A teoria participatória ou participativa da expiação é uma perspectiva teológica sobre a obra redentora de Cristo. Por essa teoria, a salvação humana é possível pela participação na obra redentora mediante a união com Cristo pelo Espírito Santo.
Nessa perspectiva, a obra redentora de Cristo vai desde sua encarnação até a ascensão, com sua vida e seus ensinos sendo relevantes para a justificação. No entanto, não se trata de um modelo de expiação pelo exemplo, mas pela alteração do estado humano pelo Deus encarnado. A salvação seria a participação humana na vida de Deus.
A epístola de Hebreus é o principal texto que descreve um relacionamento participativo entre Cristo e os crentes. Os crentes participam da obra de Cristo e compartilham de sua identidade, ensinos e benefícios salvíficos. Hebreus contém expressões e temas participativos semelhantes à ideia de adoção e temas de união com Cristo nos escritos joaninos e paulinos.
A expiação na Igreja primitiva compreendia três aspectos: expiação vicária, a derrota escatológica de Satanás e a imitação de Cristo — nos termos de participação na morte e ressurreição de Jesus. Segundo Pate (2011) esses três aspectos estavam entrelaçados nas mais antigas literaturas cristãs. Mais tarde, cada aspecto foi isolado e passou a ter um status condutor nas diversas vertentes das doutrinas de salvação.
Posteriormente, esta teoria aparece marginalmente tanto na tradição reformada (Calvino e Edwards) quanto nas teorias de união mística do catolicismo romano. É próximo às teorias de influência moral de Agostinho e Abelardo.
O renovado interesse evangélico surgiu no final da década de 2000 em duas fontes. Por um lado, a teóloga Julie Canlis encontrou essa perspectiva na soteriologia de Calvino, o qual a utilizava junto da teoria da substituição penal. Por outro lado, a questão de não impor modelos modernos de justiça retributiva aos textos bíblicos levou o biblista Michael Gorman a articular a teoria da expiação sob aspectos da justiça restaurativa e participação da comunidade da nova aliança com Cristo.
Há controvérsia se a teoria participativa seja compatível com outras teorias acerca da expiação. Normalmente, a doutrina de salvação participatória é apresentada em conjunto com outras teorias da expiação, como faz o teólogo reformado Hans Boersma (2006). Contudo, teólogos e biblistas (especialmente da Nova Perspectiva sobre Paulo) argumentam que a respeito da salvação Paulo considerava a vida e morte de Jesus não como um sacrifício vicário, mas como meio de participar na comunhão com Deus pela fidelidade de Cristo. Para James F. McGrath, Paulo preferiria a linguagem da participação: Cristo morreu por todos, de modo que todos com Ele morreram (2 Coríntios 5:14). “Isso não seria apenas diferente da substituição, mas seria o oposto dela”. (2007).
A teoria participativa corrige muitos defeitos de foco de outras teorias. Mas, vai além dos focos no motivo e no meio de redenção para enfatizar a novidade de vida da pessoa justificada em Cristo.
BIBLIOGRAFIA
Bayne, Tim; Restall, Greg. “A participatory model of the atonement.” New Waves in Philosophy of Religion 150 (2009).
Boersma, Hans. Violence, Hospitality, and the Cross: reappropriating the atonement tradition. Grand Rapids: Baker, 2006.
Canlis, Julie. Calvin’s Ladder: A Spiritual Theology Of Ascent and Ascension. Grand Rapids: Eerdmans, 2010.
Gorman, Michael J. The Death of the Messiah and the Birth of the New Covenant: a (not so) New Model of the Atonement. Wipf and Stock Publishers, 2014.
McGrath, James F. What’s Wrong With Penal Substitution? Patheos, 2007.
Pate, C. Marvin. From Plato to Jesus: What Does Philosophy Have to Do with Theology?, Kregel Academic, 2011.