. Dershowitz argumenta que seria um discurso de despedida de Moisés, correspondente a Deuteronômio 1-11; 27-32.

BIBLIOGRAFIA

Dershowitz, Idan. The Valediction of Moses: New Evidence on the Shapira Deuteronomy Fragments. ZAW 133, 2021.

Mansoor, Menahem. The case of Shapira’s Dead Sea (Deuteronomy) scroll of 1883. Madison: University of Wisconsin, 1959.

Rollston, Christopher. “Deja Vu all over Again: The Antiquities Market, the Shapira Strips, Menahem Mansoor, and Idan Dershowitz” Rollston Epigraphy – 10 March, 2021.

Tigay, Chanan. The Lost Book of Moses: The Hunt for the World’s Oldest Bible. New York: Ecco, 2016.

Tigay, Chanan. O livro perdido de Moisés: a procura da Bíblia mais antiga do mundo. Lisboa: Temas e Debates, 2017.

Diálogo de Timóteo e Áquila

O Diálogo de Timóteo e Áquila é uma obra apologética cristã.

Em gênero textual de um diálogo, semelhante ao Diálogo de Trifão de Justino Mártir, registra um debate literário entre Timóteo, um cristão, e Áquila, um judeu. Foi escrito em grego na segunda metade do século VI, ou final do século V, sendo uma das últimas obras desse gênero de debate adversus Iudaeos da Antiguidade cristã. O debate é ambientado em Alexandria, durante o episcopado de Cirilo, entre 412 e 444.

Cânone

Este diálogo, atesta familiaridade com a Septuaginta, as versões gregas de Áquila, Teodotion e Símaco. Para fins de debate, estabelece (3.9-20) como dotados de autoridade (e pertencente ao cânone) os seguintes livros:

Livros Canônicos (Antigo Testamento):

  1. Gênese (ditado por Deus e escrito por Moisés)
  2. Êxodo (ditado por Deus e escrito por Moisés)
  3. Levítico (ditado por Deus e escrito por Moisés)
  4. Números (ditado por Deus e escrito por Moisés)
  5. Deuteronômio (diz que não foi ditado por Deus nem escrito por Moisés ou depositado na arca)
  6. Josué (Jesus filho de Num)
  7. Juízes com Rute
  8. 1 Crônicas e 2 Crônicas
  9. 1 Samuel (1 Reinos) e 2 Samuel (2 Reinos)
  10. 1 Reis (3 Reinos) e 2 Reis (4 Reinos)
  11. Salmos (Saltério de David)
  12. Provérbios de Salomão com
  13. Eclesiastes com Cantares de Salomão (Cânticos)
  14. Os Doze Profetas (Profetas Menores)
  15. Isaías
  16. Jeremias
  17. Ezequiel
  18. Daniel
  19. Esdras (com Neemias?)
  20. Judite
  21. Ester

Considerados apócrifos, mas provavelmente aceito para o diálogo.

  1. Tobias
  2. Sabedoria de Salomão
  3. Siraque

Novo Testamento

  1. O Evangelho (um único livro?)
  2. Atos dos Santos Apóstolos
  3. Epístolas dos Apóstolos (seriam as epístolas católicas?)
  4. Epístolas do Apóstolo Paulo (conta como 15 delas, sem mencionar os títulos)

O diálogo sugere que estes livros são considerados canônicos. No entanto, é importante notar que o diálogo não especifica quais livros específicos estão incluídos em categorias como “Epístolas dos Apóstolos” e “Epístolas do Apóstolo Paulo”. A lista também reconhece a existência de livros apócrifos, que não são considerados parte dos textos canônicos. A ordem dos livros do Antigo Testamento também é incomum. Apesar de não considerar a origem divina ou mosaica de Deuteronômio, considera-o canônico.

Faz também uma das primeiras referências a manuscritos escondidos no Deserto da Judeia.

O cristão disse: Mencionei este assunto porque também existem outros livros apócrifos, pois eles também estão incluídos na aliança de Deus, traduzidos pelos 72 tradutores hebreus, assim como por Áquila, Símaco e Teodocião, além de outras duas versões encontradas escondidas em jarros, uma em Jericó e outra em Nicópolis (que é Emaús), embora não saibamos quem as traduziu, pois foram descobertas nos dias da desolação da Judeia sob Vespasiano. Diálogo de Timóteo e Áquila, 3.8-3.10.

BIBLIOGRAFIA

Rigolio, Alberto. Christians in Conversation: A Guide to Late Antique Dialogues in Greek and Syriac. Oxford University Press, 2019.

Visões de Anrão

As Visões de Anrão são uma obra descoberta nos achados de Qumran. Anrão, a figura a quem o documento é atribuído, é identificado na tradição bíblica como pai de Moisés, Aarão e Miriã.

O documento é preservado em cinco cópias em aramaico (4Q543-547), sendo razoavelmente populares em Qumran. Ainda assim, como o documento não exibe nenhuma das linguagens distintas ou ideias associadas a documentos como a Regra da Comunidade (1QS), os Hinos de Ação de Graças (1QHa), as Visões de Anrão podem ter sido compostas e lidas fora do grupo de Qumran. O documento provavelmente foi escrito em aramaico em algum momento do século II a.C., provavelmente na Judeia ou na região circundante.

Anrão, com 136 anos, celebra o casemento de Miriã com Uziel e reúne sua família para contar sua história. Seus antepassados construíram túmulos em Canaã. Houve uma separação da família devido à guerra com uma reunião após 41 anos.

A Visão de Anrão descreve figuras divinas contendendo sobre o julgamento, as quais Anrão questionam suas autoridades. Apresenta-se as opções de destino. Aparecem Belial e Melkirisha, bem como Melquizedeque. Segue um pequeno tratado da Diferenciação entre Luz e Trevas, discorrendo do destino dos filhos de cada um, o triunfo da Luz.

Arquivo de Salome Komaise

Salome Komaise Filha de Levi viveu entre c. 94 d.C. a 132 d.C. Morava em Mahoza, uma vila que inicialmente fazia parte do reino nabateu, mas depois foi incorporada à província da Arábia romana.

Contém contratos notariais (escritura de doação, contrato de casamento, escritura de renúncia a créditos) e dois recibos. Estão escritos principalmente em grego e nabateu, refletindo a natureza multilíngue da comunidade naquela época.

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Arquivos de Babatha