Nova Conexão Metodista

A Nova Conexão Metodista, pejorativamente chamada de Killhamites, foi uma denominação metodista britânica existente entre 1797 e 1907. Sua ênfase na participação leiga e a redação de seus artigos de fé infuenciaram muitas denominações evangélicas posteriores.

Depois da morte de John Wesley em 1791, o metodismo britânico tornou-se rapidamente institucionalizado enquanto algumas lideranças insistiam em manter o movimento subordinado à Igreja Anglicana. Em reação, Alexander Kilham (1762 – 1798), um pregador itinerante metodista, defendia a independência denominacional para os metodistas.

Kilham propôs que os membros leigos deveriam participar da gestão da Igreja, havendo representação igual com os ministros nas conferências decisórias. Kilham defendia que o ministério não deveria possuir autoridade oficial ou prerrogativa pastoral, mas deveria apenas executar seus ministérios de acordo com as diretrizes das congregações e das conferências.

Na conferência dos metodistas britânicos em 1796, Kilham foi expulso por defender os princípios eclesiológicos acima. Em seguida, nas cidades industrais vários metodistas das classes trabalhadoras e de classe média educada aderiram à Nova Conexão Metodista organizada por Kilham. No entanto, ele morreria no ano seguinte.

A segunda esposa de Kilham, Hannah Spurr Kilham (1774–1832), com quem se casou poucos meses antes de sua morte, foi missionária e linguista no oeste da África.

A Nova Conexão Metodista fez parte da vertente radical do metodismo do século XIX. Essa vertente mantinha a soteriologia wesleyana, mas insistia em um primitivismo quanto à eclesiologia e um ativismo social em prol dos desfavorecidos. A NCM foi formada em 1797, os Metodistas Primitivos em 1807, os Cristãos da Bíblia em 1815, os Metodistas Livres em 1860 e o Exército de Salvação em 1865.

Recebiam a alcunha de “Thomas Paine Methodists” pelos valores democráticos que os inspiravam. Em suas reuniões, as pregações eram seguidas por uma discussão livre.

Catherine e William Booth, o fundador do Exército de Salvação, foram membros da Nova Conexão Metodista e inspiram em seus Artigos de Fé para a redigir os pontos de doutrina de seu novo movimento.

Em 1907 a Nova Conexão Metodista, então com 37 mil membros, uniu-se com outras denominações metodistas britânicas para formar a Methodist Church of Great Britain.

BIBLIOGRAFIA

Blackwell, J. Life of Alexander Kilham. 1838.

Kilham, Alexander; Thom, William. Out-lines of a constitution; proposed for the examination, amendment and acceptance, of the members of the Methodist New Itinerancy. 1797.

Thompson, Edward Palmer. The making of the English working class. 1968.

Confissões bíblicas

Em grego o termo homologeō, confesso, (e seus correlatos confissão, confessar) aparece com dois sentidos no Novo Testamento e na Septuaginta:

  • Reconhecimento de culpa, do pecado.  1 Jo 1:9; Lc 15:21, cf. 2 Sm 12:13; Sl 32:5.
  • Reconhecimento pessoal ou público de uma crença. Rm 10:9; Mt 16:15-16, Jo 9:22; 12:42-43.

Nesse último sentido, temos algumas confissões importantes nas Escrituras.

Declaração de Princípios da Igreja Cristã Livre na Itália

Em 1870 a Igreja Cristã Livre na Itália adotou essa seguinte declaração de Princípios. Esses artigos de fé refletem a teologia do risveglio e uma busca pela unidade entre evangélicos italianos. Certamente constituem um predecessor dos artigos de fé de Niagara Falls de 1927, com o qual compartilha muito de sua estrutura e terminologia.

Teoria da substituição penal

A teoria da substituição penal é uma perspectiva soteriológica forense de como a morte de Cristo proporciona a reconciliação da humanidade com Deus.

Nessa perspectiva da expiação pela substituição penal, os pecados original e atuais são ofensas à santidade e à justiça de Deus. A satisfação a essa ofensa seria paga pela morte de Cristo (razão para essa teoria ser chamada por vezes de expiação transacional ou comercial). Cristo foi o único capaz de suportar a penalidade total do pecado do homem em sua morte vicária. Toda a culpa e o castigo que os pecadores merecem foram transferidos para Cristo. A obediência de Cristo em vida e sofrimentos em sua pena total foram de tal modo que o pecado não seja mais imputado ou a pena exigida daqueles por quem Ele morreu. Assim, a penalidade dos pecados foi transferida para Cristo por imputação.

As bases bíblicas geralmente apontadas são João 11:50-52; Romanos 5:8-9; Tito 2:14; 1 Pedro 3:18.

Inicialmente a teoria da substituição penal foi elaborada por Calvino com base na teoria de satisfação de Anselmo e da imputação da justificação de Lutero. Vale atentar que tanto Calvino quanto Lutero tratavam da doutrina de modo complexo, sem exclusivamente reduzi-la ao modelo de substituição penal. Calvino refinou essa doutrina em seu debate com Andreas Osiander. Foi contestada por Hugo Grócio e alguns arminianos mediante a teoria governamental de expiação. Entretanto, a teoria da substituição penal ganhou uma versão em John Wesley que se tornou corrente entre arminianos de língua inglesa.

Variantes ocorreram nas confissões calvinistas do século XVII e na teoria do representante federal. Essa variante foi desenvolvida por Cocceius, Turretin e John Gill. Nela, por uma aliança das obras Adão foi o representante federal de toda a humanidade. Portanto, seu pecado e suas consequências seriam legalmente imputados a todos. Cristo seria a contrapartida e representante, mas sendo divino e humano, não pecou. Estaria, assim, representando a humanidade diante do Pai.

A ênfase no vicário (substituição) leva a uma reafirmação pleonástica de “substituição vicária” para distinguir essa doutrina de outras variantes substitutivas de expiação, mas não penais. Um exemplo de substituição não penal é a teoria do prêmio. No final do século XIX, o teólogo sueco P. P. Waldenström chegou à conclusão de que Cristo morreu não para mudar a atitude de Deus Pai para com os pecadores, mas para mudar o coração dos pecadores. Essa variante é chamada de teoria do prêmio (premial theory) da expiação, pois considera o prêmio do lado vitorioso em um caso forense. É uma teoria popular entre denominações e grupos avivados de matriz escandinava.

A doutrina da substituição penal distingue-se também das teorias sacrificiais de Zinzerford e Girard. A soteriologia do teólogo morávio é sacrificial, mas não substitutiva. Zinzendorf centrava-se na metáfora de Cristo como o Cordeiro imolado, cujo sangue e feridas resgataram o mundo, proporcionavam a união mística e exemplo para humanidade. Influenciado por Dippel, não aceitava que o Deus de amor se satisfaria com a morte de um substituto para a humanidade. Já na teoria do bode expiatório René Girard e James Alison propõem uma substituição vicária, mas não penal. A humanidade odiou os ensinos e vida de Cristo porque não o podia imitar. Foi sacrificado como uma vítima do ódio humano. A morte gera um arrependimento e possibilidade de restaurar a ordem originalmente proposta.

As doutrinas da substituição penal ou expiação sacrificial e mesmo todo o sistema de soteriologia forense recebe diversas críticas teológicas. Um problema o qual essa teoria não responde é a do papel do Espírito Santo bem como não liga ou explica a expiação às transformações proporcionada pela graça desde salvação até cura divina. Há ainda críticas à moralidade dessa teoria. Por exemplo, Rita Nakashima Brock compara expiação sacrificial a abuso infantil divino. Em pesquisa empíritca, Hydinger e seus colaboradores encontraram uma correlação entre a propagação dessa doutrina com sofrimentos psicológicos. Ainda esse modelo contradiz as evidências bíblicas e históricas sobre a função do sacrifício na antiga religião israelita, o qual não tinha caráter forense. Outra crítica é que na ideia de que na cruz Cristo recebeu a punição exata e literal da humanidade não corresponde exatamente a um inferno de sofrimento eterno em penalidade ao pecado. Todavia, na Declaração de Cambridge (cidade de Massachussetts), elaborada em 1996 pela Alliance of Confessing Evangelicals, um grupo de pastores novo calvinistas e de alguns luteranos, consideraram a doutrina da substituição como o próprio evangelho:

Segunda tese: Solus Christus

Reafirmamos que nossa salvação é realizada somente pela obra mediadora do Cristo histórico. Sua vida sem pecado e expiação substitutiva por si só são suficientes para nossa justificação e reconciliação com o Pai.

Negamos que o evangelho seja pregado se a obra substitutiva de Cristo não for declarada e a fé em Cristo e em sua obra não for solicitada.

Diante desse ataque à fé cristã tradicional, reacendeu-se a discussão sobre a doutrina da expiação. Teólogos evangélicos e de diversas vertentes denominacionais responderam com novas articulações das doutrinas históricas do cristianismo sobre a expiação tanto em termos de soteriologia forense quanto de soteriologia transformativa.

BIBLIOGRAFIA

Belousek, Darrin W. Snyder. Atonement, justice, and peace: The message of the cross and the mission of the church. Grand Rapids: Eerdmans, 2011.

Brock, Rita Nakashima; Parker, Rebecca Ann Parker. Saving paradise: How Christianity traded love of this world for crucifixion and empire. Beacon Press, 2008.

Hydinger, Kristen, et al. “Penal substitutionary atonement and concern for suffering: An empirical study.” Journal of Psychology and Theology 45.1 (2017): 33-45.

McGrath, Alister E. Iustitia Dei: a history of the Christian doctrine of justification. Cambridge University Press, 2005.

Stott, John R.W. The Cross of Christ. Downers Grove, Ill. : InterVarsity Press, 1986.

Stump, Eleonore. Atonement, Oxford University Press, 2019.

Teoria da influência moral

A teoria da influência moral é uma doutrina subjetiva da reconciliação para explicar o motivo da obra redentora de Cristo e por quais meios altera a humanidade.

Por essa doutrina, a justiça de Deus é igual a seu amor. Como o pecado é uma ofensa produzida contra essa justiça e amor, Deus dispensou sua graça para reparar o pecador. Por Deus possuir um infinito amor pela humanidade, perdoa os pecados sem exigir punição ou penitência. Deus desperta o amor da humanidade ao enviar Jesus como seu exemplo obediente desse amor. Como deixaria de ser amor se fosse forçado, a obra de ensinos e obediência até a morte de Cristo incutiram o amor a Deus na humanidade.

Os textos bases para essa teoria são Jo 15:13; Rm 5:8; 2 Co 5:17-19; Fp 2:5-11; Cl 3:24. 1 Pe 2:21 e 1 Jo 2:6.

Originalmente traços da teoria da influência moral apareceram com Agostinho, mista com alguns elementos da teoria da satisfação. Como doutrina distinta foi proposta pelo teólogo medieval francês Pedro Abelardo. Ele rejeitou a ideia da morte de Jesus como um resgate pago ao Diabo, pois atribuía poderes divinos a um oponente maligno. Ele também se opôs à teoria da satisfação de Anselmo de que a morte de Jesus seria uma dívida paga à honra de Deus.

“A nossa redenção está, portanto, naquele amor supremo despertado em nós pela paixão de Cristo, amor que não só nos liberta da escravidão do pecado, mas também nos torna participantes da verdadeira liberdade dos filhos de Deus, para que façamos todas as coisas não por medo mas por amor Àquele que nos concedeu tão grande graça”.

Abelardo. Ad Romanos 2:22

Uma perspectiva relacionada, mas que não deve ser confundida, é a “teoria do exemplo moral”, desenvolvida por Faustus Socinus. Enquanto a teoria do exemplo moral a salvação resulta da imitação das obras e seguir os exemplos de Cristo, a teoria da influência moral postula que a obra reconciliatória de Cristo compele o ser humano pecador, pelo Espírito Santo, a amar a Deus e a fazer obras de justiça.

Variantes da teoria da influência moral podem ser encontradas em Johann Albrecht Bengel e nos pietistas de Württemberg, Friedrich Schleiermacher (1768-1834), Hosea Ballou (1771 – 1852), Horace Bushnell (1802-1876) e entre os reformados holandeses em Herman Wiersinga (1927 –2020).

Ballou exemplifica a posição do início do século XIX sobre essa teoria. Sustentava que a vida e os ensinamentos de Jesus são o que traz a reconciliação entre Deus e a humanidade. O amor e compaixão de Jesus nos inspira a abandonar o pecado e seguir o caminho da retidão. Essa teoria enfatiza o poder transformador do amor e a importância de viver uma vida virtuosa.

Raramente lido em seus próprios termos e em seu método dialético, a teoria de influência moral de Abelardo tende a ser representada de forma caricata. Uma das representações distorcidas ocorre principalmente tornar a morte de Cristo sendo um mero exemplo. No entanto, Abelardo enfatiza que Cristo morreu por causa de nossos pecados porque realmente cometemos essas transgressões. Como um dos primeiro proponentes do intencionalismo da vontade, Abelardo dizia que a fé (a confiança) nesse amor de Deus mediante a influência moral de Cristo possibilitaria alinhar o arbítrio da pessoa com a intenção amorosa de Deus. Assim, o ser humano redimido desviaria-se da intenção de pecar e seria conduzido pelo amor a Deus.

Uma crítica à teoria da influência moral é que não explica o motivo da necessidade para a vinda e morte de Cristo, pois qualquer mártir poderia impactar a humanidade de modo despertar tal amor a Deus.

BIBLIOGRAFIA

Barclay, William. The Plain Man Looks at the Apostles’ Creed. Glasgow: William Collins Sons & Co., 1979.

Ballou, Hosea. A Treatise on Atonement. 1805.

Bushnell, Horace. The Vicarious Sacrifice: Grounded in Principles of Universal Obligation. RD Dickinson, 1892.

Crisp, Oliver D. “Moral Exemplarism and Atonement.” Scottish Journal of Theology, vol. 73, no. 2, 2020, pp. 137–149., doi:10.1017/S0036930620000265.

Finlan, Stephen. Salvation Not Purchased: Overcoming the Ransom Idea to Rediscover the Original Gospel Teaching. Eugene: Cascade Books, 2020.

Pedro Abelardo. Expositio in Epistolam ad Romanos.

Quinn, Philip L., 1993 [2009], “Abelard on the Atonement: Nothing Unintelligible, Arbitrary, Illogical, or Immoral About It”, in Rea, Michael C., Oxford Readings in Philosophical Theology, Vol. 1: Trinity, Incarnation, Atonement, New York: Oxford University Press,  2009, pp. 348–365.

Rashdall, Hasting. The Idea of Atonement in Christian Theology. Londres: Macmillan, 1919.