Testamento de Jó

O Testamento de Jó é um texto apócrifo que conta a história da vida de Jó após suas provações e tribulações. Inclui conversas com sua esposa e filhos, reflexões sobre a natureza do sofrimento e da redenção e visões da vida após a morte. O texto enfatiza a importância da perseverança, fé e humildade diante da adversidade e fornece um poderoso exemplo da luta humana para entender os caminhos de Deus.

No estilo de uma hagadá, um conto popular judaico, o Testamento de Jó retrata seu protagonista como rei de Edom e escravo de Satanás. Contudo, Jó era um homem justo e quebrou a estátua de Satanás. Por isso, Satanás se vingou de Jó quando recebeu permissão de Deus para ferir Jó e sua família – sua propriedade foi destruída, seus filhos morreram, foi ferido com furúnculos e sua esposa Sitidos tornou-se escrava. Depois de passar nas provações, ele se casou com uma nova esposa, que, segundo o livro, é Diná, filha de Jacó. Dela Jó criou sete filhos

O livro segue o gênero de testamento ou discurso de despedida. No final de sua vida, Jó reúne seus filhos e filhas para dar-lhes suas instruções e exortações finais. Como herança, Jó dá às suas três filhas três cordões de várias cores vindos do céu. Quando colocam os cordões, elas começam a falar, louvando a Deus nas línguas dos anjos, arcontes e querubins, respectivamente. (Testamento de Jó 46–48). Há muitos paralelos com as crenças cristãs que os leitores cristãos encontram, como intercessão com Deus e perdão.

Foi escrito entre o século 1 a.C. e fnal do século 1 d.C. O livro foi originalmente escrito em hebraico ou aramaico, mas foi perdido e preservado apenas em uma tradução para o copta do século V.

BIBLIOGRAFIA

Testament of Job (em inglês).

Siquém

Siquém, em hebraico שְׁכֶם, shekhem, “ombro”, é uma cidade mencionada várias vezes e cenário de muitos eventos na Bíblia. Na narrativa bíblica, aparece com o motivo literário da aliança (berit). Localiza-se no moderno sítio arqueológico de Tel Balata, próximo a Nablus na Palestina.

Estava localizada na região central de Canaã (e depois no termo de Efraim), na passagem entre o Monte Ebal e Monte Gerizim. Controlava uma importante rota comercial e tinha um vale fértil a leste.

A ocupação pré-histórica como cidade é datada do calcolítico (4o milênio). Da idade do Bronze restam vestígios de um templo-fortaleza dedicado a Baal-Berit (o Senhor da Aliança) (Juízes 8:33; 9:4, 46). Artefatos com inscrições proto-cananeias e algumas tabuletas em escrita acadiana atestam a conexão da cidade com outras nações do Antigo Oriente Médio. Seu nome aparece na estela da Sebek-khu (c.1880-1840 a.C.) e nas Cartas de Amarna (XIII a.C.). A Carta de Siquém (século XIV a.C.) com a cobrança dos honorários de um professor é a mais antiga atestação de escolas e atividades escribais no território de Canaã.

Siquém foi a primeira cidade visitada por Abraão em sua migração de Harã (Gênesis 12:6). Sob a grande árvore (terebinto) de Moré em Siquém Deus apareceu a Abraão. Nesse terebinto Abraão edificou um altar e ofereceu sacrifícios.

A passagem de Abraão por Siquém constitui uma dificuldade bíblica. No discurso de Estevão em Atos 7:2-53, Abraão, ao invés de Jacó, comprou o terreno em Siquém dos filhos de Hamor (cf. At 7:16 com Gênesis 33:18-19; 23:3-20).

Siquém figura com mais destaque nas tradições associadas a Jacó. Em seu retorno de Padam-Aram comprou um lote de terra em Canaã próximo a Siquém, onde ergueu um altar a El Elohe Israel.

Enquanto a família de Jacó vivia estacionada perto da cidade, ocorreu o estupro de Diná (Gênesis 34) pelo príncipe de mesmo nome da cidade, Siquém filho de Hamor. Quando Siquém propôs casamento com Diná, os filhos de Jacó Simeão e Levi enganaram os homens da cidade. Os irmãos persuadiram os siquemitas a serem circuncidados (brit-milah) como requisito para o casamento. Simeão e Levi massacraram os homens enquanto convalesciam da circuncisão. Temendo retaliação, Jacó fugiu para Betel, enterrando os deuses levados por seu clã sob o terebinto.

Na saída do Egito, os israelitas trouxeram o corpo mumificado de José e o enterraram em uma tumba perto da cidade (Josué 24:32). 

Em Siquém, Josué renovou a aliança (berit) do Sinai com os líderes tribais de Israel, talvez venha aí a designação do santuário do Deus da Aliança (El-Berit) ou Senhor da Aliança (Baal-Berit) (Josué 24 24). No loteamento da terra, foi reservada como uma cidade de refúgio levítica coatita (Josué 21:20-21). O santuário de Siquém pode ter sido o primeiro local centralizado de culto dos israelitas (Noth, 1996).

No período dos juízes, Abimeleque, filho de Gideão, vivia com uma concubina em Siquém. Com apoio dos siquemitas, conseguiu ser aclamado rei (Juízes 9:1-6) e matou seus potenciais concorrentes: seus irmãos, exceto a Jotão que escapou. A ascenção de Abimeleque, custeada pelo templo Baal-Berit durou somente três anos, pois o povo de Siquém decidiu substituí-lo por Gaal, filho de Edede. Abimeleque atacou a cidade e seu templo-fortaleza de Baal Berit, onde boa parte da população se refugiou. Abimeleque pôs fogo no templo.

Contrário ao senso comum, a cidade principal dos samaritanos nunca foi Samaria, mas Siquém, dada sua proximidade com o Monte Gerezim. No século II a.C. o historiador e poeta samaritano Teodoto escreveu um épico sobre Siquém, dos quais quarenta e sete hexâmetros são preservados por Eusébio.

Roboão teria sido coroado rei em Siquém (1 Reis 12:1), mas logo a cidade serviu como capital de Jeroboão (1 Reis 12:25), antes da transferência da capital do Reino do Norte para Samaria.

Os salmos 60:6-8 e 108:7-9 mencionam Siquém e outras localidades potentes na vizinhança.

Em seus relatos da perseguição aos israelitas por Antíoco Seleuco (c.170-164 a.C), Josefo cita uma suposta carta ao rei pedindo não serem perseguidos  (Ant Jud 12:257–264). Nessa carta alegam que seriam “sidônios em Siquém”, não israelitas, embora observassem o sábado. Requisitavam que o templo no Monte Gerizim fosse dedicado a Zeus Hellenios. Josefo identifica esses sidônios com os samaritanos. A carta, suas premissas e suas implicações são disputadas pela historiografia. Os “sidônios em Siquém” poderiam ser invenção de Josefo, subtefúgio de uma comunidade perseguida ou mesmo uma colônia distinta de fenícios, como havia em Marisa e Jamnia do Mar da Galileia.

Já na época de Jesus Siquém não existia mais, pois fora destruída por João Hicarno no início do século II a.C. No entanto, Sicar (João 4:5-15), onde havia um poço cavado por Jacó, aparenta ser uma aldeia próxima às ruínas da antiga Siquém.

Na primeira Guerra Judaico-Romana a aldeia próxima Siquém foi destruída pelos romanos (67 d.C.), sendo refundada com o nome de Flavia Neapolis (72 d.C.). Do nome Neápolis deriva a atual designação Nablus.

BIBLIOGRAFIA

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Diná

Diná, em hebraico דִּינָה‎, “julgada”, foi uma filha de Leia e Jacó. Foi estuprada por Siquém, um príncipe da cidade homônima, despertando a vingança de Simeão e Levi. (Gn 34).

A última menção de Diná na Bíblia aparece quando a família de Jacó se prepara para descer ao Egito. É listada entre os 70 membros da família que desceram juntos (Gênesis 46:15).

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