Judas

Judas é a versão grega do nome hebraico Judá. Na literatura bíblica esse nome comum refere-se a várias pessoas:

1 Judá ou Judas filho de Jacó (Mateus 1:2-3).

2 Judas, um ancestral de Jesus (Lucas 3:30).

3 Judas Macabeu, o terceiro dos cinco filhos de Matatias, da família dos Macabeus.

4 Judas da Galileia, um líder de uma revolta contra Roma durante o censo de Quirino (Atos 5:37). Josefo credita a ele a fundação da seita dos zelotes.

5 Judas Iscariotes, um dos doze apóstolos, filho de Simão Iscariotes (João 6:71; 13:26), que traiu Jesus. Distinto do outro apóstolo chamado Judas (João 14:22).

6 Judas, filho de Tiago e um dos apóstolos (Lucas 6:16; Atos 1:13; João 14:22). Este é provavelmente Judas Tadeu (Mateus 10:3; Marcos 3:18).

7 Judas, um dos quatro irmãos de Jesus (Marcos 6:3), tradicionalmente identificado como o autor da Epístola de Judas.

8 Judas, um homem para cuja casa em Damasco o cego Saulo foi levado (Atos 9:11).

9 Judas Barsabás, emissário da igreja de Jerusalém escolhido junto com Silas para acompanhar Paulo e Barnabé de volta a Antioquia para comunicar o decreto apostólico (Atos 15:22-23). Talvez fosse irmão de José (Atos 1:23).

Livro de Enoque

O Livro de Enoque é uma coleção, de gênero apocalíptico, de apócrifa e pseudopigráfica de textos judaicos do período do Segundo Templo atribuídos a Enoque, o bisavô de Noé (Gênesis 5:18).

Geralmente quando se diz “Livro de Enoque” refere-se a 1 Enoque, cujos manuscritos originalmente sobreviveram apenas na língua ge’ez até a descoberta de cópias entre os Manuscritos do Mar Morto. Outros livros ou recensões com o mesmo nome são 2 Enoque em eslavo antigo e 3 Enoque em hebraico. Mais tarde foram descobertas cópias em outros idiomas.

Exceto entre grupos apocalípticos no período do Segundo Templo (por vezes chamado de judaísmo enoquita) e em áreas remotas da Antiguidade Tardia e na Idade Média (Etiópia e Bálcãs), o livro de Enoque não foi tido como canônico. Apesar disso, é citado no Novo Testamento. 1 Enoque é ainda parte do cânon amplo das igrejas ortodoxas etíope e eritreia.

Enoque é uma antologia de vários textos. A secção chamada de Livro Astronômico de Enoque talvez tenha sido composto na região de Samaria cerca 250 a.C. O Livro dos Vigilantes pode remontar da Judeia da década de 240 a.C.2 Enoque talvez seja de 30 ac-70 aC.

Esses textos descrevem como anjos caídos (grigori ou vigilantes) acasalam-se com humanos de onde saíram os gigantes ou nefilim (cf. Gênesis 6:1-2). Há também uma visita de Enoque ao céu na forma de uma visão e suas revelações. Ele também contém descrições do movimento dos corpos celestes.

Epístola de Judas

Advertências para persistir na fé diante de enganadores.

A Epístola de Judas, uma carta concisa do Novo Testamento, dirige-se a uma comunidade de judeus crentes em Cristo, instando-os a resistir à influência dos mestres antinomianos (“contra a Lei”) e a defender as implicações morais de sua fé conforme ensinada pelos apóstolos.

Posicionado como o vigésimo sexto livro do Novo Testamento do cãnon ocidental, Judas é classificado como uma “Epístola Geral” ou “Epístola Católica”, indicando seu público-alvo como a comunidade cristã mais ampla, embora alguns estudiosos modernos defendam um público mais específico.

A autoria de Judas gerou debates, com o escritor se apresentando como “servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago”. Enquanto alguns o associam a Judas, irmão de Jesus, outros consideram a possibilidade de autoria pseudônima. A ênfase da carta numa salvação comum é vista como indicativa de uma era pós-apostólica, promovendo uma fé partilhada.

Acredita-se que o contexto histórico de Judas varie entre 50 e 110 dC. A localização geográfica é incerta, embora a Palestina ou a Ásia Menor pareçam provávéis. A carta aborda uma comunidade que enfrenta desafios de mestres que promovem a frouxidão moral e o desrespeito pela Lei Judaica.

A perspectiva teológica de Judas enfatiza o arrependimento e as boas obras para a salvação, omitindo menções explícitas às doutrinas da expiação ou da ressurreição. Notavelmente, sua postura doutrinária alinha-se com a Epístola de Tiago e possui muitos paralelos com 2 Pedro.

O termo “fé” tem uma variedade de significados no Novo Testamento. Em Judas 3, a fé pareece referir-se ao conteúdo doutrinário e à constância (fidelidade) dos crentes, mas não ao ato de acreditar. Já advérbio “de uma vez por todas” (ἅπαξ, hapax) parece indicar que as convicções doutrinárias da igreja primitiva haviam chegado a um consenso via ensino apostólico.

Judas se envolve na interpretação tipológica das Escrituras, justapondo figuras contemporâneas com personagens bíblicos para ilustrar lições morais. Baseia-se em fontes não-canônicas, notadamente o Testamento de Moisés e 1 Enoque, sendo este último citado diretamente nos versículos 14–15.

A estrutura de Judas segue um formato típico de carta greco-romana, composta por endereço, saudação, proêmio, meio do corpo com interpretações de vários textos e uma seção de encerramento com apelos e doxologia.

Referente à canonicidade, a Epístola de Judas integra a antilegômena. No final do século II d.C., Judas foi aceito como escritura no norte da África por Tertuliano e em Alexandria por Clemente e Orígenes. Houve questionamentos acerca de sua autoria por Eusébio. A citação de 1 Enoque por Judas foi um problema para Tertuliano (de Cult. fem. 1.3) e Jerônimo (De Vir. III. 4). Aparece no Cânone Muratoriano (II-IV d.C.), na lista de Atanásio em 367 e.c., e na Bíblia Siríaca de Filoxeno no século VI, mas não em muitas recessões da Peshitta.

Apesar de sua brevidade e relativa negligência pelos exegetas, a Epístola de Judas ganhou atenção por seu uso de escrituras não canônicas, complexidade textual, retórica inflamada e sua contribuição para as primeiras ideias cristãs. Figuras posteriores como Martinho Lutero associaram Judas a controvérsias teológicas específicas e a olharam com desdém.

Nos estudos contemporâneos, a epístola Judas permite vislumbrar o cristianismo judaico primitivo, demonstrando o entrelaçamento de eventos históricos com expectativas escatológicas e o uso de interpretação tipológica para transmitir ensinamentos morais.

BIBLIOGRAFIA

Bauckham, R. Jude and the Relatives of Jesus in the Early Church. London: T&T Clark, 1990, 2004.

2 Pedro

Exortações a uma vida cristã enquanto se espera o glorioso retorno de Cristo.

Um sermão estruturado como uma carta, possui uma introdução (1:1-11); o testamento petrino (1:2-21); falsos mestres (2); o retorno de Cristo (3:1-13); a pureza na espera (3:14-16); e conclui com uma benção ou doxologia (3:17-18).

Possui vários paralelos com a epístola de Judas.