Mulher Samaritana

A Mulher Samaritana ou a Mulher do Poço é uma samaritana que se encontrou com Jesus em Sicar (Jo 4). Teria tido cinco maridos e seu atual companheiro não era seu marido. Jesus prometeu a água viva e a mulher relata a inimizade entre samaritanos e judeus, a esperança messiânica e, por fim, crê em Jesus. Ela refer-se a “este monte”, Gerizim, reverenciado pelos samaritanos, e ao campo que Jacó deu a José (Gn 33:18-20; 48:22).

Leia

Leia ou Lia, em hebraico לֵאָ֔ה e em grego Λεία, era irmã mais velha de Raquel, filhas de Labão (Gn 29:16). Aparece em Gn 29-31 dentro do ciclo de Jacó em relação de disputa com sua irmã.

O significado de seu nome é incerto. É especulado que signifique impaciente ou seja cognato do acadiano littu, vaca selvagem.

Leia é descrita como de olhos ternos, talvez implique em estrabismo (Gn 29:17). Ela foi contrastada com sua irmã que era bonita.

Jacó se enamorou por Rachel e sujeitou-se a sete anos de servidão para pagar o preço da noiva. No entanto, Labão enganou Jacó para se casar com Leia (Gn 29:23-24). Depois, Jacó concordou em trabalhar mais sete anos para ter Raquel como segunda esposa. Assim, Leia foi a primeira esposa de Jacó, de quem também era prima, pois sua mãe, Rebeca, era irmã de Labão (Gn 29:12-13).

Teve quatro filhos com Jacó: Rubem, Simeão, Levi e Judá. Mediante sua serva Zilpa foi mãe de mais dois: Gade e Asser (29:32; 30:10, 12).

Enquanto foi enterrada perto de Belém, Leia foi sepultada em Macpela, onde Jacó seria sepultado (49:31).

A única menção a Leia fora de Gênesis ocorre em Rute 4:11, no qual Leia é celebrada como uma das que edificaram a casa de Israel.

E todo o povo que estava na porta e os anciãos disseram: Somos testemunhas; o Senhor faça a esta mulher, que entra na tua casa, como a Raquel e como a Leia, que ambas edificaram a casa de Israel; e há-te já valorosamente em Efrata e faze-te nome afamado em Belém.

BIBLIOGRAFIA

BELLIS, Alice Ogden. “A Sister Is a Forever Friend: Reflections on the Story of Rachel and Leah.” The Journal of Religious Thought 55, no. 2 (1999): 109.

CAMÕES, Lúis de. “Sete anos de pastor”. Lírica. Introdução e notas de Aires da Mata Machado Filho. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1982

CHWARTS, Suzana. “Dá-me filhos senão estou morta: a concepção na Bíblia Hebraica.” Arquivo Maaravi: Revista Digital de Estudos Judaicos da UFMG 2.2 (2008):135-138.

CLAASSENS, Juliana. “Reading Trauma Narratives : Insidious Trauma in the Story of Rachel, Leah, Bilhah and Zilpah (Genesis 29-30) and Margaret Atwood’s The Handmaid’s Tale.” Old Testament Essays 33, no. 1 (2020): 10-31.

JEFFRESS, Jean. “Three’s Company Too: A Midrash on Everyday Misogyny, Leah, Rachel, Jacob, and the Comedy of Errors of This Hebrew Bible Dysfunctional Family.” Review and Expositor (Berne) 115, no. 4 (2018): 572-76.

JENSEN, Aaron Michael. “The Appearance of Leah.” Vetus Testamentum 68, no. 3 (2018): 514-18.

RABOW, Jerry. The Lost Matriarch : Finding Leah in the Bible and Midrash. Lincoln: JPS, 2014.

SEELENFREUND, Morton H, and Stanley Schneider. “Leah’s Eyes.” The Jewish Bible Quarterly 25, no. 1 (1997): 18-22.

STARR‐MORRIS, Ashley. “Leah and Hagar.” Cross Currents (New Rochelle, N.Y.) 69, no. 4 (2019): 384-401.

Siquém

Siquém, em hebraico שְׁכֶם, shekhem, “ombro”, é uma cidade mencionada várias vezes e cenário de muitos eventos na Bíblia. Localiza-se no moderno sítio arqueológico de Tel Balata, próximo a Nablus na Palestina.

Estava localizada na região central de Canaã (e depois no termo de Efraim), na passagem entre o Monte Ebal e Monte Gerizim. Controlava uma importante rota comercial e tinha um vale fértil a leste.

A ocupação pré-histórica como cidade é datada do calcolítico (4o milênio). Da idade do Bronze restam vestígios de um templo-fortaleza dedicado a Baal-Berit (o Senhor da Aliança) (Jz 8:33; 9:4,46). Artefatos com inscrições proto-cananeias e algumas tabuletas em escrita acadiana atestam a conexão da cidade com outras nações do Antigo Oriente Médio. Seu nome aparece na estela da Sebek-khu (c.1880-1840 a.C.) e nas Cartas de Amarna (XIII a.C.). A Carta de Siquém (século XIV a.C.) com a cobrança dos honorários de um professor é a mais antiga atestação de escolas e atividades escribais no território de Canaã.

Siquém foi a primeira cidade visitada por Abraão em sua migração de Harã (Gn 12:6). Sob a grande árvore (terebinto) de Moré em Siquém Deus apareceu a Abraão. Nesse terebinto Abraão edificou um altar e ofereceu sacrifícios.

A passagem de Abraão por Siquém constitui uma dificuldade bíblica. No discurso de Estevão em Atos 7:2-53, Abraão, ao invés de Jacó, comprou o terreno em Siquém dos filhos de Hamor (cf. At 7:16 com Gn 33:18-19; 23:3-20).

Siquém figura com mais destaque nas tradições associadas a Jacó. Em seu retorno de Padam-Aram comprou um lote de terra em Canaã próximo a Siquém, onde ergueu um altar a El Elohe Israel.

Enquanto a família de Jacó vivia estacionada perto da cidade, ocorreu o estupro de Diná (Gn 34) pelo príncipe de mesmo nome da cidade, Siquém filho de Hamor. Quando Siquém propôs casamento com Diná, os filhos de Jacó Simeão e Levi enganaram os homens da cidade. Os irmãos persuadiram-nos a serem circuncidados (brit-milah) como requisito para o casamento. Simeão e Levi massacraram os homens enquanto convalesciam da circuncisão. Temendo retaliação, Jacó fugiu para Betel, enterrando os deuses levados por seu clã sob o terebinto.

Na saída do Egito, os israelitas trouxeram o corpo mumificado de José e o enterraram em uma tumba perto da cidade (Js 24:32). 

Em Siquém, Josué renovou a aliança (berit) do Sinai com os líderes tribais de Israel, talvez venha aí a designação do santuário do Deus da Aliança (El-Berit) ou Senhor da Aliança (Baal-Berit) (Js 24). No loteamento da terra, foi reservada como uma cidade de refúgio levítica coatita (Js 21:20-21). O santuário de Siquém pode ter sido o primeiro local centralizado de culto dos israelitas (Noth, 1996).

Bo período dos juízes, Abimeleque, filho de Gideão, vivia com uma concubina em Siquém. Com apoio dos siquemitas, conseguiu ser aclamado rei (Jz 9:1-6) e matou seus potenciais concorrentes: seus irmãos, exceto a Jotão que escapou. A ascenção de Abimeleque, custeada pelo templo Baal-Berit durou somente três anos, pois o povo de Siquém decidiu substituí-lo por Gaal, filho de Edede. Abimeleque atacou a cidade e seu templo-fortaleza de Baal Berit, onde boa parte da população se refugiou. Abimeleque pôs fogo no templo.

Contrário ao senso comum, a cidade principal dos samaritanos nunca foi Samaria, mas Siquém, dada sua proximidade com o Monte Gerezim. No século II a.C. o historiador e poeta samaritano Teodoto escreveu um épico sobre Siquém, dos quais quarenta e sete hexâmetros são preservados por Eusébio.

Roboão teria sido coroado rei em Siquém (1Re 12:1), mas logo a cidade serviu como capital de Jeroboão (1Re 12:25), antes da transferência da capital do Reino do Norte para Samaria.

Os salmos 60:6-8 e 108:7-9 mencionam Siquém e outras localidades potentes na vizinhança.

Em seus relatos da perseguição aos israelitas por Antíoco Seleuco (c.170-164 a.C), Josefo cita uma suposta carta ao rei pedindo não serem perseguidos  (Ant Jud 12:257–264). Nessa carta alegam que seriam “sidônios em Siquém”, não israelitas, embora observassem o sábado. Requisitavam que o templo no Monte Gerizim fosse dedicado a Zeus Hellenios. Josefo identifica esses sidônios com os samaritanos. A carta, suas premissas e suas implicações são disputadas pela historiografia. Os “sidônios em Siquém” poderiam ser invenção de Josefo, subtefúgio de uma comunidade perseguida ou mesmo uma colônia distinta de fenícios, como havia em Marisa e Jamnia do Mar da Galileia.

Já na época de Jesus Siquém não existia mais, pois fora destruída por João Hicarno no início do século II a.C. No entanto, Sicar (Jo 4:5-15), onde havia um poço cavado por Jacó, aparenta ser uma aldeia próxima às ruínas da antiga Siquém.

Na primeira Guerra Judaico-Romana a aldeia próxima Siquém foi destruída pelos romanos (67 d.C.), sendo refundada com o nome de Flavia Neapolis (72 d.C.). Do nome Neápolis deriva a atual designação Nablus.

BIBLIOGRAFIA

Gottwald, Norman K. The Tribes of Yahweh: A Sociology of the Religion of Liberated Israel 1250-1050 BCE. London: SCM Press, 1979.

Hansen, David G. “Shechem: Its Archaeological and Contextual Significance.” Bible and Spade 18 (2005): 33–43.

Lewis, Theodore J. “The Identity and Function of El/Baal Berith.” Journal of Biblical Literature 115 (1996): 401–23

Noth, Martin. The History of Israel. London: Xpress Reprints, 1996.

Wright, G. Ernest. Shechem: The Biography of a Biblical City. New York: McGraw-Hill, 1964.

Diná

Diná, em hebraico דִּינָה‎, “julgada”, foi uma filha de Leia e Jacó. Foi estuprada por Siquém, um príncipe da cidade homônima, despertando a vingança de Simeão e Levi. (Gn 34).

A última menção de Diná na Bíblia aparece quando a família de Jacó se prepara para descer ao Egito. É listada entre os 70 membros da família que desceram juntos (Gênesis 46:15).

BIBLIOGRAFIA

Bechtel, Lyn M. “What If Dinah Is Not Raped? (Genesis 34).” Journal for the Study of the Old Testament 19, no. 62 (1994): 19–36. doi:10.1177/030908929401906202.

Blyth, Caroline. “`Listen to My Voice’: Challenging Dinah’s Silence in Genesis 34.” The Expository Times 120, no. 8 (2009): 385–87.

Blyth, Caroline. “Terrible Silence, Eternal Silence: A Feminist Re-Reading of Dinah’s Voicelessness in Genesis 34.” Biblical Interpretation: A Journal of Contemporary Approaches 17, no. 5 (2009): 483–506.

Johnson, Janell. “Negotiating Masculinities in Dinah’s Story: Honor and Outrage in Genesis 34.” Review & Expositor 115, no. 4 (2018): 529–41. doi:10.1177/0034637318798362.

Klopper, Frances. “Rape and the Case of Dinah : Ethical Responsibilities for Reading Genesis 34.” Old Testament Essays 23, no. 3 (2010): 652–65.

Rofé, Alexander. “Defilement of Virgins in Biblical Law and the Case of Dinah (Genesis 34).” Biblica 86, no. 3 (2005): 369–75.

Ruit, Gavi S. “Rabbinic Commentaries on Genesis 34 and the Construction of Rape Myths.” Journal of Jewish Ethics 3, no. 2 (2017): 247–66.

Shemesh, Yael. “Rape Is Rape Is Rape: The Story of Dinah and Shechem (Genesis 34).” Zeitschrift FÜr Die Alttestamentliche Wissenschaft 119, no. 1 (2007): 2–21.

Thomson, H. “Hermeneutical Reflections on Genesis 34: The Rape of Dinah.” Saint Marks Review 197, no. 197 (2003): 39–40.

Bilá

  1. Bilá, em hebraico בִּלְהָה, “despreocupada, modesta, simples”. Foi a serva de Raquel com a qual Jacó teve os filhos Dã e Naftali. (Gn 29-35). Ela foi um instrumento na luta de fertilidade entre Raquel e sua irmã Lia, esposas de Jacó.

Outro filho de Jacó, Rubem, dormiu com Bilá; considerado um ato incestuoso (Gn 35:22).

2. Bilá também era uma povoação no sul de Judá (1 Crônicas 4:29). É chamada Balá em Josué 19:3, no território da tribo de Simeão.

Jacó

Nome de duas pessoas na Bíblia.

  1. Jacó é um dos patriarcas hebreus. Irmão gêmeo mais novo de Esaú, filho de Isaac e Rebeca, pai de Diná e de doze filhos, patriarcas das tribos.

O nome de Jacó foi mudado para Israel (Gn 32:28; 35:10). Deus renova com Jacó a promessa e aliança feita a Abraão e Isaque, de terra e descendência (Gn 28:13-15). Jacó experimentou manifestações divinas (Gn 28:10-22; 32:3-22). Casou-se com Leia e Raquel. Acompanhou os filhos ao Egito, onde morreu (Gn 49:28-50:14).

2. O pai de José, marido de Maria (Mt 1:15-16).

Raquel

Raquel, em hebraico רָחֵל‎, ovelha, em grego Ῥαχήλ, filha mais nova de Labão, irmã de Leia e segunda esposa de Jacó. Aparece no ciclo de Jacó (Gn 29-35) como sua esposa amada. Seria a mãe de José e Benjamim.

Jacó enamorou-se de Raquel (Gn 29), mas é engando a casar-se com sua irmã mais velha, Leia. Mais sete anos Jacó serviu ao sogro Labão para ter Raquel como esposa.

Quando a família de Jacó foge de Labão, Raquel rouba os terafim de seu pai (Gn 31:19).

Raquel, como Sara e Rebeca, não conseguia engravidar. Então, Raquel tornou-se mãe de Dã e Naftali mediante sua serva Bila.

Raquel é o primeiro caso relacionado de morte na gravidez na Bíblia, morrendo no nascimento de Benjamim. Foi sepultada em um lugar próximo a Belén, diferente de outros patriarcas e matriarcas sepultados em Macpela. (Gn 35:16-20).

Fora de Gênesis, Raquel aparece quatro vezes na Bíblia. Em Rute 4:11, Raquel é mencionada com Leia como as matriarcas do povo de Israel. Em 1 Sm 10:2, Samuel unge Saul e o instrui a encontrar dois homens perto do túmulo de Raquel. Em Jer 31:15 é retratada chorando pelo destino de seus filhos, os descendentes perdidos de Efraim, filho de José – as 10 tribos do norte dizimadas pelos assírios. Em Mateus 2:18, a alusão de Raquel chorando por seus filhos de Jer 31:15 refere-se ao massacre dos inocentes por Herodes.

BIBLIOGRAFIA

BELLIS, Alice Ogden. “A Sister Is a Forever Friend: Reflections on the Story of Rachel and Leah.” The Journal of Religious Thought 55, no. 2 (1999): 109.

CLAASSENS, Juliana. “Reading Trauma Narratives : Insidious Trauma in the Story of Rachel, Leah, Bilhah and Zilpah (Genesis 29-30) and Margaret Atwood’s The Handmaid’s Tale.” Old Testament Essays 33, no. 1 (2020): 10-31.

SCHNEIDER, Tammi. Mothers of Promise: Women in the Book of Genesis. Grand Rapids: Baker Academic, 2008.

WOLOWELSKY, Joel B. “Rachel’s Burial.” The Jewish Bible Quarterly 35, no. 2 (2017): 111-14.